Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Annádia Leite Brito (PPGCOM-ECO/UFRJ)

Minicurrículo

    Annádia Leite Brito é doutora em Tecnologias da Comunicação e Estéticas pelo PPGCOM-ECO/UFRJ e mestre em Poéticas da Criação e do Pensamento em Artes pelo PPGARTES-ICA|UFC. Formada pela Escola de Audiovisual da Vila das Artes-PMF, especialista em Audiovisual em Meios Eletrônicos e graduada em Direito, ambos pela UFC.

Ficha do Trabalho

Título

    A parada na imagem em A namorada do meu pai e proibido pular.

Formato

    Remoto

Resumo

    As obras A namorada do meu pai (2011), de Lara Vasconcelos e Luciana Vieira, e proibido pular. (2012), de Lucas Coelho, trazem o estancamento momentâneo do fluxo para ressaltar passagens importantes. No entanto, tal gesto comum estabelece diferentes relações temporais: a bifurcação e adensamento. Através da discussão sobre esses trabalhos são introduzidas as estéticas dos interstícios, conceito plural de composições variáveis entre o fixo e o movimento articuladas através de tecnologias mistas.

Resumo expandido

    A namorada do meu pai (2011) foi realizado por Lara Vasconcelos e Luciana Vieira ao vasculhar o arquivo de filmes em Super-8 do pai de Vieira. Elas começaram a fabular a partir de uma imagem de mulher que aparecia em um registro na praia. Vasconcelos articulou o texto, enquanto Vieira conduziu a montagem e deu voz às palavras. Com isso, elas construíram um Filme Sachê de trinta e quatro segundos, que ganhou prêmio no Festival do Minuto da Universidade Federal do Ceará (UFC) e obteve menção honrosa no Festival Universitário Nóia de 2011.

    O curta-metragem proibido pular. (2012) tem três minutos e dez segundos e foi dirigido por Lucas Coelho. Em 2011, Coelho era aluno da segunda turma do Curso de Realização em Audiovisual da Vila das Artes (EAV) e encabeçou o projeto O dia em que levei Eisenstein para passear na praia – documentário de deriva pela Praia de Iracema (Fortaleza-Ce) e posterior trabalho de montagem baseado nos preceitos eisensteineanos. Esse material foi retomando em 2012, no curso Documentário – Ensaio como forma, ministrado por Alexandre Veras, Beatriz Furtado e Felipe Ribeiro, e, de sua edição, resultou probido pular., determinante para o ingresso do autor na Escuela Internacional de Cine y Televisión – EICTV em Cuba, onde se formou como técnico de som.

    Na primeira obra, a imagem da mulher filmada pelo pai de uma das realizadoras, leva à questão de que ela poderia ter sido sua mãe. Já na segunda, há um ensaio sobre a região da Praia de Iracema e a especulação de sua gentrificação a partir de uma megaobra do Governo do Estado do Ceará destinada ao turismo, assim, os meninos da comunidade do Poço da Draga que têm sua existência desqualificada pelo poder público são reconhecidos nos atos de resistência de seus pulos das pontes sobre o mar.

    Em ambos os curtas há estancamentos no fluxo, porém, eles não levam a uma mesma consequência temporal. A namorada do meu pai traz três paradas na imagem em movimento. Cada uma delas é pontuada anteriormente por frases que, em conjunto com a fixidez, lançam dúvidas sobre o status da imagem e incitam a fabulação através de bifurcações temporais. Em proibido pular. é a ação dos corpos que determina o momento do congelamento. É o adensamento temporal no perdurar do ápice de um pulo sobre a ponte em direção ao mar que leva à palavra, como um desaguar da transgressão.

    As estéticas dos interstícios são pensadas como transformações. São composições variáveis entre o fixo e o movimento articuladas através de tecnologias mistas – nesses casos, super-8 e digital. Buscam não ser aprisionadas e se esquivam de formas rígidas por meio dos desvios presentes nas obras.

    Pode-se dizer que as estéticas dos interstícios como conceito se relaciona diretamente com os interstícios deleuzeanos (2005) – localizados entre as imagens e estabelecendo uma diferença de pontencial que produz algo novo – e com o entre-imagens de Bellour (1997) – formulação fundamental que foi e é responsável por priorizar os trânsitos e as impermanências entre os meios ao invés de suas especificidades e que alarga o conceito deleuzeano, estendendo-o para compreendê-lo também como um interstício interno à imagem e que, ainda assim, oferece a mudança de estado, a diferença de potencial.

    A parada na imagem pertence às estéticas dos interstícios, assim como o encadeamento de imagens fixas no movimento apresentado nas obras 4000 disparos (2010), de Jonathas de Andrade; A festa e os cães (2015), de Leonardo Mouramateus; e Monstro (2015), de Breno Baptista, e debatidos em apresentação e texto no Encontro da SOCINE de 2017, 2018 e 2019. Naquele período, a seguinte pesquisa se encontrava em desenvolvimento e agora traz parte dos frutos de tese defendida em 2021.

Bibliografia

    BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: Foto, cinema, vídeo. Tradução de Luciana A. Penna. Campinas, SP: Papirus, 1997.

    ______. Concerning “the photographic”. In: BECKMAN, Karen; MA, Jean (Org.). Still moving: between cinema and photography. Durham: Duke University Press, 2008.

    CAMPANY, David. Photography and Cinema. London: Reaktion Books, 2008.

    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.

    LAPOUJADE, David. Deleuze, os movimentos aberrantes. São Paulo: n-1 edições, 2015.

    VASCONCELLOS, Jorge. Deleuze e o cinema. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2006.