Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Brian Hagemann (UTP)

Minicurrículo

    Brian Hagemann é de Joinville (1981). Estudou Cinema na FAAP (1999). Fez pós-graduação e mestrado em Cinema na Universidade Tuiuti do Paraná, em Curitiba, e hoje faz o programa de doutorado na mesma instituição. Trabalha com produção de vídeos institucionais, videoclipes musicais, campanhas publicitárias, curtas, documentários, e oficinas de vídeo. Em 2021 criou o curso superior de Cinema e Audiovisual da Univille, onde coordena até hoje e leciona em outros cursos da instituição desde 2010.

Ficha do Trabalho

Título

    Borat e a construção involuntária do Mocamentário

Formato

    Remoto

Resumo

    Este estudo analisa comparativamente o filme Borat (2006) com outras obras do gênero mockumentary para comprová-lo como um “mocamentário” (mocar=enganar). Enquanto em outros mockumentaries os envolvidos na produção estão cientes da sua ficcionalidade, em Borat não-atores acreditam estar em um documentário, reagindo naturalmente ao serem entrevistados em uma mise-en-scène documental, mas estão participando inconscientemente de pontos de virada do roteiro ficional, afetando a narrativa

Resumo expandido

    O presente estudo, que é parte de meu projeto de doutorado, analisa o subgênero mockumentary a partir da análise do filme Borat! Aprendizados Culturais da América para Beneficiar a Gloriosa Nação do Cazaquistão, estrelado por Sasha Baron Cohen, (2006). O filme acompanha o personagem ficcional Borat Sagdyiev, um repórter do Cazaquistão, que sai em uma “road trip” pelos EUA entrevistando cidadãos americanos, para assim aprender sobre seu modo de vida e levar esse conhecimento de volta para seu país. O filme é uma comédia ficcional estruturada dentro do gênero mockumentary, também conhecido como fake documentary, ou falso-documentário, que consiste no desenvolvimento de um texto ficcional dentro de uma estética audiovisual documental, ou seja, ele é construído como um filme de ficção, mas é produzido todo esteticamente como se fosse um documentário. No campo acadêmico, o mockumentary ainda é relativamente pouco discutido. Apenas recentemente foram estabelecidas algumas teorias a respeito e provocadas algumas reflexões sobre o cinema, a ética no documentário e a forma que carrega a “autoridade do real” (RAMOS, 2008). A principal referência do gênero é o livro de Jane Roscoe e Craig Hight, Fading it: mock-documentary and the subversion of actuality de 2004, o qual faz uma cronologia do gênero, e procura abranger suas principais características e possibilidades. Ao analisar mais profundamente, contudo, percebi que o filme possui peculiaridades suficientes para contribuir com essas teorias por se tratar de um caso especial. Enquanto no mockumentary a mise-en-scene documental normalmente se dá desde o planejamento do roteiro até a interpretação dos atores, em Borat o roteiro é reescrito na medida em que as pessoas comuns (não-atores) sem querer, e sem perceber, interagem com a equipe de um filme de ficção, fazendo as engrenagens da narrativa rodarem dentro da diegese fílmica. Ou seja, ao contrário de outros falso-documentários onde todos os envolvidos na produção estão cientes da sua ficcionalidade, em Borat alguns não-atores acreditam estar em um documentário reagindo naturalmente ao serem entrevistados em uma mise-en-scène documental, e participam assim inconscientemente de pontos de virada do roteiro ficcional, afetando o decorrer da narrativa. Essa característica, que considero a principal, pode contribuir para abranger as teorias do mockumentary, mesmo não sendo uma estratégia comum nessa filmografia. Enquanto nos mockumentaries a ironia tem um papel fundamental no contrato “filme-espectador”, que sublinha para o receptor a ficção do texto, em Borat a ironia é trabalhada em um contrato “filme-personagem” onde não-atores envolvidos no filme interagem no contexto irônico da “Candid Camera”, enquanto o espectador já percebe se tratar de um texto ficcional, ao contrário das “vítimas” em frente às câmeras, que são mocados (enganados), o que sugere uma terminologia em português diferente para esse tipo: o mocamentário. Um paralelo dessa estratégia é visto no “Teatro Invisível”, de Augusto Boal, onde atores encenavam peças em restaurantes, ou nas esquinas, na esperança de atrair os espectadores a participar e se envolver com a ação sem saber se tratar de uma encenação. Como método de pesquisa faço um levantamento das teorias do mockumentary e do documentário para confirmar se elas abrangem as características especiais de Borat em sua forma e na esquematização genérica, dialogando ainda com o reality show, o Candid Camera e o Teatro Invisível. Também analiso as cenas em que essa participação espontânea de não-atores ocorre em Borat, e comparo suas estratégias com outros mockumentaries procurando características que se aproximem dessas citadas acima para tentar comprovar seu ineditismo estratégico. Defendo assim que o “mocamentário” Borat possui peculiaridades inovadoras para o gênero mockumentary, onde quanto mais a encenação tenta parecer, e ser, um confronto real, maior e mais transparente é a ficção que está sendo narrada.

Bibliografia

    BOAL, Augusto. O Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. Editora 34, 2019.
    COHEN, Sarah Blacher. (1990). “Jewish Wry – The Varieties of Jewish Humor”
    HUTCHEON, Linda. A Theory of Parody: the teachings of twentieth-century art forms. Chicago: University of Illinois Press, 2000.
    LLISTÓ, José Francisco Marcondes (2011). Fingir o Real: Borat, o mock-dockumentary de Sacha Baron Cohen.
    MACLEOD, Lewis. A Documentary-Style Film”: “Borat” and the Fiction/Nonfiction Question. Ohio State University Press, 2011
    NICHOLS, B. (2001) Introdução ao Documentário. Bloomington, IN: Indiana University Press.
    NOGUEIRA, Luís. Manuais de Cinema II – Gêneros Cinematográficos. Covilhã: Labcom Books, 2010.
    RAMOS, Fernão. Mas afinal… o que é mesmo documentário? São Paulo, Ed. Senac, 2008.
    ROSCOE, Jane; HIGHT, Craig. Faking it. Mock-documentary and the subversion of actuality. Manchester University Press, London, 2001.