Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Samuel Alves Moreira Brasileiro (UNIFOR)

Minicurrículo

    Samuel Brasileiro é mestre pelo PPGCOM-UFC (Linha 1: Fotografia e Audiovisual) e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Já dirigiu sete curtas-metragens exibidos e premiados em festivais nacional e internacionais. É roteirista do filme “Pacarrete”, criador da série “Lana & Carol” e diretor do longa-metragem “O Animal Sonhado”. Em 2018, coordenou a Escola de Audiovisual do CCBJ. Em 2020 e 2021, foi professor da Especialização em Audiovisual da Uni7.

Ficha do Trabalho

Título

    Caminhadas Coletivas: Cidade e coreopolítica em Temporada (2018)

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente comunicação se propõe em analisar a construção da cidade no filme “Temporada” (2018), dirigido por André Novais Oliveira, a partir das caminhadas coletivas realizadas pelos personagens pelas ruas de Contagem ao longo do filme. Em diálogo com os conceitos de caminhada como prática estética (CARERI, 2002; CHAUVIN, 2019), cidade (COMOLLI, 2015) e território (ZAN, 2020; SODRÉ, 2002), deseja-se analisar como o ato de caminhar do filme mineiro constitui uma coreopolítica (LEPECKI, 2012).

Resumo expandido

    A presente comunicação se propõe em analisar a construção da cidade no filme “Temporada” (2018), dirigido por André Novais Oliveira, a partir das caminhadas coletivas realizadas pelos personagens pelas ruas de Contagem ao longo do filme. O trabalho surge da dissertação de mestrado “Não se filme o mesmo quintal duas vezes: Abordagens Espaciais nos Filmes de André Novais Oliveira”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. A análise do filme partiu do desenvolvimento de um vídeo-ensaio intitulado “Caminhadas Coletivas”.
    As relações entre o cinema e a cidade apontam desde as primeiras imagens produzidas pelo cinematógrafo. A aceleração do movimento dos centros urbanos propunha experiências estéticas similares às imagens em movimento. Jean-Louis Comolli (2015, p. 188, tradução nossa) ao analisar os filmes dos Irmãos Lumière propõe pensarmos em uma ideia de “cidade-tempo”. A cidade se constituiria pela movimentação de entradas de quadro com a caminhada dos transeuntes. Além disso, os filmes como “Berlim: Sinfonia de uma cidade grande” (1927, dir. Walter Ruttmann), “São Paulo Sinfonia de uma Metrópole” (1929, dir. Rudolf Rex Lustig e Adalberto Kemeny) e “A propósito de Nice” (1930, dir. Jean Vigo), conhecidos como sinfonia das cidades, também se tornam importantes marcas da relação com o cinema e o movimento a partir de uma forma sinfônica de observar o cotidiano (FLORES, GUIMARÃES, 2020).
    Em “Temporada”, a cidade se revela não apenas pelas paisagens urbanas enquadradas, mas também pelas caminhadas realizadas por Juliana, Russão, Hélio e os outros colegas durante os turnos de trabalho. Ao se propor em falar sobre a vida dos funcionários de uma repartição pública responsável pelo controle de endemias, Novais Oliveira proporciona uma conexão entre o cotidiano da rua e do trabalho, que surge nos passos dos personagens à medida que pedem licença para entrar na casa dos moradores. O conceito de caminhada é trabalho por autores como Francesco Careri (2002) e Irene Depetris Chauvin (2019) como uma prática estética – seja em um pensamento urbanístico ou como construção de uma geografia afetiva no cinema. Como nos diz Chauvin (2019, p. 141, tradução nossa)“Ao considerar o “caminhar” como o começo da arquitetura, Careri propõe outra história do “habitar”, que não são os assentamentos, as cidades e os edifícios senão melhor, aquela dos movimentos, dos deslocamentos e dos fluxos”.
    A caminhada coletiva de trabalhadores nos remete também a outras imagens do cinema na figuração do trabalho. Para a análise do filme, remete-se também aos filmes “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière” (1895) e “Como Era Verde o Nosso Vale” (1941) nos quais, respectivamente, os trabalhadores encerram o dia trabalho e descem uma ladeira caminhando coletivamente de volta para casa. Quando comparado com “Temporada”, percebemos que o ato de caminhar durante o trabalho não o reforça e nem o romantiza, mas coloca os personagens em tensão na experiência estética da cidade. Por isso, aproximamos o conceito da caminhada com a coreopolítica (LEPECKI, 2012).
    André Lepecki em seu texto “Coreopolítica e Corepolícia” propõe um olhar para a coreografia urbana pela ótica da política e da política articuladas por Jacques Ranicière (2018). A polícia seria a estrutura responsável por agenciar e controlar os corpos já a política constituiria um pensamento de dissenso diante do que está posto. Assim, a coreopolítica (LEPCKI, 2012, p. 49) propõe novos chãos, novas formas de andar e se movimentar.
    A partir das cenas de “Temporada” em que os personagens caminham coletivamente propomos que o filme constitui uma prática estética e um território (ZAN, 2020; SODRÉ, 2002) ao proporcionar uma coreopolítica dos trajetos. O filme não reafirma os trajetos e nem a cidade, mas cria nele mesmo uma Contagem que existe os movimentos dos trabalhadores.

Bibliografia

    CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2002
    CHAUVIN, Irene D.. Geografías afectivas. Desplazamientos, prácticas espaciales y formas de estar juntos en el cine de Argentina, Chile y Brasil (2002- 2017). Pittsburgh, Estados Unidos: Latin American Research Commons, 2019. DOI: https://10.25154/book3. Licencia: CC BY-NC 4.0
    COMOLLI, Jean-Louis. Cuerpo y Cuadro – cine, ética, política: Volumen 1: La máquina-cine y la obstrucción de lo visible. Prometeo Libros: Buenos Aires, 2015.
    LEPECKI, André. Coreopolítica e coreopolícia, [s./l.] v. 13, n. 1, p. 41-60, jan./jun. (2011) 2012: ILHA.
    SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a formação social negro brasileira. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2002.
    ZAN, Victor. COMPÓS: Espaço, Lugar e Território no Cinema. Mato Grosso do Sul, 2020