Ficha do Proponente
Proponente
- João Pedro Jacobe dos Santos (UFRJ)
Minicurrículo
- Mestrando em Tecnologias de Comunicação e Estéticas (ECO – UFRJ). Atua no mercado audiovisual produzindo e apresentando programas para canais de televisão, filmes e campanhas publicitárias. Trabalhou nas produtoras Cine Group e Fábrika Filmes e realizou trabalhos para grandes clientes, como Tv Globo e Tv Bandeirantes. Durante a graduação, foi estagiário em diversos festivais de cultura, como o 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ficha do Trabalho
Título
- O vídeo vertical e a transformação do dispositivo cinematográfico
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- O aplicativo de mídia social mais baixado do mundo desde 2020, o TikTok, funciona a partir do compartilhamento de vídeos e filmes que preenchem a tela na vertical. Mas para o TikTok, o Instagram Reels e o Youtube Shorts, a questão vai além da proporção de tela e engloba uma maneira de se conceber, produzir e consumir audiovisual. A partir da visão de Parente (2017), cabe então perguntar: de que modo o filme vertical transforma o dispositivo do cinema em suas dimensões tecnológicas e discursivas?
Resumo expandido
- Se um vídeo horizontal é postado no TikTok, no Instagram Reels ou no Youtube Shorts — preenchendo apenas um terço da tela vertical e deixando duas bordas pretas acima e abaixo do vídeo — o usuário terá de apertar os olhos para enxergar as imagens. Tal incômodo não acontece quando o vídeo está na vertical e preenche a tela completamente.
Em sua página de suporte à produção de anúncios online para dispositivos móveis, a Google (2021) destaca que “os vídeos verticais são mais adequados à intenção natural do usuário de assistir ao vídeo no modo vertical”. É provável que os vídeos verticais sejam o formato mais compatível com a usabilidade de dispositivos móveis — especialmente no caso dos smartphones, aparelhos retangulares utilizados verticalmente.
O TikTok pode ser considerado um fenômeno na história da comunicação após se tornar o aplicativo de mídia social mais baixado do mundo desde 2020 (CNN, 2020). Diante da amplificação do consumo de filmes verticais, e de um certo movimento de verticalização da imagem, é possível identificar o surgimento de iniciativas profissionais e artísticas voltadas a esse formato. É o caso do Vertical Film Festival (VFF), festival australiano que conta com um extenso catálogo de obras e da organização Vertical Cinema (verticalcinema.org), também australiana, dedicada à projeção de filmes experimentais em telas verticais. No TikTok, chamam atenção os perfis que abrigam obras independentes pensadas e produzidas exclusivamente para a plataforma, como no caso do @verticalshortfilm — iniciativa do 25° Bucheon International Fantastic Film Festival (BIFAN), festival coreano que criou uma mostra com filmes verticais.
Além do TikTok, é possível identificar a presença de filmes verticais em outras plataformas, como no Instagram Reels e no Youtube, aplicativo até então caracterizado pelo consumo de vídeos horizontais e que, recentemente, criou a plataforma Youtube Shorts, dedicada exclusivamente a vídeos curtos na vertical.
Xavier (2005) aponta dois termos limítrofes para explicar a experiência audiovisual: a transparência e a opacidade. Para o autor, a transparência se refere à uma janela, um espaço aberto na parede que dá acesso a outra realidade, tridimensional — como se essa realidade observada fosse possivelmente um mundo real que proporciona um mergulho do espectador no enredo (XAVIER, 2018). Ao estarmos mergulhados na transparência e, portanto, na narrativa, vemos menos as dimensões materiais que envolvem a exibição. Por outro lado, à medida em que o espectador se dá conta da materialidade do filme, o vidro que separa os dois mundos fica mais opaco, tornando possível que o espectador observe a superfície de exibição e as construções que envolvem a obra (XAVIER, 2018).
Porém, o que acontece quando a janela muda de proporção e vai para a palma das mãos, criando um outro ambiente midiático? Como dar conta da complexidade que envolve a produção audiovisual ligada às novas mídias? Parente (2017), por exemplo, versa sobre a diversidade de cinemas para além da forma narrativa convencional e busca enxergar o dispositivo cinematográfico a partir de suas diversas dimensões, considerando a complexidade dele no cenário das novas mídias e, assim, propondo caminhos de análise para além do cinema convencional. Essa perspectiva parece contemplar com mais precisão a diversidade de possibilidades no audiovisual, como o caso do filme vertical no TikTok.
Como ferramenta para responder à inquietação acima, é possível tomar a seguinte pergunta: “[…] de que modo as novas mídias transformam o dispositivo do cinema em suas dimensões primordiais, quais sejam, a arquitetônica (condição de projeção das imagens), a tecnológica (produção, edição, transmissão e distribuição das imagens) e a discursiva (decupagem, montagem, etc.)?” (PARENTE, 2017, p.21). Ora, seguindo tal pensamento, cabe perguntar: de que modo o filme vertical no TikTok transforma o dispositivo do cinema em suas dimensões tecnológicas e discursivas?
Bibliografia
- CNN (Brasil) (ed.). TikTok vence Facebook e vira o aplicativo com mais downloads em 2020. 2020. Acesso em: 10 dez. 2020.
COPELAND, M. (ed.). The exhibtion of a film/ L’exposition d’un film. Genéve. Les presses du reel, 2015.
PARENTE, André. A forma cinema: variações e rupturas. In: MACIEL, Katia (org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2017. p. 21-46.
GOOGLE (Brasil) (org.). Usar vídeos quadrados e verticais para atrair clientes em dispositivos móveis. 2021. Acesso em: 29 maio 2022.
MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & pós cinemas. Papirus Editora, 1997.
MENOTTI, Gabriel (org.). Curadoria, cinema e outros modos de dar a ver. Vitória, ES: EDUFES, 2018.
MENOTTI, Gabriel. Discourses around vertical videos: an archaeology of “wrong” aspect ratios. ARS (São Paulo), v. 17, p. 147-165, 2019.
XAVIER, Ismail. A experiência do cinema. Editora Paz e Terra, 2018.
XAVIER, I. O Discurso Cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.