Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Saldanha (UAM)
Minicurrículo
- Pesquisadora, crítica, curadora e realizadora cearense radicada em São Paulo, escreve regularmente sobre filmes para livros, encartes e catálogos de mostras e festivais. Doutoranda em Comunicação Audiovisual pela UAM com pesquisa sobre horror francês, escreve sobre o gênero para a revista eletrônica Les Diaboliques. Integrou curadorias e júris de diversos festivais pelo país. Dirigiu Jérôme: um conto de Natal, segmento do filme Antologia da Pandemia (2020), exibido nacional e internacionalmente.
Ficha do Trabalho
Título
- Os olhos sem rosto: da rejeição à consagração como clássico cult
Formato
- Presencial
Resumo
- Em 1960, quando Georges Franju estreou Os olhos sem rosto, críticos acusaram a obra de sádica e indigna das possibilidades do diretor. O filme foi relançado em 1987 nos cinemas da França, com uma recepção unanimemente positiva da imprensa, o que mostra que de fato o filme se consagrou como um clássico do gênero, ganhando nacional e internacionalmente o status de filme cult. Interessa-nos neste trabalho nos debruçar sobre essa trajetória de filme rejeitado à sua consagração como clássico cult.
Resumo expandido
- Georges Franju foi uma figura fundamental no fomento da cinefilia e da preservação do cinema francês, trabalhando como arquivista e cofundando a Cinemateca Francesa ao lado de Henri Langlois em 1936, dois anos depois de ter dirigido seu primeiro curta-
metragem, o documentário Le metro. Ele voltaria à direção apenas quinze anos depois, com documentário O sangue das bestas (1949), em que capturou imagens reais de um matadouro parisiense. A partir daí, Franju teve uma década prolífica na produção de
curtas-metragens, sendo 14 ao todo: seis documentários e oito de ficção. O segundo longa-metragem de Georges Franju é o que se tornaria seu filme mais conhecido, Os olhos sem rosto (1960), escrito por Pierre Boileu e Thomas Narcejac com
base em um romance de Jean Redon. O longa-metragem conta a história de um cirurgião atormentado pela culpa do acidente de carro que desfigurou o rosto de sua filha e que termina obcecado em restaurar a pele dela. Para isso, ele conta a ajuda de uma ex-
paciente, cujo procedimento de cirurgia plástica fora bem-sucedido, e a mulher sai às ruas procurando e atraindo jovens para a mansão onde o cirurgião faz seus experimentos em cirurgia plástica. Contudo, sem obter resultados positivos, ele acaba fazendo diversas vítimas inocentes e se livrando de seus corpos em um rio.
Os olhos sem rosto estreou em 2 de março de 1960, em Paris. Muitas pessoas deixaram as salas de exibição, acusando a obra de sádica. A imprensa britânica falou do filme com muito desgosto e parte da crítica julgou mal o filme pelo fato do diretor ter passado
de curtas documentários autorais para um gênero considerado como menor e trivial. Aos olhos dos críticos, Franju arruinou seu talento reconhecido ao fazer um filme de um gênero “menor e indigno de suas possibilidades”. O filme foi relançado em 1987 nos cinemas, da França, em uma retrospectiva do Franju na Cinemateca Francesa, tendo uma recepção unanimemente positiva da imprensa, o que mostra que de fato o filme se consagrou como um clássico do gênero, ganhando nacional e internacionalmente o status de filme cult.
Os olhos sem rosto é um filme-chave para compreender a característica do horror francês e do europeu como um todo com os chamados filmes de arte, já que muitas vezes as linhas que o separam são bastante tênues e frequentemente apagadas, mesclando esses dois nichos e fazendo repensar a classificação do horror como um gênero menor e vulgar. Segundo o crítico Damien Love, recuperado no artigo de Marina Soler Jorge, cult é “um filme de qualquer espécie que, embora ignorado ou enterrado pelo mercado em geral e/ou pelo establishment crítico, é mantido vivo, ou ressuscitado, graças à devoção de uma parte especial do público – que muitas vezes reage positivamente aos próprios elementos extremos ou às excentricidades que foram os primeiros responsáveis pelo “fracasso” (comercial) do filme”. Pretendo, desta forma, examinar as críticas, os modos de leitura do filme, de interpretação e de avaliação estética que operam nesse discurso e o que podemos depreender desse conflito entre a expectativa e a reação da crítica quando se deparou com o produto final. Quais foram essas expectativas que o filme frustrou e por que as frustrou? E qual foi a trajetória que o filme percorreu até chegar ao status de filme clássico cult?
Bibliografia
- INCE, Kate. Georges Franju: Au-delà du cinéma fantastique. Paris : Editions L’Harmattan, 2008.
MAHOMED, Bamba. O filme cult: seus modos de recepção e seus públicos. XII Estudos de Cinema e Audiovisual Socine. Disponível em: http://mahomedbamba.com/site/wp-content/uploads/2017/12/009-1.pdf
SOLER JORGE, Marina. Aproximações possíveis entre a cinefilia e os cult movies. ArtCultura, v. 14, n. 25, 2012. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/download/26208/16267