Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriela Lucena de Oliveira Coutinho (UFPB)
Minicurrículo
- Mestranda em Antropologia na UFPB (2021-), vinculada a linha de pesquisa I- Imagens, Patrimônio, Artes e Performances, bolsista CAPES 2021-2022; graduação em ciências sociais – UFPB, com ênfase em sociologia (2011-2018); pesquisadora vinculada ao grupo de pesquisa AVAEDOC – Antropologia Visual, Artes, Etnografias e Documentários.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre Barra e Bacurau: Caminhos de uma Antropologia do Cinema
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesta comunicação mostrarei um relato e reflexões teóricas ligadas ao desenvolvimento de minha pesquisa de mestrado na Antropologia Visual, que vem buscando as possíveis relações entre um filme, Bacurau (2019) e o povoado de Barra, onde grande parte do filme foi filmado. Aqui a ficção cinematográfica, através de mecanismos de identificação, acabou por se incorporar às narrativas de Barra sobre si, bem como o filme parece incorporar modos de vidas dos habitantes do povoado.
Resumo expandido
- O desenvolvimento da minha pesquisa de mestrado na Antropologia Visual é feito por meio da compreensão do filme enquanto ferramenta de observação, de criação de realidades sociais e de formulação de conhecimento sobre o mundo, sendo o filme aqui tanto o alicerce metodológico da pesquisa, uma etnografia visual, quanto um dos campos em que minha pesquisa se debruça.
Nesta comunicação pretendo mostra um relato e reflexões teóricas ligadas ao desenvolvimento de minha pesquisa de mestrado, que busca a construção de uma antropologia fílmica atrelada a uma antropologia do cinema, trabalhando com as possíveis relações entre um filme, Bacurau (2019) e o povoado de Barra, onde grande parte do filme foi filmado.
A relação entre cinema e antropologia não vem de hoje, ocorrem desde suas origens, formulando uma composição dialética onde a antropologia acompanhou o desenvolvimento do cinema enquanto linguagem, e vice-versa (BARBOSA, 2006; PIAULT, 2018). Os dois ocuparam espaços nos processos de expansão colonial do ocidente, na fomentação de um imaginário colonialista, trilhando caminhos parecidos no sentido ideológico.
A antropologia enquanto disciplina e forma de pensamento corresponde a processos históricos e sociais, também se transformando enquanto formas de compreender o mundo e o fazer antropológico.
É nesse lugar criativo, de elaborar culturas que a antropologia passa a ser compreendida pela potência política do imaginário, naquilo que Marilyn Strathern (2014) considera o potencial radical da antropologia: o de criar mundos.
O cinema, também compartilha desse potencial, trabalhando tanto na fomentação de um imaginário eurocêntrico, como também podendo contestar tal imaginário, propondo uma ampliação crítica das formas de ser e estar no mundo, atuando na produção de memórias e imaginários de determinado povo. Tanto a antropologia quanto o cinema elaboram uma crítica anticolonial.
Bacurau é constantemente remetido pela crítica à tradição cinema novista, a exemplo de um retorno e valorização de uma ideia de popular, do uso de atores não profissionais e de alegorias para expressar uma realidade subalterna nacional. Segundo Ivana Bentes (2019), o filme traça relações entre a Eztetyka da Fome e a Estética do sonho, de Glauber Rocha, em uma construção autoral que é feita no embate ao colonialismo, carregando as imagens de alegorias sangrentas.
Para a pesquisa lanço mão de um repertorio de conceitos da antropologia do cinema e visual, dos estudos fílmicos e da filosofia da estética e da visualidade. Esse repertório me guia para construções interpretativas cabíveis em uma perspectiva cientifica de base qualitativa, localizada e contextual, tanto de Bacurau, quanto de Barra, onde imergi de maneira exploratória (FRANCE, 1998) e observacional mediada por câmeras na produção de imagens animadas e sons, buscando intersecções entre a experiência fílmica da própria pesquisa em Barra e experiência fílmica de Bacurau.
A pesquisa vem investigando o que da experiência do filme (tanto espectatorial quanto da prática da produção) ficou nas narrativas de histórias de vida dos moradores do povoado, mostrando como a ficção cinematográfica, através de mecanismos de identificação, acabou por incorporar os imaginários dos moradores locais dando ferramentas para que eles fomentassem narrativas sobre suas próprias vidas; bem como, o que o filme incorpora na sua vivência e processo de realização no povoado.
Por agora chego à conclusão de que para além de seus atributos topográficos, Barra e sua gente deu o tom e cor ao filme. Os moradores tomam a cena como figurantes fazendo da “imagem um lugar comum aí onde reina o lugar-comum das imagens do povo” (Didi-Huberman, 2017, p.28).
Nesse sentido creio que o filme Bacurau se alimentou dos modos de existência do povoado, assim como os moradores de Barra se alimentaram da experiência com o filme, reelaborando formas de se narrar e de perceber o próprio espaço que habitam.
Bibliografia
- BACURAU. Direção: Kleber Mendonca Filho, Juliano Dornelles. Pernambuco: Vitrine Filmes, 2019. (132 min)
BARBOSA, Andréa; DA CUNHA, T. Edgar. Antropologia e Imagem. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2006.
BENTES, Ivana. Bacurau e a síntese do Brasil brutal. REVISTA CULT. São Paulo, Exclusivo no site, 29 de agosto de 2019. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/bacurau-kleber- mendonca-filho/
DIDI-HUBERMAN, Georges. Povos expostos, povos figurantes. vista nº1, 2017.
FRANCE, Claudine de. Cinema e antropologia. Trad. Marcius Freire. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998.
PIAULT, Marc. Antropologia e cinema. São Paulo: Ed. FAP-UNIFESP, 2018.
STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico e outros ensaios. Trad. Dullei, Iracema; Pinheiro, Jamille; Valentini, Luísa. São Paulo: Cosac Naify, 2014.