Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ilana Feldman (UFRJ)

Minicurrículo

    Ilana Feldman é Professora Adjunta na Escola de Comunicação da UFRJ. Tem pós-doutorado em Meios e Processos Audiovisuais pela USP e em Teoria Literária pela UNICAMP. É doutora em cinema pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com passagem pelo Departamento de Filosofia, Artes e Estética da Universidade Paris 8.

Ficha do Trabalho

Título

    Da cena da justiça à cena da palavra: cinema e testemunho

Formato

    Remoto

Resumo

    Esta comunicação pretende retomar a assombrosa história da filmagem do julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann, em 1961, para, em cotejo com diversas repercussões no campo do cinema e do debate filosófico, problematizar o estatuto sempre paradoxal do testemunho dos sobreviventes e a passagem da cena da justiça à cena da palavra.

Resumo expandido

    O julgamento do oficial nazista Adolph Eichmann em Israel, em 1961, inaugura, segundo a historiadora Annette Wieviorka, uma “era da testemunha” em países como França, Estados Unidos e Israel, quando o testemunho, sobretudo aquele decorrente de genocídios perpetrados por crimes de Estado, passa a reivindicar um lugar privilegiado no espaço público e na formação das identidades individuais e nacionais.

    Disparador nos sobreviventes de um desejo ardente, e bastante novo, de testemunhar e narrar o que fora vivido nos campos de extermínio nazistas (lembremos que o silêncio, a vergonha e a culpa daqueles que voltaram dos campos da morte predominavam), o processo Eichmann contribuiu, de maneira incontornável, para o aparecimento de uma nova paisagem mnemônica no âmbito dos mídia, da cultura e da política.

    Com o processo Eichmann, sabemos, pela primeira vez um julgamento torna-se objeto de pedagogia, transmissão e construção de uma memória coletiva. Pela primeira vez, nos conta com detalhes Annette Wieviorka e a historiadora das imagens Sylvie Lindeperg, um julgamento, com meses de duração, é integralmente filmado e difundido em redes de televisão internacionais.

    Esta comunicação pretende retomar a assombrosa história dessa filmagem para, em cotejo com diversas repercussões no campo do cinema e do debate filosófico, problematizar o estatuto sempre paradoxal do testemunho, sua dimensão cênica e a passagem da cena da justiça à cena da palavra. A partir da reflexão sobre a presença dos arquivos, ou a ausência deles, em filmes como “Un spécialiste” (Eyal Sivan, França, 1999), “Memories of the Eichmann Trial” (David Perlov, Israel, 1979), “Shoah” (Claude Lanzmann, França, 1985) e “Hannah Arendt” (Margarethe von Trotta, Alemanha, 2012), pretendemos avaliar qual o lugar do testemunho hoje, em um contexto em que distintas violências de Estado nos convocam a abrir os olhos para a violência do mundo inscrita nas imagens.

Bibliografia

    ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

    DELAGE, Christian. La vérité par l’image – de Nuremberg au procès Miloseviv. Paris: Denoël, 2006.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Remontagens do tempo sofrido. O olho da história, II. Trad. Vera Casa Nova e Marcia Arbex. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2018.

    FELDMAN, Ilana. “De Holocausto (1978) a Chernobyl (2019): o que pode o audiovisual face a passado traumático e a um futuro ameaçado?” In: Alceu – Revista de Comunicação, Cultura e Política. PUC-Rio, v. 21 n. 43, 2021.

    LINDEPERG, Sylvie; WIEVIORKA, Annette. “Les deux scènes du procès Eichmann”. In: Annales. Histoire, Sciences Sociales, 2008/6 (63e année), p. 1249-1274.

    WIEVIORKA, Annette. L’ère du temoin. Paris: Hachette, 2009.
    _________. “Le témoin filmé”. In: FRODON, Jean-michel. Le cinema et la Shoah. Paris: Éditions Cahiers du Cinéma, 2007.