Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Aloísio Corrêa de Araújo (UAM-PPGCOM)

Minicurrículo

    Aloísio Corrêa de Araújo é mestre em comunicação audiovisual PPGCOM-UAM (2021). Além de pesquisador, é educador do núcleo de narrativas no Instituto Criar de TV e Cinema. É realizador, roteirista e montador.

Ficha do Trabalho

Título

    Os ecos do maneirismo na Trilogia Taisho de Seijun Suzuki

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da análise de entrevistas com o realizador, artigos escritos por ele, críticas e filmes de outros diretores do período, do Japão e de outras nações, é possível vislumbrar como os filmes da Trilogia Taisho de Seijun Suzuki traduzem o cinema maneirista dos anos 80. Um escopo que revela a sua profunda compreensão de códigos do kabuki, da poesia haiku, e de cineastas japoneses e estrangeiros de períodos anteriores, assim como temas estéticos contemporâneos, nas imagens desses três filmes.

Resumo expandido

    Mais de uma década após a sua demissão na Nikkatsu, Seijun Suzuki volta a filmar. Passou algum tempo trabalhando com filmes e seriados para televisão, faz História de Melancolia e Tristeza (1977) com a produtora Shochiku, e não é bem recebido pela crítica ou público. Em 80, em parceria com o produtor teatral Genjiro Arato, resolve filmar independentemente das grandes produtoras e exibidoras. De forma muito diferente dos seus filmes realizados nos grandes estúdios da Nikkatsu, Zigeunerweisen é o primeiro filme da Trilogia Taisho. Filme de baixo orçamento e exibido inicialmente em uma tenda inflável itinerante, é bem recebido pela crítica e premiado no festival de Veneza. Kagero-za, o segundo filme, é exibido em 1981, e Yumeji, somente dez anos depois, em 1991.
    Apesar das distância entre o terceiro e os outros dois primeiros filmes, há uma série de elementos que unem as obras, alguns deles, o período retratado, a era Taisho. Situações fantasmagóricas ou sobrenaturais, relacionamentos extraconjugais e desfragmentação da narrativa são outras possibilidades. Esta pesquisa propõe inserir estes temas e outros subtextos do cinema e da cultura japonesa dentro da lente da estética maneirista dos anos 80. Existem diversas semelhanças entre os filmes da Trilogia com obras de outros realizadores do mesmo período, que vão além da imagem e tema, assim como a relação com cineastas antecessores, movimentos artísticos anteriores, que distorcem e adicionam camadas aos filmes desses cineastas maneiristas.
    Entrevistas com Seijun Suzuki, trabalhos de críticos e outros trabalhos realizados pelo diretor são materiais que ajudam a compreender o período e as escolhas estéticas dos filmes da Trilogia, como a conversa que Suzuki tem com o cineasta Carlos Reichenbach durante sua vinda ao Brasil, em que discorda de seu entrevistado ao dizer que a principal influência de seus filmes não é a pintura e as cores, mas sim o kabuki, forma que pode ser compreendida como o teatro barroco japonês, segundo Darci Kusano. A relação do cinema japonês com o kabuki é inegável, e a partir deste escopo, é possível compreender sua obra como uma distorção de tradições vistas em metáforas visuais, nos famosos pillow shots dos filmes de Yasujiro Ozu, ou nos tantos filmes jidaigeki.
    Tal distorção é observada em filmes anteriores à Trilogia Taisho, pelo crítico Hasumi Shigehiko, que compreende que Suzuki não utiliza convenções da poética japonesa da mesma forma que seus antecessores, ou até mesmo alguns cineastas do mesmo período, como o cineasta Nagisa Oshima. Segundo Shigehiko, se em um filme de Suzuki há um sino do vento, não necessariamente significa que estamos no verão, código que é uma herança dos termos sazonais, essenciais para a construção dos poemas haiku ou tanka, e que também são utilizados no teatro, dança e pintura japonesa. Os filmes de Suzuki carregam estas imagens deslocadas da longa tradição da poesia. É possível vermos em um filme um sino do vento e uma pilha de folhas, símbolo do outono em um mesmo plano, confrontando, referenciando e estressando estas convenções da linguagem visual usada nas artes japonesas.
    Em entrevistas, artigos e outros textos de Seijun Suzuki, é possível compreender novas formas de observar os filmes da Trilogia Taisho, reflexos de seus processos fílmicos mais pessoais, assim como relacionar e alinhar seus filmes com filmes de cineastas do Japão ou de outras nações, num mesmo período histórico, consonantes a teorias diversas sobre a pós modernidade, como Fredric Jameson e Jean Baudrillard. Esses filmes dirigidos por Suzuki, ou os filmes de Raúl Ruiz, Brian De Palma, Werner Fassbinder deste período são alimentados por tradições, ecos de obras primas anteriores, que de alguma forma conversam e desafiam seus mestres, da mesma forma que os homenageiam.

Bibliografia

    BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Artropos, 1991.

    JAMESON, Fredric. Pós-Modernismo – A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio. São
    Paulo: Ática, 1998.

    OLIVEIRA JUNIOR, Luiz Carlos Gonçalves. O cinema de fluxo e a mise em scène. São
    Paulo: Dissertação de Mestrado (Cinema), Universidade de São Paulo, 2010.

    KATO, Shuichi. Tempo e espaço na cultura japonesa, Estação Liberdade, São Paulo, 2012.

    KUSANO, Darci, Os teatros Bunraku e Kabuki: Uma visada barroca, Editora Perspectiva, São Paulo, 1993.

    NAGIB, Lúcia. Em torno da Nouvelle Vague Japonesa, Editora da Unicamp, Campinas, 1993.

    RICHIE, Donald. A Lateral View – Essays on Cultura and Style in Contemporary Japan, Stone Bridge Press, Berkeley, 1992.

    SHIGEHIKO, Hasumi. Suzuki Seijun – The Desert under the Cherry Blossoms, Stiching Film Festival Rotterdam, 1991.

    YOSHIDA, Kiju. O anticinema de Yasujiro Ozu, Cosac Naify, São Paulo, 2003.

    ____________. “Da abjeção”, Cahiers du Cinéma, nº 120, junho de 1961.