Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Carlos Oliveira Junior (UFJF)
Minicurrículo
- Professor adjunto do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens (IAD-UFJF), além de professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da ECA-USP. Autor do livro A mise en scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo (Papirus, 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- Condensação e fragmentação
Seminário
- Cinema Comparado
Formato
- Presencial
Resumo
- Trabalharemos com um par conceitual que implica operações distintas com o espaço-tempo cinematográfico: de um lado, a condensação, que pressupõe uma saturação (temporal, espacial, estética, composicional) da imagem; do outro, a fragmentação, pautada na recusa da unidade e na valorização da autonomia do fragmento, rejeitando a ideia de continuidade em prol de um estilo disruptivo. O objetivo é pensar alguns regimes estéticos do cinema moderno e seus desdobramentos no audiovisual contemporâneo.
Resumo expandido
- Discutiremos dois conceitos estéticos que implicam dois diferentes conjuntos de operações com o espaço-tempo cinematográfico. O primeiro desses conceitos é o de condensação, que pressupõe uma saturação (temporal, espacial, estética, composicional) da imagem, tendo no plano-sequência e no “plano-tableau” (BONITZER, 1987) seus dispositivos formais de predileção, conforme se observa nos filmes de cineastas como Andrei Tarkovski, Miklós Jancsó, Manoel de Oliveira, Raúl Ruiz e Júlio Bressane.
O outro conceito é o de fragmentação, que se pauta na recusa da unidade e na valorização da autonomia do fragmento, rejeitando a ideia de continuidade em prol de um estilo disruptivo, conduzido por uma montagem do tipo “colagem” (AMIEL, 2010). Jean-Luc Godard, Vera Chytilová e Rogério Sganzerla são alguns dos seus maiores representantes.
A estratégia de condensação possui no plano-sequência – com ou sem profundidade de campo – e no “plano-tableau” (BONITZER, 1987) seus dispositivos formais de predileção, daí a necessidade de investigar as características e possibilidades contidas nesses procedimentos. Procuraremos demonstrar também a proximidade da estética de condensação com pelo menos três noções adjacentes, embora não coincidentes: a de “cristais de tempo”, elaborada por Gilles Deleuze (2005), a de estratificação temporal, cunhada por Reinhardt Koselleck (2014) para propor um modelo epistemológico de estudo do tempo histórico, e, por fim, as considerações sobre o “trabalho de condensação” na teoria freudiana sobre a estrutura do pensamento onírico.
Quanto ao paradigma da fragmentação, além de realçar sua conexão com a lógica da colagem (central na produção artística do modernismo e sub-repticiamente reinventada na contemporaneidade), destacaremos sua radicalização em obras que se enquadram na noção de “estilo tardio” (SAID, 2009), particularmente marcante nos filmes derradeiros de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla – “A idade da terra” (1980) e “O signo do caos” (2003), respectivamente.
Perpassando ambos os paradigmas, encontraremos a preeminência do conceito de alegoria, que buscaremos não somente em sua célebre reformulação por Walter Benjamin em “A origem do drama barroco alemão” (1928), mas também nas pesquisas posteriores – e fundamentais – de Gregory L. Ulmer (1983) e Ismail Xavier (1993).
Investigaremos, de uma perspectiva comparatista e genealógica, as formas como os dispositivos de representação abordados retomam ou deslocam parâmetros centrais da história dos estilos no cinema.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BONITZER, Pascal. Décadrages. Paris: Editions de l’Étoile, 1987.
BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
COMOLLI, Jean-Louis. « Note sur la profondeur de champ ». In: Cahiers du cinéma, hors-série, « Photos de films nº 3 : Scénographie », 1980, p. 88-89.
DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.
KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2014.
NOCHLIN, Linda. The Body in Pieces. The Fragment as a Metaphor for Modernity. Londres: Thames & Hudson, 1994.
ULMER, Gregory L. “The origins of post-criticism”. In: FOSTER, Hal (org.). The anti-aesthetic. Essays on postmodern culture. Seattle: Bay Press, 1983, p. 83-110.
XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento. Cinema Novo, Tropicalismo e Cinema Marginal. São Paulo: Brasiliense, 1993.