Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Soares Mendes (PPGCine-UFF)

Minicurrículo

    Doutoranda no PPGCine-UFF, recebendo bolsa da FAPERJ / CAPES Brasil. Mestra em Ciências Sociais pelo PPGECsA/UnB (antigo PPG/CEPPAC). Possui graduação em Publicidade e Propaganda pela UnB e em Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. É uma das idealizadoras e realizadoras do podcast de divulgação científica da área de Humanas, o Dazumana (www.dazumana.com).

Ficha do Trabalho

Título

    Bruxas da Disney: como se constrói a atmosfera da maldade

Formato

    Presencial

Resumo

    Selecionamos filmes da franquia Disney-Princesa com personagens bruxas para entender como elas se expressam nos diálogos e atmosfera. Analisamos trechos da Rainha Má, Malévola, Úrsula, Mamãe Gothel e uma bruxa sem nome (em Valente). Sua maldade e poder são retratados a partir da localização dos seus covis (para baixo) e de luzes coloridas e explosões (nos feitiços). O mal explícito é atualizado como cinismo. E duas bruxas fazem números musicais que ditam os comportamentos para as heroínas.

Resumo expandido

    Analisamos sequências de 5 filmes da Disney com personagens bruxas, vendo como essas figuras geram sentidos ao se expressar e a partir da atmosfera fílmica. As personagens e obras são Rainha Má da Branca de Neve e os sete anões (1937, David Hand), Malévola de A Bela Adormecida (1959, Clyde Geronimi), Úrsula de A Pequena Sereia (1989, Ron Clements e John Musker), bruxa sem nome de Valente (2012, Mark Andrews e Brenda Chapman) e Mamãe Gothel de Enrolados (2010, Nathan Greno e Byron Howard). O recorte se baseou na lista oficial da marca Disney-Princesa, cujas histórias mobilizam audiências – a franquia gerou U bilhões com vendas mundiais (GOUDREAU, 2012).
    Oficialmente são 12 princesas (DISNEY, s.d.) e partimos de seus filmes (só as primeiras animações lançadas para cada princesa e elenco) para identificar as respectivas bruxas. Buscamos as que foram assim denominadas e aquelas que usaram o imaginário social: a associação com o diabo (BYINGTON, 2014), o desejo de praticar o maleficium ou mal (RUSSELL et al., 2019) e o rapto de crianças (CALADO, 2005).
    Escolhemos apenas personagens femininas devido à relação construída entre bruxaria e esse gênero, tanto que 85% dos executados na perseguição histórica eram mulheres (MURARO, 2014). Italiano e Mitre (2022) falam que a figura passou por tantas mudanças que no audiovisual ela traz a ambivalência de visões misóginas e de autonomia.
    No caso da Disney, Davis (2011) critica que as personagens fortes e maduras sexualmente são representadas como frustradas, sanguinárias e bruxas. Para compreender isso, analisamos o conteúdo verbal, a narrativa e a atmosfera dos filmes.
    Como explica Gil (2005), a atmosfera é sensível e afetiva. Ainda quando se refere ao estado subjetivo interior, se relaciona ao externo com elementos visuais e sonoros. Pode ser compreendida como atmosfera plástica (constituída pelas imagens e formas) e dramática (abrangendo a diegese), com ambas conectadas.
    Para Spadoni (2020) atmosfera e estilo são indissociáveis, compreendendo espaço, som, fotografia, diálogos e edição. Todas as partes da obra audiovisual contribuem para criar atmosfera, que não é mero pano de fundo do filme, mas a sua totalidade.
    Nessa perspectiva, faz sentido a recorrência de marcadores visuais como luzes coloridas, explosões e fumaças para identificar essas personagens. Isso ocorre com a Rainha Má, Malévola e Úrsula. Em princípio, a bruxa sem nome e Gothel estão em uma casa, com iluminação morna da janela, diferente das outras personagens em espaços que podem ser descritos como covis. Mas, quando a bruxa sem nome realiza seu feitiço, vemos as já reconhecidas explosões no caldeirão.
    Os covis são apresentados como estando embaixo, com personagens se deslocando nesse sentido ou o local aparecendo na base do enquadramento. A exceção é com Gothel, que se movimenta para cima, puxada pelos cabelos da Rapunzel. Como a torre é a moradia da heroína, há um contraste com a antagonista vinda debaixo.
    Outro ponto comum à maioria é a caracterização como idosa. Para a Rainha Má e Gothel, os cabelos grisalhos e outras marcas estão associados a uma transformação. A primeira se disfarça de velha e a segunda rejuvenesce pela magia das madeixas da princesa.
    Com a cronologia das obras, vemos uma atualização na forma de mostrar a maldade (menos da bruxa sem nome, que é aliada). De início, temos a Rainha Má explícita, que verbaliza a pretensão de matar a heroína. A Malévola usa ironia, chamando a maldição de presente. O cinismo aumenta com a Úrsula, cuja música diz que ela ajuda almas desafortunadas (seus apartes revelam sua real intenção). E Gothel canta que ama a Rapunzel, porém ações revelam sua intenção (em vez de beijar a testa da outra, beija seus cabelos, fonte de juventude).
    Notamos algo novo nos números musicais de Úrsula e Gothel. Elas criticam e ditam os comportamentos para as protagonistas, evidenciado expectativas de gênero. Rapunzel não deve engordar e a sereia não pode tagarelar, porque homens não gostam disso.

Bibliografia

    BYINGTON, C. O martelo das feiticeiras à luz de uma teoria simbólica da história. In: KRAMER, H.; SPRENGER, J. O martelo das feiticeiras. RJ: Rosa dos Tempos, 2014.
    CALADO, E. O encantamento da bruxa. JP: Idéia, 2005.
    DAVIS, A. Good girls & Wicked witches. London: JLP, 2011.
    DISNEY. Disney Princess. S.d., site. Disponível em: . Acesso 14 mar 2023.
    GIL, I. A atmosfera como figura fílmica. Actas do III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO. V.I, 2005.
    GOUDREAU, J. Disney Princess Tops List Of The 20 Best-Selling Entertainment Products. Jersey City, 2012.
    ITALIANO, C.; MITRE, T. Reinventando a bruxa no cinema. In: Mulheres mágicas. BH: Amarillo, 2022.
    MURARO, R. Breve introdução histórica. In: KRAMER, H.; SPRENGER, J. O martelo das feiticeiras. RJ: Rosa dos Tempos, 2014.
    RUSSELL, J.; ALEXANDER, B. História da Bruxaria. São Paulo: Aleph, 2019.
    SPADONI, R. What is Film Atmosphere? In: Quarterly Review of Film and Vídeo. Philadelphia, v.37, n.1, 2020.