Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Joana Guedes Nin Ferreira (PUC-Rio)

Minicurrículo

    Joana Nin é mestranda em Comunicação pela PUC-Rio, pós-graduada em Comunicação Audiovisual pela PUC-PR e formada em Comunicação Social – Jornalismo pela UFSC. Foi professora do curso de pós-graduação em Documentário da FGV-RJ por 10 anos. Coordenou o Curso de Produção Executiva para Cinema e TV da AIC-RJ entre 2015 e 2017. Integrou a comissão de seleção de longas-metragens do Programa Petrobras Cultural 2012. Realizou sete documentários até 2021, dois deles lançados em salas de cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    A busca por telas 20 anos depois do chamado ‘boom’ do documentário

Formato

    Remoto

Resumo

    O interesse súbito crescente por documentários em salas de cinema foi um acontecimento mundial inesperado registrado entre 2002 e 2004, conhecido como ‘boom’ do documentário. Números até então impensáveis de bilheteria de alguns títulos puxaram uma quantidade crescente de lançamentos do gênero nos anos seguintes. Duas décadas depois, o movimento se mantém, mas a baixa procura do público ameaça a permanência dos filmes nas salas. Novas estratégias de distribuição tentam transformar este cenário.

Resumo expandido

    O interesse súbito crescente por documentários em salas de cinema foi um acontecimento mundial inesperado: entre 2002 e 2004 verificou-se um fenômeno conhecido como boom do documentário, a partir do qual os números de filmes do gênero lançados por ano não parou mais de crescer. O pesquisador Thomas Austin alerta que o estudo do cenário precisa transcender os filmes e cineastas e avançar sobre a lógica comercial e práticas industriais. O autor sugere análise das estratégias de distribuição, pois as considera cruciais na conexão entre os cineastas e o público, pois sem elas nenhum filme tem qualquer chance de êxito (AUSTIN, 2007).
    No Brasil, em 2019, em números de antes da pandemia, os documentários respondem por mais de 40% dos lançamentos em salas de cinema – 69 dos 167 filmes que chegaram à tela grande, segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – OCA/Ancine. O grande problema reside na constatação de que chegar até a sala não significa ser visto pelo público. Até porque na maioria das vezes não há uma estratégia de distribuição tão bem definida para os documentários, nem dinheiro para campanhas de lançamento. Amir Labaki, diretor fundador do festival É Tudo Verdade, diz que o documentário é “o primo pobre das salas de cinema”, afirmando ser este um problema crônico, e não apenas do Brasil, mas no resto do mundo também. Ele afirma que muitos filmes não estão sendo vistos e que para os documentários a questão é ainda mais dramática. (LABAKI, 2005: 292).
    Chapman nos lembra que o documentário começou sua vida pública no cinema. Ir até a sala escura para assistir coletivamente um filme é uma experiência completamente distinta dessa que vivenciamos hoje, com telas espalhadas por todos os cantos da casa, ou por qualquer lugar. A pesquisadora ressalta ainda que estilo do documentário pode também influenciar na forma como o público o assiste (CHAPMAN, 2009: 142).
    Os estudos de Austin esforçam-se para preencher lacunas produzidas pela ausência de pesquisas mais consistentes sobre audiência de documentário, mas Chapman critica o fato do autor não ter se debruçado também sobre a questão da internet, cujo aparecimento complexificou o campo, tornou muito mais difícil realizar qualquer definição ou medição de públicos. Chapman relativiza a supremacia das mídias sobre o público contemporâneo de documentários. Ela recorre às ideias de David Morley, que revela audiências cada vez mais ativas e seletivas, sobretudo na forma como recebem e interpretam o que vem dos veículos oficiais. O contexto social dos espectadores é visto cada vez mais como influente na interação entre as mídias e os destinatários. (CHAPMAN, 2009: 139).
    Pensando nessa forma de trabalhar em parceria com o público, algo que advém da disseminação da internet, novas estratégias de produção e, sobretudo de distribuição, começaram a ser desenvolvidas. Logo depois do dito ‘boom’ do documentário, em 2005, uma iniciativa em Londres, Reino Unido, começou a transformar o cenário da busca de um perfil específico de documentários pelos espectadores. A ex-chefe executiva do Channel 4, o canal público britânico dedicado ao documentário, Jess Search, decidiu deixar seu posto para fundar a então Britdoc, hoje DocSociety, inicialmente com apoio da emissora. O organização dedica-se a apoiar, financiar e desenvolver documentários comprometidos com transformações sociais. E entre suas atribuições está também a de “resolver problemas perenes de acordos de distribuição e exibição” (AUSTIN, 2007, pos 289/295).
    O movimento ganhou o mundo e está sendo conhecido como “documentário de impacto”, não um novo tipo de filme, mas sim uma estratégia diferenciada para chegar ao público a partir do engajamento de uma parcela dele. Uma rede colaborativa passa a trabalhar pelo sucesso do filme ao mesmo tempo em que dispõe dele como ferramenta de mobilização para causas que acredita e defende. Não visando apenas a tela grande, mas ela também.

Bibliografia

    AUSTIN, Thomas. Watching the World: Screen documentary and audiences. Manchester University Press, 2007
    CHAPMAN, Jane. Issues in contemporary documentary. Polity Press. Cambridge, 2009
    CHATOO, Caty Borum. Story Movements – how documentaries empower people and inspire social change. Oxford University Press, 2020
    __Guia de campo: Kit de Ferramentas para Impacto. DocSociety, Londres – impactguide.org. Trad DOCSP, SP, 2020
    LABAKI, Amir. É Tudo Verdade – reflexões sobre a cultura do documentário. São Paulo, Francis, 2005
    MISORELLI, Carol e ALMENDARY, Lívia. Novas formas de distribuição que aliam formação de público e impacto social: o caso do
documentário Paratodos. Cadernos FORCINE n. 03 – SP: FORCINE, 2017, p. 13-22
    LUCA, L. G. A. Mercado exibidor brasileiro: do monopólio ao pluripólio. In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema e mercado. SP: Escrituras Ed., 2010. p. 53-69.
    WINSTON, Brian. Claiming the real II Documentary: Grierson and Beyond. Londres, Palgrave Macmillan, 2008