Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Rúbia Mércia de O.Medeiros (Ppgcom/UFC)

Minicurrículo

    É realizadora, pesquisadora, curadora, educadora audiovisual e gestora de projetos. É doutoranda em Fotografia e Audiovisual pelo programa de Pós-Graduação-UFC. Faz parte do grupo de pesquisa LEEA (laboratório de Estudos e Experimentos em Artes e Audiovisual- vinculado a PPGCOM-UFC). Coordenadora do Programa de Audiovisual do Centro Cultural Bom Jardim. Tem atuado em diversos projetos de formação audiovisual no Ceará e no Brasil. Pesquisa dispositivos em processos criativos de desenvolver filmes

Ficha do Trabalho

Título

    Gesto, Corpo e Cena de um cinema realizado por mulheres

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir do diálogo com um cinema realizado por mulheres através de espaços formativos em audiovisual, esta exposição, traçara algumas experiências do processo formativo “Cinema Realizado por Mulheres”, tendo como diálogo, as práticas elaboradas em sala de aula para dar a ver os modos de vida de cada uma das alunas e de como a centralidade dos encontros deram ferramentas para a composição de imagens e sons.

Resumo expandido

    O percurso formativo do curso básico Narrativa de Cinema por Mulheres aconteceu de forma remota, através do Programa de Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim, que se situa na periferia da grande Fortaleza. A formação teve como objetivo acolher e também recolher histórias de mulheres maiores de 30 anos, mulheres com desejos de conhecer o audiovisual, e ter através desta linguagem a possibilidade de narrar suas tantas experiências, experiências essas que culminam numa vivência coletiva, num gesto político de juntar, mobilizar e movimentar a memória que vagueia entre passado, presente reminiscente e presentificação de futuros. Através do gesto de escrita com imagem e som, compomos uma trajetória de formação audiovisual realizado por mulheres. Os filmes e suas interlocuções entre gestos estéticos, políticos, históricos, como levantes dão pistas para um método de trabalho entre alguns movimentos de cinema com mulheres. Assim, lançamos a proposta de estabelecer um modo de escrita da imagem, para dar conta do espaço tempo do acontecimento do curso. Contudo, é através desta escritura, modos de tecer também uma análise fílmica, que nos conta de imagens de arquivos, imagens em luta, imagens que friccionam a relação entre o real e a fabulação. O ano de 2020 foi marcado pela redefinição das formas de estarmos presente – em espaços públicos e privados. Precisamos, naquele momento, re-significar os nossos modos de vida e as formas de se relacionar com presença e ausência de pessoas queridas. A pandemia da Covid-19 nos colocou em distanciamento social estendido, vivendo dias e noites isolados no espaço íntimo da casa. O isolamento nos trouxe muitos desafios para a vida de cada uma de nós, assim também, como muitas lutas e lutos. Durante a pandemia o número de feminicídio aumentou exorbitante, esse número foi disparador para muitas ações de defesa em nome da mulher. E foi, neste horizonte de lutas e resistência que tocamos esses encontros. Materializamos cenas possíveis através do encontro com a turma, com as mulheres. A curiosidade sobre a linguagem do audiovisual, não em sua forma técnica, mas sim a linguagem como abertura, como espaço livre para compor. Os encontros vinham sempre imbuídos de desejos/ desejo de imagem/ desejo de filme, desejo de constituir relação entre o corpo, máquina (celular), o autocuidado e narrativas de si. Para tanto, criamos um ambiente imersivo de diálogo com os espaços que cada uma delas habitavam- a casa, os inúmeros trabalhos/trabalho doméstico e seus modos de vida. A relação da casa e seu entorno foi orientação basilar para os encontros e voltada à sensibilização para os temas abordados. Aspectos como formulação de questões específicas para os arquivos, jogos entre contexto e descontextualização, construção de legibilidade e abertura interpretativa de uma imagem foram aprofundados nesta experimentação. O cinema ensaístico aqui, como lugar do risco, da incerteza. O olhar sensível de cada uma das alunas, que atentas a seu modo singular de filmar, construíram através de dispositivos de criação, alguns relatos, vídeos, sons e fotografias, sendo através deste material que perpassam essa história. Nos nortearemos com algumas autoras, que juntas, também traçam tramas e vestígios- as diretrizes que Bell Hooks (2019) pontua em seu livro Olhares Negros, raça e representação nos oferece pistas preciosas de como seguir na história do cinema com a questão do olhar para os corpos negros. As questões de gênero, sexualidade, raça e classe, circundaram as aulas e foram pouso também em nossas discussões. Dentro da teoria feminista elencamos dois eixos de contribuição: de um lado autoras que desenvolvem os conceitos mais gerais ligados a abordagem de gênero e aos lugares de fala, de outro, autoras ligadas a teoria do cinema que operam num horizonte da teoria feminista em relação com a psicanálise, a estética, as teorias narrativas e a análise fílmica.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse. Práticas do vídeo ao alcance das mãos: Os Arara, TV Viva, e TV Maxambomba. In: Catálogo 15a Mostra de Cinema de Ouro Preto, p.40-45 – 1. Ed. – Belo Horizonte: Universo Produção, 2020.
    BRENEZ, Nicole. Cada filme é um laboratório. Entrevista. Revista Cinética (fevereiro, 2014). Online. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/home/entrevista-com-nicole-brenez.
    BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas. Notas para uma teoria performativa de assembleia. 1a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
    DIDI- HUBERMAN, Georges (Org). Levantes. Edições Sesc. São Paulo. 2017.
    FEDERICI, Silvia. Calibã e as Bruxas. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo. Ed. Elefante (2017).
    HOOKS, Bell. O olhar opositor: mulheres negras espectadoras. In.: Olhares negros: raça e representação. (cap-7) São Paulo: Elefante, 2019.
    ___________. Ensinando a transgredir. A educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.