Ficha do Proponente
Proponente
- Danielle Parfentieff de Noronha (UFF)
Minicurrículo
- Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. Doutora em Mídia, Comunicação e Cultura pela Universitat Autònoma de Barcelona (2017) e mestra em Antropologia pela Universidade Federal de Sergipe (2013). É pesquisadora do Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas – GERTs, do Grupo Documentário e Fronteiras e do Grupo Geni – Gênero e Interseccionalidades na Comunicação.
Ficha do Trabalho
Título
- Reflexões sobre os coletivos contemporâneos de mulheres do cinema
Seminário
- Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação, fruto de uma pesquisa em desenvolvimento, tem o objetivo de entender a organização dos coletivos de mulheres do cinema e audiovisual brasileiros e refletir sobre os modos como estão tensionando para reconfigurar as equipes e a produção realizada no país . Nesse sentido, busco compreender como a lógica coletiva fomenta os debates sobre a importância da pluralidade no cinema, bem como entender como essa estratégia do coletivo possibilita mudanças nas vidas das profissionais.
Resumo expandido
- Nos últimos anos, estamos acompanhando o crescimento na formação de grupos autodenominados “coletivos”, aqui compreendidos como grupos que reúnem pessoas com interesses comuns – artísticos, culturais e políticos –, que produzem discursos, narrativas e ações que buscam, entre outras questões, visibilizar pautas e temáticas que normalmente não encontram espaços nas instituições e meios de comunicação hegemônicos. O avanço da internet e das redes digitais, no contexto da cibercultura, pode ser compreendido como um dos fatores que possibilitou o aumento do número de coletivos, já que facilita, por um lado, o encontro de pessoas com interesses (ou problemas) comuns que se localizam nos mais distintos contextos e, por outro, colabora para a organização, divulgação e continuidade do trabalho proposto pelos coletivos, apesar de, na maior parte dos casos, os grupos se pautarem em uma movimentação online-offline.
No caso do cinema e audiovisual, houve o crescimento de diversas iniciativas que buscam unir profissionais, tanto a nível local como nacional, que objetivam a troca de conhecimentos e aperfeiçoamento estético, técnico e artístico, mas também a possibilidade de discursos e ações políticas, que podem ter consequências na atuação individual de profissionais, como também podem atuar para a transformação das imagens e sons que são realizados no cinema e audiovisual do país.
Entre as iniciativas realizadas no campo do cinema e audiovisual, chamam atenção aquelas promovidas pelas profissionais mulheres, cis e trans, em especial das áreas de roteiro, direção, direção de fotografia, direção de arte, som e pós-produção, como o Coletivo Vermelhas, Manifesta Coletivo Feminista do Audiovisual, Coletivo DAFB – Coletivo de Mulheres e Pessoas Transgênero do Departamento de Fotografia do Cinema Brasileiro, Coletivo Movielas e o Coletivo Bra.da – Diretoras de Arte do Brasil, que estão presentes tanto nas redes como em ações práticas, através da realização de oficinas, lives, entre outros eventos e iniciativas.
Nos casos específicos da formação de coletivos de mulheres do cinema e do audiovisual, além das questões citadas anteriormente, há o interesse de visibilizar, discutir e mudar a enorme desigualdade de gênero que existe no setor quando olhamos para as oportunidades que são oferecidas às mulheres e aos homens, que ganham contornos ainda mais intensos quando interseccionamos as categorias raça, classe, geração e região. Nesse sentido, os coletivos, por meio de seus discursos e práticas, passam a ter uma importância política ao serem compreendidos como uma ferramenta na qual as mulheres se organizam para existir, resistir e tensionar com as estruturas que sistematicamente naturalizam discursos e práticas que as excluem de determinados cargos (em especial os de chefia), orçamentos e espaços, impossibilitando que as histórias também sejam narradas, olhadas, escutadas e construídas a partir de suas experiências e pontos de vista.
Parto da premissa que a própria existência de coletivos de mulheres do cinema e audiovisual pode ser entendida como uma possibilidade de subversão da lógica individualista e patriarcal de nossas sociedades modernas/coloniais, pois está interessada na construção de redes que levem a novas lógicas que alterem tanto a forma como os conteúdos das produções cinematográficas. Com este trabalho, ainda em desenvolvimento, busco construir um diálogo entre os estudos de gênero, a antropologia, o cinema e o audiovisual e proponho entender a organização dos coletivos, seus significados, e, em especial, suas dimensões estéticas, políticas e estratégicas e possibilidades de atuar na transformação tanto das trajetórias das profissionais mulheres quanto das histórias que são produzidas pelo audiovisual. Para isso, levo ainda em consideração os modos como se expressam, se relacionam e tensionam com a pluralidade de experiências e subjetividades das profissionais envolvidas.
Bibliografia
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