Ficha do Proponente
Proponente
- Renata de Andrade Ribeiro (UFRJ)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de pós-graduação em Artes da Cena/ECO/UFRJ com especialização em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação pelo IFRJ, graduação em Letras pela UFRJ, Formação Técnica em Teatro pela Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena e em Cinema pela IFRS, UFV e Encontrarte Audiovisual. Atua na área de cinema e teatro e realiza pesquisa na interseção entre arte e tradições populares. Seus últimos trabalhos são Fios da Seda (2021) e Ere Muyá: Histórias da Cobra Grande (2020).
Ficha do Trabalho
Título
- Maracatu, meu Amor: processo de construção de roteiro cinematográfico
Formato
- Presencial
Resumo
- Relato de pesquisa em desenvolvimento junto ao PPGAC/UFRJ que investiga um processo de criação coletiva de um roteiro cinematográfico ficcional. Inspirado em vivências de um grupo de colaboradores formado por integrantes de Nações de Maracatu de Baque Virado, o roteiro se constrói e é documentado através de encontros geridos pela pedagogia do dispositivo.
Resumo expandido
- Como artista, pesquisadora e aprendiz da tradição do Maracatu de Baque Virado, relato parte de um projeto de criação cinematográfica de base etnográfica realizada junto ao PPGAC/UFRJ em parceria com um grupo de colaboradores formado por maracatuzeiros. Considerando o roteiro como uma das possíveis bases desse processo, elegeu-se essa fase de criação para ser desenvolvida durante o projeto.
Conforme aponta Carrière (2006), o roteiro não nasceu junto ao cinema, mas foi moldando-se conforme as necessidades que as rápidas transformações técnicas e estéticas do meio audiovisual exigiam. Para Eisenstein (1990), o argumento configura-se como uma expressão do pensamento cinematográfico que foi chamado para “incorporar a filosofia e a ideologia do proletariado vitorioso” (EISENSTEIN, 1990, p.24). Para Doc Comparato (1949) “o roteiro é o princípio de um processo visual, e não o final de um processo literário” (COMPARATO, 1949, p.20). Suso Cecchi d’Amico, roteirista italiana, conforme relato de Doc Comparato (1949, p.21), compara-o a uma crisálida que se converterá em borboleta. Tal qual uma lagarta já possui em si a essência daquilo que dará origem à sua nova forma, o roteiro contém em si imagens e sons que serão transformados em filme após longo processo que culmina não nas salas de edição – onde a história ganha forma – mas ao entrar em contato com o público que, a ele atribui sentido.
Concernente ao desejo de Rocha (1981) de realizar uma produção criativa que não repita o discurso colonizador sobre a cultura brasileira, consideramos anexar à discussão o questionamento trazido por Taylor (2013) sobre que histórias, memórias, lutas e tensões se tornariam visíveis se as pesquisas afastarem o olhar de documentos literários e históricos para ver através dos comportamentos performatizados. Processos de criação como o projeto Vídeo nas Aldeias, criado por Vincent Carelli e o Cinema de grupo, realizado pelo Laboratório Kumã de Experimentação e Pesquisa em Imagem e Som da UFF trazem algumas respostas práticas a esse questionamento. Através de recursos audiovisuais e de um método de produção compartilhada, realizam um trabalho de caráter antropológico e cosmopolítico. Além disso, aproximam as funções de espectador e autor em cinema, com a potência de expressar singularidades e, ao mesmo tempo, realizar um trabalho coletivo.
Envolvendo uma comunidade em seus trabalhos, de forma voluntária, durante o ano todo, o maracatu nação, tradição de matriz afro-brasileira que ocupa performaticamente as ruas de Recife, conjuga dança, percussão e canto fundamentados por religiões afroindígenas como Candomblé e Jurema. As pessoas que mantém essa cultura vivem, em sua maioria, em comunidades periféricas e formam um público ao qual a indústria de entretenimento alcança, porém, ao mesmo tempo – salvo em raras exceções – tende a excluir. No entanto, sua performatividade, aliada aos símbolos ancestrais que porta e à forma intrínseca com que expressa com beleza um cotidiano em que é colocado à margem, reclama, ao mesmo tempo em que atesta, seu protagonismo.
Almejando a criação de um roteiro cinematográfico que não apenas se inspire em histórias de maracatuzeiros, mas que os convide a intervir nesse processo, pretende-se trabalhar com um espaço de criação gerido pela invenção coletiva de dispositivos. Assim, nos encontros com o grupo de colaboradores, a figura do cineasta/pesquisador afasta-se do centro do processo para atuar como um mediador de experiências compartilhadas.
O primeiro encontro com o grupo de colaboradores está previsto para ocorrer em Julho de 2022. Registros e relatos desse momento serão a fonte para a criação do primeiro tratamento de roteiro do projeto. Pretende-se apresentar nessa comunicação, uma análise sobre como as contribuições do primeiro encontro de colaboradores passam a integrar o roteiro em criação e refletir sobre como essa escolha metodológica altera os rumos da pesquisa.
Bibliografia
- CARRIÈRE, Jean-Claude e BONITZER, Pascal. Prática do roteiro cinematográfico. Tradução de Teresa de Almeida. São Paulo: JSN Editora, 1996.
COMPARATO, D. Da Criação ao Roteiro. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, p.1 a 25.
EISENSTEIN, Sergei. A Forma do Filme. Trad. Teresa Otoni. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1990.
GUERRA-PEIXE, C. Maracatus do Recite. Recife, Irmãos Vitale/ Secretaria de Cultura da Cidade do Recite, 1980.
MIGLIORIN, Cezar; RESENDE, Douglas; CID, Viviane; MEDRADO, Arthur. Cinema de grupo, notas de uma prática entre educação e cuidado. Revista GEMInIS, v. 11, n. 2, p. 149-164, mai./ago. 2020
REAL, K. O folclore no carnaval do Recite. Recife, Massangana, 1990.
TAYLOR, D. O Arquivo e o Repertório: performance e memória cultural nas Américas. Tradução de Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.