Ficha do Proponente
Proponente
- Sofia Franco Guilherme (USP)
Minicurrículo
- Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA/USP. Docente dos cursos de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM). Integrante do MidiAto – Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas (ECA/USP). E-mail: sofia.guilherme@usp.br
Ficha do Trabalho
Título
- Narrativas audiovisuais sobre a criação de espetáculos de dança
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho investiga as narrativas sobre o processo criativo da dança do Grupo Corpo por meio de seu registro audiovisual. Escolhemos analisar estrutura narrativa da série de vídeos “Espetáculo 2015”, publicada no canal oficial do Grupo no YouTube, entre fevereiro e outubro de 2015, para compreender a perspectiva teórica e prática da companhia sobre o fazer desta arte e como ela pode contar suas próprias histórias por meio de produções originais para as mídias digitais.
Resumo expandido
- O registro audiovisual dos processos de criação dos espetáculos de dança contemporânea tem potencial de revelar as buscas conceituais das companhias e suas perspectivas teóricas e práticas sobre a produção dessa forma de expressão artística. A análise narrativa da série de vídeos “Espetáculo 2015”, publicados no canal oficial do Grupo Corpo no YouTube, entre fevereiro e outubro de 2015, durante a comemoração dos 40 anos da companhia, nos permite considerar como ela pode contar suas próprias histórias e mostrar seus processos de criação por meio de produções originais para as mídias digitais.
A série de vídeos constrói uma narrativa verbal, guiada pelas entrevistas, e uma narrativa visual, articulada pelas filmagens no local de trabalho da companhia e no acompanhamento de cada etapa do trabalho. Essas duas camadas narrativas estão inter-relacionadas, porém a imagem não é meramente ilustrativa e redundante em relação ao que é falado nas entrevistas, ela abre novas chaves interpretativas para o espectador.
Os vídeos da companhia se aproximam do gênero documentário. Esta forma de produção também se baseia no discurso referencial, ancorado no mundo histórico, porém tem a tradição de explorar criativamente, na montagem, por exemplo, os temas abordados. Os produtos audiovisuais não-ficcionais de uma forma geral “são construtos, artefatos fabricados pelas mãos e pelos olhos daqueles que empunharam o instrumento de registro chamado ‘câmera cinematográfica’ ou ‘videográfica’” (FREIRE; SOARES, 2013, p. 78).
Para compreendermos as estratégias de construção narrativa das obras analisadas, recorremos ao conceito de “voz do documentário” de Bill Nichols como “aquilo que no texto nos transmite o ponto de vista social, a maneira como ele nos fala e como organiza o material que nos apresenta” (NICHOLS, 2005, p. 50). Nos vídeos da lista de reprodução, identificamos características do cinema direto, que promete maior transparência e imediatismo, sem interferências nas filmagens.
Os objetos audiovisuais escolhidos para este estudo também podem ser entendidos como “documentários do processo de criação” (SALLES, 2010, p.186) que acompanham os ensaios e camadas do processo sem interferir na criação e conceitos que estão intrínsecos no processo do grupo.
Os trabalhos do Grupo Corpo têm como ponto de partida a música. Este ponto do processo criativo da companhia é reforçado na própria organização da série de vídeos publicada no canal oficial do YouTube, pois os cinco primeiros vídeos trazem a composição das trilhas sonoras como protagonistas.
A relação do grupo com seu local de origem se torna bastante explícita no primeiro vídeo da série. Em uma rara entrevista do coreógrafo Rodrigo Pederneiras, ele reitera o fato do Grupo Corpo ter sede em Minas Gerais e convidar músicos mineiros para colaborar neste espetáculo de comemoração de 40 anos da companhia. Em sua fala ele revela a estreita relação que sua produção tem com o espaço físico e cultural que ocupam em Belo Horizonte e no cenário da dança nacional.
Durante os vídeos do YouTube sobre a montagem da coreografia, Rodrigo Pederneiras, coreógrafo residente do grupo, é protagonista à medida que transmite suas ideias de movimentação para os bailarinos, demonstrando pouco e sempre contando com a ajuda da assistente de coreografia e dos próprios bailarinos para testar os passos.
Paulo Pederneiras, diretor artístico, toma o protagonismo parte do final do processo de criação. Ele é mostrado no comando desde o conceito, teste de materiais escolhidos para a cenografia, maquiagem dos bailarinos e figurinos, até a montagem do espaço do espetáculo
Os vídeos do YouTube vão além dos ensaios e montagem de cenário e figurino. Eles acompanham os bastidores do processo de distribuição e divulgação do produto artístico até sua chegada ao público, representada no registro das estreias em Belo Horizonte, casa da companhia, São Paulo e Rio de Janeiro nos vídeos finais da série.
Bibliografia
- CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2012.
FREIRE, M.; SOARES, R. “História e narrativas audiovisuais: de fato e de ficção”. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 10, n. 28, 2013.
MOTTA, L.G. “A análise pragmática da narrativa jornalística”. In: Anais. XXVIII Intercom. Rio de Janeiro, set. 2005. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/105768052842738740828590501726523142462.pdf.
NICHOLS, B. A voz do documentário. In: RAMOS, Fernão Pessoa (org.). Teoria contemporânea do cinema: documentário e narratividade ficcional. Vol. II. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005. p. 47-67
SALLES, C. Arquivos de Criação: arte e curadoria. São Paulo: FAPESP/ Ed. Horizonte, 2010.
SILVERSTONE, R. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2005.
GRUPO CORPO OFICIAL. Grupo Corpo – Espetáculo 2015. Lista de reprodução de vídeos, Youtube, 2015. Disponível em: https://youtube.com/playlist?list=PLhuQiNjoB49-uyuRa0r10jm4xoua5LEkA Acesso em: 29 maio 2022