Ficha do Proponente
Proponente
- Letícia Gomes de Assis (UFSCar)
Minicurrículo
- Possui graduação em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (2018). Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som (PPGIS/UFSCar), com bolsa de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Integra o Grupo de Pesquisa Cinema e Audiovisual na América Latina: Economia e Estética.
Ficha do Trabalho
Título
- Os cursos de Cinema da UNL e da UnB: experiências teórico-práticas
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Formato
- Presencial
Resumo
- Os cursos de Cinema oferecidos pelo Instituto de Cinematografía da Universidad Nacional del Litoral (UNL), na Argentina, e pela Universidade de Brasília (UnB), no Brasil, estão entre as primeiras experiências de ensino superior de Cinema em seus respectivos países. Neste sentido, propomos o estabelecimento de comparações entre as duas iniciativas, a fim de investigar a centralidade conferida às relações entre teoria e prática, no quadro do ensino superior de cinema na Argentina e no Brasil.
Resumo expandido
- Os cursos de Cinema oferecidos pelo Instituto de Cinematografia da Universidad Nacional del Litoral (UNL), na Argentina, e pela Universidade de Brasília (UnB), no Brasil, estão entre as primeiras experiências ligadas a instituições públicas de ensino superior em seus respectivos países. Ambas as instituições foram implantadas entre o fim da década de 1950 e a primeira metade da década de 1960, período em que o cinema se aproximava da universidade, por diferentes vias, também em outros países da América Latina, como Uruguai, Chile e México (PARANAGUÁ, 1985, p.72).
O Instituto de Cinematografia da UNL, localizado na cidade de Santa Fé, capital da província homônima, iniciou suas atividades em 1957, sob a direção do cineasta Fernando Birri, que permaneceu na condução da instituição até 1962 (BIRRI, 1964). Em seus anos iniciais, as atividades da escola envolveram a produção de filmes, em especial documentários, a veiculação de textos em tom de manifesto, e a publicação de livros, como Historia del Cortometraje Argentino (1961), do crítico Jose Agustín Mahieu. No caso dos textos, estas reflexões foram sistematizadas principalmente em escritos de Fernando Birri, como é o caso de “Por un Cine Nacional, Realista y Crítico”, apresentado no programa de exibição de Tire dié (Fernando Birri, 1958/60), primeira produção cinematográfica do curso (idem, p. 51-52).
No Brasil, o curso de Cinema na Universidade de Brasília (UnB) teve início em 1965. Seu principal articulador foi o crítico e historiador Paulo Emílio Sales Gomes (AUTRAN, 2013, p.286), que durante o curso ministrou disciplinas teóricas como “Cinema Brasileiro” e “História do Cinema”, nas quais atuaram como instrutores os críticos Lucilla Ribeiro Bernardet e Jean-Claude Bernardet, respectivamente (SALES GOMES, 1965-1965, PE/PI 0667). Também o cineasta Nelson Pereira dos Santos foi um dos professores da iniciativa, oferecendo as disciplinas de “Prática Cinematográfica” e “Técnica Cinematográfica”, a partir das quais realizou, em conjunto com os estudantes, o documentário Fala Brasília (Nelson Pereira dos Santos, 1966), única película produzida durante a experiência (SOUZA, 2004, p.427).
Em 1965 organizou-se a estrutura curricular do curso, que faria parte de uma futura Faculdade de Comunicação de Massas, idealizada pelo jornalista e professor na universidade Pompeu de Souza (AUTRAN, 2013, p.286). O projeto, no entanto, nunca foi concretizado e a experiência do curso de Cinema durou apenas dois semestres, sendo logo desarticulada devido à crise política instaurada na universidade após o golpe militar de 1964 (SOUZA, 2004, p.429-430).
Retomando o processo de estruturação dos cursos de Cinema, identificamos que tanto na UNL como na UnB, a inserção do cinema nas instituições promoveu possibilidades de produção cinematográfica, assim como de reflexões teóricas e históricas em torno desta atividade. Além disso, ocorreram trânsitos diretos entre Argentina e Brasil, através do estágio dos brasileiros Maurice Capovilla e Vladimir Herzog no Instituto da UNL, e da viagem de Fernando Birri ao Brasil entre 1963 e 1964, após Birri deixar a direção do Instituto de Cinematografía (LIMA, 2017, p.103-110; CAPOVILLA, HERZOG, 1963).
Para além da destas aproximações, cabe destacar que cada caso traduziu questões pertinentes aos seus contextos sociais, políticos e culturais de forma particular. Com base nas considerações de Lusnich (2014), propomos o estabelecimento de comparações, em conjunto com a discussão da circulação de pessoas e ideias entre os dois países, como forma de investigar aproximações e distanciamentos entre estas propostas, refletindo sobre a centralidade conferida à relação entre teoria e prática, e também à produção cinematográfica de caráter documental, nos primórdios ensino superior de cinema na Argentina e no Brasil.
Bibliografia
- AUTRAN, A. O Cinema no Campo da Comunicação. In: LIMA, J.C.G.R.; MELO, J.M. (Org.). Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil 2012/2013. Brasília: IPEA, 2013, v. 4, p. 275-291.
CAPOVILLA, M., HERZOG, V. [Carta]. Destinatario: J.C. Bernardet. Santa Fé, 24 jul. 1963.
GOMES, P.E.S. Justificativa do curso de técnica e história do cinema. Brasília: Cinemateca Brasileira; Coleção Paulo Emílio Sales Gomes, 1964/1965, PE/PI 0146.
SOUZA, J.I.M. Paulo Emílio no Paraíso. São Paulo: Record, 2002.
PARANAGUÁ, P.A. Cinema na América Latina: longe de Deus e perto de Hollywood. Porto Alegre: L&P Editores Ltda., 1985.
BIRRI, F. La escuela documental de Santa Fe. Santa Fe: Ed. Documento de la UNL, 1964.
LUSNICH, A.L. Del comparatismo al transnacionalismo Bases para un estudio del cine argentino y mexicano del período clásico-industrial. TOMA UNO, n. 3, p. 99-110, 7 oct. 2014.
LIMA, M.C.A. Fernando Birri: Criação e resistência do novo cinema na América Latina. São Paulo: Papagaio, 2017.