Ficha do Proponente
Proponente
- Marcelo Carvalho da Silva (UTP)
Minicurrículo
- Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP (PPGCom-UTP). Doutor e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da UFRJ (PPGCom-UFRJ). Graduado em Cinema e em Jornalismo pela UFF. Especialista em Arte e Filosofia pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação para o Terceiro Setor pela Ucam. Co-diretor e co-roteirista do filme de média metragem Chão de Estrelas.
Ficha do Trabalho
Título
- O pensamento cinematográfico e a Teoria de Cineastas: algumas notas
Seminário
- Teoria de Cineastas
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta proposta tem como objetivo dar sequência à discussão sobre o que poderia ser considerado como “pensamento cinematográfico” no âmbito da Teoria de Cineastas. Com este intuito, partiremos de um determinado aspecto da proposta de Cinema de Poesia de Pier Paolo Pasolini: a polifonia de vozes suscitada nos filmes pela subjetiva indireta livre. Acreditamos que o que ora chamamos de “pensamento cinematográfico” é uma noção que ainda precisa ser tensionada em seus limites e potencialidades.
Resumo expandido
- Esta proposta tem como objetivo dar sequência à discussão sobre o que poderia ser considerado como “pensamento cinematográfico” (isto é, atribuível a um agente interveniente no filme, o(a) cineasta) no âmbito da Teoria de Cineastas. Com este intuito, partiremos de um determinado aspecto da proposta de Cinema de Poesia de Pier Paolo Pasolini.
Pasolini identifica no texto “Cinema de Poesia” o que considera ser o ressurgimento da inclinação onírica e bárbara do cinema, até então (em 1965) eclipsada. Esta imagem ressurgiria nos filmes a partir daquilo que Pasolini identifica como subjetiva indireta livre, um procedimento cinematográfico inspirado no discurso indireto livre da literatura.
Na subjetiva indireta livre, o cineasta, no momento mesmo em que afirma peremptoriamente sua voz no filme por intermédio de recursos estilísticos que fazem “sentir a câmera”, contrapõe-se aos vários discursos dos personagens criados para se diferenciarem radicalmente dele, tendo como resultado uma polifonia de vozes.
Um dos postulados da Teoria de Cineastas é o de que cineasta seria todo(a) aquele(a) que contribui criativamente para o filme – e não apenas o(a) diretor(a). Decorre deste postulado, a nosso ver, uma polifonia de vozes inseridas no filme, algumas mais facilmente identificáveis, outras de difícil mapeamento.
Mas até que ponto a subjetiva indireta livre poderia ser considerada para o âmbito dos agentes que contribuem criativamente para o filme? Ou ainda: a quem atribuir determinado percurso de pensamento no filme em meio a contribuições que se entrecruzam e tendem a desfazer a autoria única no filme?
Talvez fosse possível ir um pouco mais adiante na apropriação da proposta de Pasolini. Porque tão pertinente quanto considerar quem influencia diretamente na realização fílmica (esteja ou não no set de filmagem, local por excelência da mise-en-scène), seria inventariar as influências diretas sobre os(as) criadores(as) nas citações, palimpsestos, e até mesmo em plágios encontrados nos filmes.
O problema que enfim se coloca é o da proliferação de pensamentos nos filmes. A questão é pertinente, mas traz alguns embaraços.
Em primeiro lugar, e tendo em vista a admissão manifesta ou tácita no âmbito das discussões sobre o cinema que há pensamentos manifestos nos filmes, perguntamo-nos o que seria afinal um “pensamento cinematográfico”. E ainda: de que forma este “pensamento cinematográfico” se manifestaria no filme ao ponto de poder ser trabalhado por alguém interessado (o(a) pesquisador(a), o(a) crítico(a), o(a) próprio(a) cineasta). E se dissermos que o filme é o pensamento em ato do cineasta, o que isso quereria dizer?, principalmente se levarmos em consideração que o filme é um lugar de pensamentos plurais e entrecruzados e que talvez não seja possível discerni-los com precisão.
Finalizando, gostaríamos de dar um passo atrás, sistematizando uma diferenciação básica e um tanto evidente, embora fundamental, sobre o que ora chamamos de pensamento cinematográfico.
Em primeiro lugar, haveria o pensamento produzido pelo(a) cineasta sobre filmes e/ou sobre o cinema, mas fora do âmbito do filme e fazendo uso da palavra em entrevistas e textos de próprio punho com a formulação de teorias, rascunhos de conceitos, digressões etc.
Em segundo lugar, haveria o pensamento do(a) cineasta sobre filmes e/ou sobre o cinema efetivamente encontrado nos filmes. Pensamos que haveria aqui dois tipos a serem considerados.
Por um lado, há pensamentos por imagens e sons nos filmes que, em dado momento, assumem significados. E há cineastas que direcionam seu trabalho para um alto nível de interpretação linguística, como Sergei Eisenstein, para citar apenas um exemplo.
Por outro lado, há pensamentos por imagens e sons nos filmes que, com graus variados de complexidade, tenderiam a refutar significados imediatos, ou mesmo a rechaçar sua redução a enunciados linguísticos, no limite alcançando um “indizível” da imagem e do som.
Bibliografia
- DELEUZE, G. A Imagem-Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que É a Filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
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PENAFRIA, M. “Fazer a teoria do cinema a partir de cineastas – entrevista com Manuela Penafria.” Entrevista realizada por Bruno Leites, Eduardo Baggio e Marcelo Carvalho. Revista InTexto, Dossiê Teoria de Cineastas, n. 48, jan./abr. de 2019. https://seer.ufrgs.br/intexto/issue/view/3841
PENAFRIA, M.; VILÃO, H.; RAMIRO, T. “O ato de criação cinematográfica e a ‘Teoria dos Cineastas.’” In PENAFRIA, M.; BAGGIO, E.; GRAÇA, A. R.; ARAÚJO, D. C. (eds). Teoria dos Cineastas – Volume II: Propostas para a Teoria do Cinema. 93-113. Covilhã: LABCOM.IFP, 2016.
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo herege. Lisboa: Assírio & Alvim, 1982.