Ficha do Proponente
Proponente
- Rodolfo Stancki (PUCPR)
Minicurrículo
- Rodolfo Stancki é jornalista e autor do livro A Zona Crepuscular (2021). Organizou os livros O Melhor do Terror dos Anos 80 (2020) e O Melhor do Terror dos Anos 90 (2021). É autor de uma coluna semanal sobre cinema de horror no portal de jornalismo cultural A Escotilha. É professor universitário dos cursos de Jornalismo e Cinema da PUCPR e doutor em Tecnologia e Sociedade pela UTFPR. Apresenta o podcast mensal Hora do Espanto.
Ficha do Trabalho
Título
- O ataque de Jujuba: rastros do imaginário kaiju no cinema brasileiro
Formato
- Remoto
Resumo
- O presente trabalho traz os resultados iniciais de uma pesquisa que busca identificar imagens no cinema brasileiro que dialoguem com o imaginário dos filmes kaiju. O gênero é inaugurado com Godzilla (1954), de Ishirô Honda, e é definido como narrativas com monstros gigantes. A filmografia nacional referencia esse imaginário como paródia ou homenagem em obras como Costinha e o King Mong (1977), O Trapalhão na Arca de Noé (1983), Zoando na TV (1999), Mar Negro (2013) e A Mata Negra (2018).
Resumo expandido
- Em Zoando na TV (1999), Ulisses, interpretado por Márcio Garcia, é levado por Lana Love, Danielle Winits, a um cenário com prédios de papelão. É uma cidade em miniatura, estranha ao personagem do filme de José Alvarenga Jr. Enquanto o herói, agora um gigante numa metrópole falsa, tenta entender onde está, no fundo da cena aparece um monstro determinado a destruí-lo.
Produzida e estrelada por Angélica, a popular comédia da Globo Filmes mostrava as aventuras de um casal que interagia com o imaginário televisivo dos anos 90 no Brasil. Estavam ali referências a programas de auditórios, seriados médicos e telenovelas, entre outros.
A cena descrita acima fazia referência às narrativas de monstros gigantes da televisão e do cinema japonês. Há, ali, um indício de que as imagens dos filmes kaiju eram percebidas e poderiam até mesmo ser recriadas pela filmografia brasileira.
O presente trabalho traz os resultados de uma pesquisa, ainda em fase exploratória, que busca identificar referências ao imaginário kaiju no cinema nacional. A reprodução de ideias, elementos e imagens da produção cinematográfica estrangeira faz parte da lógica da nossa filmografia desde o início do século XX. Bernadette Lyra (2007, p. 144) aponta que o pioneiro Afonso Segreto, que praticamente inaugurou os registros com câmeras no país, já criava filmes de olho nas tendências do que fazia sucesso lá fora.
Referenciar, parodiar ou homenagear o que vinha dos Estados Unidos e da Europa tornou-se um hábito para os realizadores brasileiros. Isso ocorreu com os musicais (LYRA, 2007), com as ficções científicas (SUPPIA, 2006), com os faroestes (PEREIRA, 2002) e com o horror (CÁNEPA, 2008).
Essa intertextualidade com o cinema estrangeiro caracteriza também as referências ao imaginário kaiju pelas obras nacionais. Jujuba, o réptil gigante de Zoando na TV serve de exemplo de como essas narrativas se conectam no imaginário materializado pela tela. A caracterização do monstro – na fantasia, nos gestos e no cenário – reproduz, mesmo que sem intenção, o que se vê em títulos como Godzilla (1954), Mothra, a Deusa Selvagem (1961) e Gamera (1965), entre tantos outros.
Os pesquisadores Sean Rhoads e Brooke McCorkle definem o gênero daikaijū eiga como filmes japoneses de monstros gigantes (2018, p. 1). A obra inaugural seria Godzilla (1954), de Ishirô Honda, que traria as características básicas desse imaginário: uma criatura de enormes proporções destruindo edificações construídas por seres humanos.
Embora o conceito de um cinema kaiju tenha origem documentada no Japão da década de 1950, esse tipo de produção foi um fenômeno global – antes e depois de Godzilla. Jason Barr (2016) afirma que produções com monstros gigantes existiam desde a era do cinema mudo. Não por acaso, o próprio autor enquadra obras ocidentais como King Kong (1933), O Monstro do Mar (1953) e Gorgo (1961) como parte do mesmo gênero.
O cinema brasileiro não tem tradição de produzir narrativas e imagens kaijus, como o Japão e os Estados Unidos. Uma metodologia para o levantamento de títulos que acionem o imaginário de grandes criaturas que destroem construções humanas precisa ser constituída de maneira exploratória, assistindo a filmes de diferentes períodos e características.
Inicialmente, são identificados apenas cinco longas-metragens em live action que se enquadram nessa definição. Seriam eles: Costinha e o King Mong (1977), de Alcino Diniz; O Trapalhão na Arca de Noé (1983), de Del Rangel; o já citado Zoando na TV (1999), de José Alvarenga Jr; e Mar Negro (2013) e A Mata Negra (2018), ambos de Rodrigo Aragão. Vale destacar também o curta-metragem O Solitário Ataque de Vorgon (2010), de Caio D’Andrea.
É importante salientar que a presença dos monstros gigantes na filmografia nacional são apenas índices de que existe uma intertextualidade com o imaginário do cinema kaiju. Identificá-los nos ajuda a entender como as fitas brasileiras lidam com imagens que são mais recorrentes nos filmes estrangeiros.
Bibliografia
- BARR, Jason. The Kaiju Film: A Critical Study of Cinema’s Biggest Monsters.Carolina do Norte: McFarland & Company, 2016.
CÁNEPA, Laura. Medo de que? Uma história do horror nos filmes brasileiros. Tese de Doutorado, Unicamp, 2008.
LYRA, Bernadette. A emergência de gêneros no cinema brasileiro: do primeiro cinema às chanchadas e pornochanchadas. Conexão: Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 6, n. 11, jan./jun. 2007.
PEREIRA, Rodrigo da Silva. Western feijoada: o faroeste no cinema brasileiro. Dissertação de Mestrado, Unesp, 2002.
RHOADS, Sean; MCCORKLE, Brook. Japan’s green monsters: environmental commentary in Kaiju cinema. Carolina do Norte: McFarland & Company, 2018.
SUPPIA, Alfredo. Ficção científica no cinema brasileiro: que bicho é esse? In: LYRA, B; SANTANA, G. Cinema de Bordas. São Paulo: Editora a lápis, 2006.