Ficha do Proponente
Proponente
- João Victor de Sousa Cavalcante (UFPE)
Minicurrículo
- Cientista social, doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde desenvolve pesquisa sobre as figurações políticas da monstruosidade na literatura e na cultura visual. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do grupo Narrativas Contemporâneas (PPGCOM/UFPE). E-mail: joaosc88@gmail.com.
Ficha do Trabalho
Título
- Notas sobre a relação humano/animal em O Fantasma e Wolf
Formato
- Remoto
Resumo
- O trabalho propõe uma leitura comparada dos filmes O Fantasma (João Pedro Rodrigues, 2000) e Wolf (Nathalie Biancheri, 2021), a partir da relação entre corpo, desejo e animalidade. O objetivo é pensar as dinâmicas entre o humano e a animalidade como a proposição de modos de existir e de habitar o mundo. Interessa, sobretudo, entender essas relações a partir de filiações e devires que subvertem modos canônicos de pensar corpo, identidade e reconhecimento.
Resumo expandido
- O trabalho propõe uma leitura comparada dos filmes O Fantasma (João Pedro Rodrigues, 2000) e Wolf (Nathalie Biancheri, 2021), a partir da relação entre corpo, desejo e animalidade. O objetivo é pensar as dinâmicas entre o humano e a animalidade como a proposição de modos de existir e de habitar o mundo. Interessa, sobretudo, entender essas relações a partir de filiações e devires que subvertem modos canônicos de pensar corpo, identidade e reconhecimento.
A investigação propõe a hipótese de que as relações entre humanidade e animalidade, ao engajar criativamente pontos de vista não antropocêntricos, produzem modos outros de existir e experienciar o mundo. Nos dois filmes, a relação com o animal não é estabelecida a partir de posicionamentos fixos da alteridade e do reconhecimento da diferença, mas sim como fronteiras móveis e heterogêneas. Em O Fantasma e em Wolf, o animal surge como uma possibilidade de variação ontológica dos sujeitos. A animalidade intersecta o desejo, o uso dos corpos, os modos de habitar a vida comum e as possiblidades de existir fora do domínio de uma inteligibilidade cultural normativa.
Nesse sentido, ao comparar os dois filmes, interessa menos elencar as semelhanças observadas do que entender como as narrativas trazem o corpo e animalidade para o centro de uma disputa política. A variação ontológica perpetrada pela filiação com o animal abre espaço para a discussão sobre qual vida política é possível para os corpos que desviam das partições binárias que conceituam o sujeito humano.
Nos filmes, a distinção tradicional entre natureza e cultura não pode ser acionada para explicar as variações intensivas do corpo e dos sujeitos no filme. A insurgência desses sujeitos implica em uma subversão do domínio interno da cultura e de suas modalidades de inclusão excludente que conceituam a natureza. Nessa episteme disciplinar, a animalidade e a natureza são relegadas ao domínio do outro: do selvagem, do incontrolável, do desviante, dos anormais.
Nesse sentido, essa investigação busca explorar a subversão dessa dicotomia a partir dos modos de vida das pessoalidades dissidentes dos filmes. Em lugar de fronteiras rígidas e de um reconhecimento com base na exclusão do animal, os filmes abrem espaço para pensar os corpos a partir do devir-animal (Deleuze e Guattari, 2012) e do perspectivismo (Viveiros de Castro, 2020), que indica que o mundo é habitado por pessoas humanas e não humanas, que experimentam o mundo a partir de uma multiplicidade de pontos de vista.
O Fantasma e Wolf apresentam corpos queers que derivam pelos espaços fílmicos e entram em disputa com as instâncias disciplinares. A variação do corpo conduz os personagens para zonas de mobilidade ontológica, modos de vida que agenciam elementos não antropocêntricos e que não tem a noção de humano como eixo central. Trata-se de uma intensificação das zonas de vizinhança e de filiação a partir do corpo, em dinâmicas que relacionam desejo, afeto, dissidência e que promovem modos outros de existência e de vida política.
Metodologicamente, o trabalho faz uma leitura comparada das duas obras, em ressonância com outras imagens da cultura visual e da literatura. Interessa menos pensar os filmes em termos de equivalências, mas sim investigá-los a partir dos pontos de vizinhança e dos modos como são pensadas relações com animalidade. Para isso, o estudo busca pensar os filmes a partir do conceitos de perspectivismo e multinaturalismo (Viveiros de Castro, 2018; 2020) e de devir-animal (Deleuze e Guattari, 2012). Os procedimentos teóricos são conduzidos a partir de um olhar que faz dialogar biopolítica e teoria queer (Butler, 2019; Giorgi, 2016).
Bibliografia
- AGAMBEM, Giorgio. O Aberto. O homem e o animal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
BUTLER, Judith. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: N-1 Edições, 2019.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs (vol.4). São Paulo: Editora 34, 2012.
GIORGI, Gabriel. Formas Comuns: animalidade, literatura, biopolítica. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas Canibais: elementos para uma antropologia pós-estruturalista. São Paulo: Ubu Editora, 2018.
_______________________________. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Ubu Editora, 2020.