Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    DANILO LUNA DE ALBUQUERQUE (UAM)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM/SP). Mestre em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atua como pesquisador na área da comunicação, em especial no âmbito do cinema do audiovisual, interessado em investigações voltadas à análise fílmica, ao estilo cinematográfico, ao dialogismo e à teoria narrativa.

Ficha do Trabalho

Título

    O retorno em Velázquez: pensamento e forma no cinema de Jorge Furtado.

Seminário

    Teoria de Cineastas

Formato

    Presencial

Resumo

    Em Velázquez e a teoria quântica da gravidade (2011), Furtado explora o uso das colagens e da voz over como método de construção cinemato1gráfica. O uso desses procedimentos acena um retorno ao estilo que destacou o cineasta gaúcho dentro da história do cinema brasileiro. Esta comunicação pretende examinar o uso desses marcadores estilísticos no curta metragem e, de forma complementar, a partir de entrevistas, discute o pensamento e o modo de elaboração fílmica por trás da obra do diretor.

Resumo expandido

    Os primeiros filmes realizados pelo cineasta gaúcho Jorge Furtado ficaram reconhecidos por uma poética fílmica (BORDWELL, 2007) muita peculiar: o uso intenso de fragmentos intermidiáticos incorporados à montagem (colagens); narrações em voz over bastante marcadas; e a utilização de recursos do campo cômico para entonar a produção de sentido dos filmes. Esses marcadores estilísticos são bastante pronunciados nas obras do diretor entre 1984 e 2004, e depois passam a ser esparsos ou não simultâneos nas produções seguintes.

    Em entrevista, Jorge Furtado e o Giba Assis (montador da Casa de Cinema de Porto Alegre), comentam a ideia de que, após esse período, houve uma mudança proposital na maneira de estruturar as obras: “(…)o Jorge ficou muito com o pé atrás de ficar repetindo. Chegou ao ponto dele dizer que a única coisa que sabia do próximo filme é que não teria narração voz over. Porque todos os filmes dele tinham voz over”.

    No filme seguinte, Saneamento básico (2007), já há um arrefecimento da estruturação poética usada por ele até então. A voz over não é mais usada como elemento organizador do discurso fílmico, e há quase uma inexistência do uso de colagens incorporadas à montagem. Os próximos filmes do autor — Até a vista (2010), Homens de bem (2011), Doce de mãe (2012), Real beleza (2015) e Rasga coração (2018) – , também não possuem de maneira substancial as escolhas estilísticas que eram tão reconhecíveis nos primeiros anos de sua carreira.

    Há, no entanto, uma exceção nesse período. Produzido para o 4 º Cel.u.cine, Festival de Cinema para Mídias Digitais (2011), o curta-metragem ficcional Velázquez e a teoria quântica da gravidade, é um retorno de Jorge Furtado à configuração estilística que demarca o primeiro ciclo de sua carreira.

    No filme, um jovem cientista, ao caminhar por uma exposição de arte, inicia uma reflexão sobre o funcionamento da ciência, da arte, e das duas grandes leis que explicam o universo (a mecânica quântica e teoria geral da relatividade). Ao se deparar com o quadro As meninas, de Velázquez (1656), e analisar cada parte da obra, afirma ter uma ideia sobre uma teoria quântica da gravidade (fusão das duas anteriores), mas é interrompido por uma amiga acaba esquecendo aquele o insight brilhante.

    Com apenas dois atores e três minutos de duração a montagem fílmica encadeia uma série de colagens, à lá Ilha das Flores, num ritmo acelerado para ilustrar cada um dos pensamentos do jovem cientista, apresentados pela narração.

    Nos interessa nesta comunicação, portanto, investigar os caminhos metodológicos utilizados pelo cineasta gaúcho para compor a tessitura cinematográfica em Velazquez e a teoria quântica da gravidade, colocando-os em diálogo com a própria reincidência e persistências de tais procedimentos em outras obras da filmografia de Jorge Furtado.

    Neste percurso, abordamos a inserção de elementos intermidiáticos na composição fílmica, através das colagens (GÁLVEZ, 2009) e técnica da bricolagem (AUMONT, 2012; LÉVI-STRAUSS, 1976) como método de reordenamento de fragmentos já existentes na cultura a favor de uma nova produção de sentido. Alinhado à questão imagética, observamos a construção do foco narrativo (GENETTE, 1980) como instância reguladora de informações na história, estabelecida através da voz over e do regime de fluxo de consciência (CARVALHO,1981).

    De forma complementar à analise fílmica, considerando os paratextos (GENETTE, 2010) como elementos importantes para a construção de uma teoria dos cineastas e sobre cineastas, esta comunicação coloca a investigação em diálogo com uma entrevista (ainda não publicada) concedida por Jorge Furtado e por Giba Assis a mim, na sede da Casa de Cinema de Porto Alegre, em outubro de 2019.

    Na conversa, os dois discorrem sobre a trajetória como realizadores, elencam referências estéticas, destacam contextos de produção, comentam a produção e distribuição dos filmes, e discutem o pensamento cinematográfico por trás das obras que realizaram.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. 3. ed. Tradução de Marina Appenzeller Campinas, SP: Papirus, 2012.

    BORDWELL, David. Poetics of Cinema. New York: Routledge, 2007.

    CARVALHO, Alfredo Leme Coelho de. Foco narrativo e fluxo da consciência: questões de teoria literária. São Paulo: Pioneira, 1981.

    GÁLVEZ, María Luisa Ortega. De la certeza a la incertidumbre: “collage”, documental y discurso político en América Latina. In: VAQUERO, Laura Góme; LÓPEZ, Sonia Garcia (org.). Piedra, papel y tijera: el collage en el cine documental. Madri: Ocho y Medio, 2009. p. 101-138.

    GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega, 1980.

    GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Traduções Miriam Vieira. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2010.

    LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Tradução de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar. São Paulo: Nacional, 1976.