Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Joanise Levy (Jô Levy) (UEG)

Minicurrículo

    Doutora em Estudos Artísticos – Estudos Fílmicos e da Imagem, Universidade de Coimbra, e doutora em Literatura pela Universidade de Brasília. Mestre em Educação e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás. Professora e pesquisadora no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás, onde coordena o projeto de extensão Trama – Narrativas Audiovisuais e Criação de Roteiros. É roteirista e membro da Screenwriting Research Network.

Ficha do Trabalho

Título

    Aproximações entre o design narrativo do conto e o roteiro de curtas

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da constatação de que o aporte teórico-metodológico dedicado às especificidades do roteiro de curta-metragem é insuficiente, este estudo busca sistematizar algumas contribuições dos estudos literários para o desenvolvimento narrativo de roteiros de filmes curtos. Com base nas proposições de Piglia (2000) a respeito do conto, pretendemos analisar filmes de curta-metragem no intuito de identificar o design narrativo que estrutura tais enredos.

Resumo expandido

    Nas escolas de cinema, o exercício da escrita de roteiros costuma ter como foco a elaboração de histórias curtas. Entretanto, observamos uma insuficiência de aporte teórico-metodológico dedicado às especificidades do roteiro de curta-metragem. Com base nos dados obtidos em pesquisa sobre o ensino de roteiro (LEVY, 2021), constatou-se, a partir do levantamento do ementário de 55 cursos de graduação em Cinema e Audiovisual brasileiros, que os livros que compõem a bibliografia básica de parcela significativa dos cursos são: Manual do Roteiro, de Syd Field (1995), Story, Mckee (2006), Da criação ao roteiro – teoria e prática, Comparato (2009) e Roteiro de cinema e televisão, Campos (2007). Essas obras que se apoiam em princípios aristotélicos para discorrer sobre estruturas narrativas clássicas aplicadas a filmes de longa-metragem.
    Com poucas variações, a estrutura dramática clássica reúne um conjunto de elementos que são ordenados em um enredo com começo, meio e fim, de acordo com uma sequência de eventos que compreendem a apresentação do personagem e sua motivação, o obstáculo, o conflito, o clímax e a resolução. Narrativas com design clássico são construídas em torno de um protagonista ativo que se coloca em movimento em busca de um desejo, enquanto luta contra forças antagonistas. Segundo McKee (2006, p.55), essa estrutura prevê uma sucessão de acontecimentos conectados pelos princípios da causalidade, num tempo linear que conduz a um final fechado.
    Entendemos ser necessário compreender outros desenhos narrativos, sob pena de seguirmos ignorando as especificidades dos enredos curtos. Para refletir sobre essa questão, buscaremos o aporte teórico dos estudos literários, por meio do qual vamos encontrar textos esparsos que sugerem aproximações entre os princípios narrativos do conto e do curta.
    Gabriel Garcia Márquez (1997, p.18) adverte que uma história curta tem suas próprias leis e é preciso obedecê-las. Entretanto, um de seus comentários evidencia a concepção de que entre um longa e um curta talvez haja apenas uma diferença de duração. “Nós temos aqui um argumento, desenvolvido do começo ao fim. Agora, nossa tarefa é adaptá-lo, comprimi-lo no espaço de meia hora” (MÁRQUEZ, 1997, p. 173). Suspeitamos que não se trata apenas de sujeitar uma história a duração predefinida, mas que a duração, e nesse caso a brevidade, seja um fator que condiciona intrinsecamente o design narrativo.
    No ensaio Teses sobre o conto, Ricardo Piglia (2000) propõe duas asserções: a) um conto conta sempre duas histórias; b) a história secreta é a chave da forma do conto e de suas variantes. Ao discorrer sobre as teses, Piglia sugere o que seria um possível design narrativo das histórias curtas. Considerando que um conto se estrutura em dois eixos narrativos distintos, é preciso admitir dois sistemas diferentes de causalidade, pois “os mesmos acontecimentos entram simultaneamente em duas lógicas narrativas antagônicas” (2000, p. 57). O fundamento dessa construção narrativa se encontra nos pontos de intersecção entre a história que está na superfície e a história secreta. “O efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na superfície” (PIGLIA, 2000, p.57). O autor ressalva, por sua vez, que os contos modernos abandonam o final surpreendente e a estrutura fechada, pois trabalham a tensão entre as duas histórias sem nunca a resolver. “A história é construída com o não dito, com o subentendido e a alusão” (PIGLIA, 2000, p. 59).
    Frente a essas ponderações, este estudo busca sistematizar algumas contribuições dos estudos literários para o desenvolvimento narrativo de roteiros de filmes de curta-metragem. Com base nas proposições de Piglia (2000) a respeito do conto, pretendemos analisar os filmes de curta-metragem A Fábrica (Aly Muritiba, 2011) e A mão que afaga (Gabriela Amaral Almeida, 2012), no intuito de identificar o desenho narrativo que estrutura tais enredos.

Bibliografia

    ARISTÓTELES. Poética: tradução, prefácio, introdução, comentário, apêndices de Eudoro de Sousa. Trad.: Eudoro de Sousa. 5 ed. [SI]: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1998.
    COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro: teoria e prática. São Paulo, SP: Summus, 2009.
    CAMPOS, Flavio de. Roteiro de cinema e televisão – a arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
    FIELD, Syd. Manual do roteiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
    LEVY, Joanise. O Ensino de Roteiro na Graduação em Cinema e Audiovisual. Revista GEMInIS, v. 12, n. 2, pp. 209-226, mai./ago. 2021.
    MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Como contar um conto. Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 1997.
    MCKEE, Robert. Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiros Chico Marés (Trad.). Curitiba: Arte & Letra, 2006.
    PIGLIA, Ricardo. Formas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.