Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Andrea Rosas de Almeida (UFSCar)

Minicurrículo

    Andrea Rosas de Almeida é produtora e cineasta. Cursou licenciatura em pedagogia (CED/UFSC), especialização latu senso em gestão de projetos culturais (ECA/USP) e, atualmente, é mestranda em imagem e som, linha de pesquisa narrativas audiovisuais (PPGIS/UFSCar).

Ficha do Trabalho

Título

    Feminilidades em duelo: o moral e o imoral em O dragão da maldade

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho analisa como são representadas Santa e Laura, personagens femininas de maior destaque no filme O dragão da maldade contra o santo guerreiro (Glauber Rocha, 1969). Nesse cenário, Laura é o oposto de Santa, tendo em vista padrões de feminilidade distintos que as constituem como alegorias. Pela metodologia da análise fílmica, este estudo direciona um olhar crítico à análise proposta.

Resumo expandido

    O dragão da maldade contra o santo guerreiro foi lançado em 1969, durante a ditadura civil-militar no Brasil. Não por acaso, o filme questiona o processo de modernização do país marcado pelo autoritarismo do Estado e, na esteira desse pensamento, marca a distinção moral entre o arcaico e o moderno. À luz de ideações comportamentais atribuídas às mulheres, no contexto da normatização patriarcal, a personagem Santa é associada à moralidade dos oprimidos, enquanto Laura, seu oposto, à imoralidade dos opressores.
    Isto é, a “oposição santa/prostituta se representa aqui, de modo a figurar, na esfera dos homens, uma separação de territórios” (XAVIER, 2012, p. 299). Em outras palavras, convenções sociais balizam a noção de decência intrínseca à Santa, assim como amparam a dita indecência de Laura, no viés de atribuir sentido às alegorias pela mediação de concepções de moralidade historicamente construídas.
    Nessa configuração, Santa é enaltecida por sua pureza e representa a moralidade do arcaico, da religião popular. No entanto, a personagem é dissociada do heroísmo das figuras masculinas integrantes do elenco das tradições, tendo, inclusive, seu arquétipo elaborado à margem do androcentrismo da lenda de São Jorge matando o dragão, que inspira o filme. Além do mais, apesar de circular livremente entre as personagens, experimenta o isolamento, pois distancia-se das demais como quem pertence a outro mundo (RUBIM, 1999, p.9).
    Por sua vez, Laura é urbana, adúltera, interesseira, a figuração dos aspectos condenáveis da modernização, o padrão das personagens burguesas cinemanovistas: “egocêntricas […] e que não possuem consciência ou não se importam com o sofrimento das classes oprimidas” (SILVA, 2020, p. 37).
    Diante do exposto, a construção alegórica de Laura reúne aspectos que incitam a imoralidade modernizante. De maneira oposta, a alegoria da Santa, representa a moralidade da tradição, na medida em que a beata sequer deflagra conflitos, “sua potência espiritual submete sua condição humana, […] nela a mulher também deixa de existir” (RUBIM, 1999, p. 13). Destaca-se, então, que a dualidade entre as personagens femininas, na perspectiva narrativa, anula a corporeidade da Santa e escancara o que há de questionável na mulher moderna figurada por Laura.
    Isto posto, cabe pensar no androcentrismo narrativo que direciona a distinção entre moralidade do oprimido e imoralidade do opressor, tendo em vista os modelos de feminilidade levados a uma controversa condição orgânica que, por sinal, julgam moralmente a mulher moderna, por transgredir valores patriarcais, e santificam uma beata, subtraindo sua condição de mulher. À vista disso, por meio da materialidade da obra fílmica, propomos desenvolver uma análise sistêmica das elaborações alegóricas das duas personagens aqui apresentadas.

Bibliografia

    O DRAGÃO da maldade contra o santo guerreiro. Direção: Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Mapa Filmes, 1969. 1 filme (95 minutos).

    RUBIM, Lindinalva S. O. O feminino sob o olhar glauberiano. In: IX Encontro da COMPÓS, 1999, Porto Alegre. IX COMPÓS – Num mundo virtual, um momento de comunicação real. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 1999.

    SILVA, Carolline Mendes da. Nem todas as mulheres do mundo: uma análise das personagens femininas nos filmes do Cinema Novo (1959-1969). 2020. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012