Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Eduarda Santos Medeiros (UNISUL)
Minicurrículo
- Maria Eduarda Santos Medeiros, formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade do Sul de Santa Catarina em 2018, estudou Direção de Arte na Academia Internacional de Cinema em São Paulo e atualmente é mestranda em Direção de Arte no programa de Ciências da Linguagem da pós-graduação da UNISUL. Trabalha desde 2015 com audiovisual, tendo atuado em diversas áreas como direção, roteiro, direção de arte, maquiagem/caracterização e efeitos especiais, e também com edição e montagem.
Ficha do Trabalho
Título
- A Caracterização do Corpo Gordo em “Dumplin'” e “Shrill”
Seminário
- Estética e teoria da direção de arte audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Esse trabalho pretende abordar a Direção de Arte e principalmente a área da Caracterização em duas obras audiovisuais onde tem o corpo gordo da mulher como protagonista, e analisar o processo de criação dessas personagens, a relação que as imagens tem com a memória e a história desses corpos através do tempos e dentro do audiovisual: como a memória e as projeções sensíveis (NECKEL 2010) se marcam nas produções de Dumplin’ (2018) e Shrill (2019) determinando os sentidos sobre os corpos gordos?
Resumo expandido
- O cinema é criador de imagens e, consequentemente, criador de memórias. Ele é uma grande potência, possível de atingir o público numa escala inimaginável. Devido a sua história e expressão artística, o cinema cria então uma nova forma de linguagem: a linguagem cinematográfica. Neste trabalho, mergulharemos mais afundo nessa linguagem, nos focando mais necessariamente na linguagem da Direção de Arte, principalmente na caracterização dos personagens – linguagem essa que não será tratada de uma forma estrutural, mas a partir da sua relação com memória e imagem. Não se trata apenas de transpor do verbal para o visual, pois assim estamos tratando a linguagem cinematográfica de uma forma gramatical e estrutural, e apesar do cinema ter sim uma característica técnica, ele não é apenas isso: ele também envolve memória, inscrição do sujeito e um processo significativo de criação e produção. A imagem é compreendida por outro viés, não mais na transparência justamente porque um discurso atravessa e constitui. Essa concepção aponta que, nesse trabalho, a imagem será tomada na contramão de um pensamento ordinário que produz a máxima de que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Não se trata, em nossa leitura, de uma questão de valor ou quantidade, e sim, uma questão de memória, de sentidos produzidos no e pelo laço sócio-histórico. A Direção de Arte, escopo de análise, é a responsável por reproduzir todo o ambiente e caracterizar os personagens de um roteiro para o mundo tridimensional; ela constrói metáforas, leva em consideração, não apenas os aspectos físicos e psicológicos de cada história a ser criada; mas considera todo o complexo das narratividades a serem apresentadas, a fim de contribuir com os efeitos de veracidade do filme. É o conjunto de efeitos de veracidade que possibilita ao espectador um mergulho no mundo criado – por mais surreal que ele possa ser. Se trata da criação de imagem, da mise-en-scène, de formas de expressão estética e da criação de uma memória visual. Como a direção de arte pode mudar a visão de um filme, a visão do mundo? O ponto de partida de uma obra é geralmente pelo roteiro, onde recebemos de forma escrita falas e descrições das profundidades, porém, cabe à direção e à Direção de Arte corporificar por meio das imagens determinados contextos sociais, muitas vezes acrescentando e criando aspectos diferentes para essa história, sempre em prol de deixá-la mais rica e com mais camadas narrativas, deixando-a com uma maior profundidade. Que memórias e referências estéticas podem se marcar em processos criativos da direção de arte na narrativa visual de um filme e nas caracterizações de seus personagens? Pode a Direção de Arte e caracterização de personagem carregarem marcas ideológicas e/ou estereótipos dos laços sociais no qual se inscrevem os roteiristas e os diretores das variadas áreas do audiovisual? Como é possível, a partir da Direção de Arte, romper com certos modos de violência das representações visuais? Como a Direção de Arte produz sentidos e estesias do filme? Como as referências estéticas e artísticas marcam determinadas posições sociais fazendo funcionar os efeitos ideológicos ou produzindo rupturas de sentidos já naturalizados como, por exemplo, a respeito do corpo gordo? Como funcionam e se mantêm os constructos sociais? Como a memória e as projeções sensíveis (NECKEL, 2010) se marcam nas produções de Dumplin’ (2018) e Shrill (2019) determinando os sentidos sobre os corpos gordos no cinema através da caracterização de personagem? A partir da análise – e comparação – dessas duas obras audiovisuais, através das imagens e das representações do corpo gordo, veremos como a linguagem influencia os discursos das imagens e a importância das figuras presentes no processo criativo das obras; “o modo como a memória se diz no sujeito, pela narratividade, atesta os processos identitários e os efeitos ideológicos, na constituição do sentido.” (ORLANDI, 2017, p. 310)
Bibliografia
- CANTRELL, Amber. Freaking Fatness through History: Critical Intersections of Fatness and Disability. Charleston, USA: College of Charleston, 2013.
HAMBURGER, Vera. Arte em cena: a direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Sesc SP, 2014.
MELLO, Júlia Almeida de. O corpo gordo: diálogos poéticos em Elisa Queiroz e Fernanda Magalhães. Universidade Federal do Espirito Santo, ES: 2015
MICHAUD, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
MOURA, Carolina Bassi de. A direção e a direção de arte: construções poéticas da imagem em Luiz Fernando Carvalho. f. Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
NECKEL, Nádia. Tessitura e Tecedura: Movimentos de compreensão do Artístico no Audiovisual
Tese de Doutorado –Instituto de Estudos da Linguagem – UNICAMP, 2010
ORLANDI, Eni. Eu, Tu, Ele – Discurso e real da história. Campinas – SP: Pontes Editores, 2017.