Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Esquenazi Muniz (USP)

Minicurrículo

    Mestranda na linha de Cultura Audiovisual e Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA), na ECA – USP. Possui graduação em Rádio e TV pela Escola de Comunicação Social da UFRJ e especialização como colorista no curso de Altos Estudios da Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de Los Baños. Diretora, roteirista e produtora do curta “Prefiro Não Ser Identificada” (2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Puy ta Cuxlejaltic: entrar no cinema ao lado d@s zapatistas

Formato

    Presencial

Resumo

    O nome escolhido para chamar o festival de cinema zapatista, cuja primeira edição se deu em 2018 em Chiapas, no México, oferece uma oportunidade de pensar o cinema não apenas como ‘O caracol de nossas vidas’, como diz a tradução literal do nome em tzotzil Puy ta Cuxlejaltic. Este trabalho busca refletir através da análise do nome repleto de significados para cultura maia e para o EZLN, uma relação com o cinema que fortalece seus sentidos comunitários, críticos e anti-hegemônicos.

Resumo expandido

    O nome escolhido para chamar o festival de cinema zapatista, cuja a primeira edição se deu em 2018 em Chiapas, no México, oferece uma oportunidade de pensar o cinema como “o caracol de nossas vidas’, como diz a tradução literal do nome em tzotzil Puy ta Cuxlejaltic. Contudo, indo além da literalidade, este trabalho busca investigar os signos e significados presentes neste nome, escolha do movimento zapatista que aponta caminhos que conectam ancestralidades com sua relação com o audiovisual. Da sabedoria de origem maia tzotzil que designa Puy – O Caracol, símbolo do tempo espiralar e da comunicação, para Cuxlejaltic, que envolve conceitos sobre a capacidade de implicação coletiva na relação com a vida, é possível através da escolha de um nome pensar uma relação com o cinema que fortaleça sentidos comunitários, críticos e anti-hegemônicos. Retomando a imagem do caracol, que além de ser o nome dado aos centros administrativos e culturais das zonas autônomas zapatistas e ao seu primeiro festival de cinema, é um signo profundamente ancestral da relação com o tempo e com a vida para a cultura maia. Sua forma nos convoca como imagem e proposta o sentido da revisitação, na qual estaríamos sempre voltando para um mesmo ponto, só que de um lugar diferente. Assim é o movimento de uma espiral. Assim é o movimento da lembrança e da memória. O símbolo ancestral para cultura maia que designa revisitação do tempo, da memória, também designa a capacidade da comunicação. Com quase 25 anos de existência pública e mais de 35 anos organizando-se como um dos mais peculiares e relevantes movimentos da contemporaneidade no que se refere a luta indígena antissistêmica contra o capitalismo, o Exército Zapatista por Libertação Nacional (EZLN) realiza seu primeiro evento dedicado exclusivamente ao audiovisual fazendo um chamado a implicação com a vida coletiva. Se em seus primeiros dias em 1994 o EZLN foi um incômodo pesadelo para o governo mexicano ao prometerem seu avanço militar, com o passar do tempo a vontade de atrapalhar a ‘descansada’ noite do sono capitalista se converteu no desejo de exercer o próprio sonho de autonomia política. Não deixaram de sofrer ofensivas e ataques militares por parte do Estado e grupos paramilitares, muito pelo contrário. Contudo, priorizaram ocupar seus territórios através do trabalho coletivo por relações justas e horizontalizadas, que viabilizaram sistemas próprios de educação, saúde e trabalho. Fizeram do evento uma união sintonizada entre estética e política, e passados quase 25 anos investem em um evento de cinema como ponte para vivenciarem seu imaginário. O primeiro festival de cinema zapatista, cuja realização está repleta de simbologias, muito pode contribuir para pensar as relações entre cinema e emancipação política, entre o sensível e autonomia, entre o imaginário e ao direito a autodeterminação. Seu nome portanto pode ser nossa porta de entrada para entrar em um cinema comprometido com cosmologias muito outras, atentas ao comum e implicadas com a vida.

Bibliografia

    EZLN. Una invitación a: “El cine imposible”. Comisión Sexta del EZLN, octubre del 2018,Enlace Zapatista. Disponível em Acesso dezembro 2020. RIVERA CUSICANQUI, Silvia. Ch’ixinakax utxiwa – Una reflexion sobre prácticas y discursos descolonizadores. 1a ed. – Buenos Aires : Tinta Limón, 2010. BAMBA, Mahomed. A recepção cinematográfica : teoria e estudos de casos / Mahomed Bamba.- Salvador : EDUFBA, 2013. LENKERSDORF, Carlos. Filosofar en la clave tojolabal. Rocío Martinez; AmarantaCesar.