Ficha do Proponente
Proponente
- MARCIANE NOVAIS SOUSA (UFPA)
Minicurrículo
- Graduada em Cinema e Audiovisual/UFPA (2019), realizou algumas obras artísticas, fazendo parte do primeiro longa-metragem realizado por alunos A Besta Pop (2019), onde iniciou um estudo de construção da luz e cor. Participou do NUPA-UFPA, fazendo parte da criação do Festival Toró em 2015. Trabalhou com produção e desenvolvimento de projetos para editais de 2016 à 2019. Cursa o Mestrado em Artes pelo PPGARTES/UFPA, com finalização em 2023, e é Professora Substituta pela FAV/ICA/UFPA.
Ficha do Trabalho
Título
- “A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO PRETO E BRANCO NO CINEMA”
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Formato
- Presencial
Resumo
- Ao falar de cinema preto e branco várias ideias vem à mente, desde filmes antigos até a representação de tempos passados. Essa é uma visão disseminada pela impopularizarão da técnica nas últimas décadas. Através de uma pesquisa histórica e analítica sobre os filmes monocromáticos ao longo dos anos, essa pesquisa estabelece o comportamento do preto e branco técnico imposto, para estético determinado por motivações.
Resumo expandido
- No nascimento do cinema em 1895, com a primeira exibição pública realizada pelos irmãos Lumière, as imagens mostravam uma captura tecnológica em preto e branco do cotidiano. Os primeiros espectadores o viam como um espetáculo mágico, onde, segundo Geada (1987), não podiam intervir de forma direta, mas olhar e participar de forma afetiva. Assim, o cinema passa a proporcionar a sensação de se perder dentro das imagens, e os espectadores passam a encarar a ilusão construída como uma expressão do real.
O cinema de George Meliès desenvolve uma dinâmica mais narrativa nos filmes, com cenários, figurinos, iluminação e atuação. É a partir da construção de histórias ficcionais e a proximidade do mundo real, que a tecnologia começa a ser questionada em seus valores estéticos.
Na sua primeira década, o cinema tinha muita urgência pela utilização da cor. As primeiras colorizações das imagens cinematográficas começam a surgir de forma manual, pintando frame a frame, a fim de encantar o grande público com a nova “mágica”. Mas exatamente por seu elevado tempo de trabalho e custo, essa técnica não era ideal para uma arte que ganhava corpo industrial e desejava a colorização.
O preto e branco e a cor passam, então, a funcionar como métodos opostos, separados, que começariam a trilhar caminhos totalmente diferentes. Um decaindo e se transformando, e o outro ganhando cada vez mais destaque a prestígio.
A dificuldade de se passar para o colorido percorreu muitos anos do cinema, por ser caro e tecnicamente complicado. Assim, vários cineastas começavam a desenvolver novas formas de criar universos dentro da tela, trabalhando cada vez mais as questões de iluminação, e as gradações de preto, branco e cinza.
O cinema passa por sua primeira grande revolução tecnológica, quando na película do filme agora havia uma faixa destinada ao som sincronizado, que a impedia de ser colorizada. Isso foi resolvido por uma inovação tecnológica realizada pela Kodak: o Sonochrome, um filme pré-colorido que não prejudicava a trilha sonora, que foi utilizado até apenas os anos 1930.
Só com o surgimento das grandes companhias estadunidenses e a chamada “Era de ouro” do cinema, é que o cinema colorido pode finalmente se estabelecer em detrimento do preto e branco. Durante os anos 30 e 40, a empresa Technicolor inicia a utilização de uma tecnologia de colorização, realizando em 1935 o primeiro filme colorido, Vaidade e Beleza, de Rouben Mamoulian. O cinema buscava construir com a cor narrativas ficcionais cada vez mais lúdicas e belas, para entreter seu público.
O cinema europeu iria por um outro caminho, no qual se voltava para a representação da realidade social, percorrendo o preto e branco um cenário mais artístico, trabalhando mais as propostas estéticas de suas narrativas. Assim, o preto e branco deixa de funcionar como uma imposição técnica dos instrumentos, e passa a necessitar de um porquê para existir.
Para Bordwell (2005) a chave do cinema hollywoodiano clássico está nas motivações que cada filme carrega. Essas podem ser: composicional, que consiste no desenvolvimento narrativo da história; realística, que equivale a elementos que irão mostrar uma realidade plausível nos elementos da história; intertextual, que aborda representações recorrentes em filmes do mesmo gênero. A partir do estabelecimento da cor como um padrão, o cinema necessita dessas motivações para que o preto e branco seja aplicado.
Wheeler Dixon (2015) defende que há filmes que só podem existir em preto e branco, como filmes mais sérios e de maiores nuances de profundidade narrativa. Aí, pode se observar o seu desenvolvimento dentro de movimentos cinematográficos importantes: o Expressionismo alemão nos anos 20, o Neorrealismo italiano e Cinema Noir nos anos 40, e a Nouvelle Vague nos anos 50.
A composição do preto e branco se comporta como imagens que precisam ser descobertas em um mundo colorido, sendo construída a partir das provocações que o diretor visa causar em seu público.
Bibliografia
- BORDWEL, David. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. In: Fernão Pessoa Ramos. Teoria Contemporânea do Cinema, Volume II. São Paulo: Senac, 2005. p. 277-301
DIXON, Wheeler Winston. Black & White Cinema: A Short Story. [S. L.]: Rutgers University Press, 2015.
LIRA, Bertrand. Cinema Noir: A sombra como experiência estética e narrativa. João Pessoa: Editora da UFPB, 2015.
MISEK, Richard. Chromatic Cinema: A History of Screen Color. [s. L.]: Wiley-blackwell, 2010.
NEVES, Jaime Sérgio de Oliveira. Entre Preto E Branco: Para Uma Estética Monocromática Do Cinema Depois Do Technicolor. 2015. 347 f. Tese (Doutorado) – Curso de Ciência e Tecnologia das Artes, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2015. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2019.
PERNON, Gérard. Histoire du Cinéma. França: Gisserot, 2001.