Ficha do Proponente
Proponente
- LINA CIRINO ARAUJO OLIVEIRA DOS SANTOS (USP)
Minicurrículo
- Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais (USP), mestra em Comunicação (UFRB), graduada em Direito (2012), graduanda em Cinema e Audiovisual (UFRB), integrante dos grupos de pesquisa GEEECA (CNPQ, UFRB), Poéticas no Audiovisual (USP), Sonatório (UFRB), realizadora no audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Corpo infinito em lampejo
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- Corpus Infinitum (2020) é o título escolhido por Denise Ferreira da Silva para a fala-performance que realizou na abertura do IX Cachoeiradoc. O mesmo título já foi utilizado pela artista em outras ações. Em cada manifestação, um aspecto diferente é lançado sobre o seu ponto de vista: a imagem de um corpo infinito, inspirada no Plenum de Leibniz. Pretendo debater se Corpus Infinitum é um modo fragmentário e benjaminiano de “imagear” o corpo infinito sob diferentes modos de expressões artísticas.
Resumo expandido
- Denise Ferreira da Silva é filósofa, artista visual, professora e diretora do Social Justice Institute da Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá. Corpus infinitum foi uma performance online realizada por Denise, em 2020, na abertura do IX Cachoeiradoc. O festival de cinema documentário acontece presencialmente em Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. No entanto, em razão da pandemia, o festival teve sua primeira versão online.
A fala-performance foi transmitida online no Facebook e no Youtube do Cachoeiradoc, em 05 de dezembro de 2020, às 16h, com duração de 1’52m. Durante a performance, Denise lançou mão de imagens: trechos do filme Corpo Fechado (2018) e cartas de tarot. A filósofa tirou cartas na mesa de quem estivesse tele-presente. A leitura das cartas foi mediada também por comentários do público.
Denise salientou, durante a performance, que o mesmo título – Corpus Infinitum – já foi usado por ela em outros lugares e ações, com a observação de que, em cada encontro, ela traz um aspecto diferente desta perspectiva, que ela prefere nomear de “trajetória de um esforço”. O título já foi utilizado pela autora, por exemplo, em um experimento no programa de pós-graduação em ciências políticas da Universidade de São Paulo, em 05 de dezembro de 2019. Também foi título de um filme dirigido por Denise e Arjuna Neuman (Soot Breath/Corpus Infinitum, 2020). A expressão “Corpus Infinitum” aparece pelo menos dez vezes no seu livro A Dívida Impagável (2019), cuja autora informa tratar-se de uma imagem (e não uma ideia) de um “Mundo Implicado”, cuja inspiração vem da ideia de Plenum de Leibniz.
“Na natureza tudo é pleno”, afirma Leibniz (2016, p. 114). A natureza, segundo o filósofo, é formada por substâncias simples (mônadas) separadas umas das outras por ações próprias que intervém em suas relações. Esta separação não significa necessariamente uma distância física – a separação diz respeito às diferenças ou incomunicabilidades relacionadas às percepções e apetites próprios de cada substância. O Plenum seria a representação hipotética de uma pluralidade de substâncias pela sua unidade: todos os corpos estão conectados e um corpo age sobre outro e é por ele afetado, formando assim um corpo orgânico: a “Máquina da Natureza”.
Quando Denise constrói a noção de Corpus Infinitum, baseada no Plenum de Leibniz, a filósofa propõe uma imagem de um contexto em que todas as existências estão conectadas sem separabilidade, sequencialidade ou determinabilidade: pilares do conhecimento ontoepistemológico e do tempo linear do “Mundo Ordenado”. A separabilidade, a determinabilidade e a sequencialidade que Denise opera (e combate) têm elementos de Kant e Hegel que ainda influenciam projetos epistemológicos contemporâneos. Quando a vida social é capaz de refletir o “Mundo Implicado”, argumenta Denise, a sociedade não seria causa tampouco efeito de relações separadas, ao contrário: tudo o que existe é expressão singular de cada pessoa e de todas as outras existências atuais-virtuais do universo, como um Corpus Infinitum.
Corpus Inifinitum seria a imagem de um todo constituído por diversas pluralidades que se conectam de modo implicado. A filósofa prefere a perspectiva de uma imagem (e não de um conceito) para construir e difundir esse pensamento. A imagem a que se refere Denise é influenciada pela imagem dialética de Walter Benjamin, ou seja, “a imagem é o momento em que o que foi une-se ao que é num lampejo, assim formando uma constelação. Em outras palavras: a imagem é a dialética em suspenso” (FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 113). Ao compartilhar o pensamento prismático que circunda Corpus Infinitum, Denise se manifesta por meio de fragmentos e através de imagens – performances, filmes, experimentos em sala de aula – de modo a amalgamar, na forma, a sua visão prismática de um todo conectado e implicado.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Passagens. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.
FERREIRA, Denise. Corpus Infinitum. Fala-performance no IX Cachoeiradoc (1h 52 min 44s), Cachoeira, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2ljrPkbkCEM&t=686s. Acesso em: 20 dez 2020.
FERREIRA, Denise. A Dívida Impagável. Trad. Amilcar Packer e Pedro Daher. São Paulo, 2019.
FERREIRA, Denise. Sobre diferença sem separabilidade. 32a Bienal de São Paulo (2016). Disponível em: https://www.bienalmercosul.art.br/bienal-12-jornal/Sobre-diferen%C3%A7a-sem-separabilidade
Acesso em 22 out. 2021.
KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valerio Rohden e António Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1995.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Ed. Vozes: Petrópolis, Rio de Janeiro; 1992.
LEIBNIZ, G. W. Novo Sistema da Natureza: Princípios da Natureza e da Graça Fundados sobre a Razão. Trad: Nuno Ferro, IEF, 2016.