Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Leonardo Mont’Alverne Câmara (UFMG)

Minicurrículo

    Pesquisador, realizador e formador audiovisual, é mestrando na linha de Pragmáticas da Imagem do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG. Graduou-se em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrou a quarta turma do Curso de Realização em Audiovisual da Escola de Audiovisual da Vila das Artes. É idealizador e coordenador do projeto de formação audiovisual Cinema no Brejo, realizado com jovens da região rural do Maciço de Baturité/CE.

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMA NO BREJO: A FILMAÇÃO COMO BRINCADEIRA E AVENTURA COM OS ESPAÇOS

Seminário

    Cinema e Educação

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa surge da experiência pedagógica vivenciada ao longo do projeto Cinema no Brejo, um itinerário formativo realizado em 2019 com jovens de diferentes localidades rurais que compõem o Maciço de Baturité, região serrana do interior do Ceará. Por meio da ideia de “filmação”, refletimos sobre as formas dos processos pedagógicos e de criação desenvolvidos ao longo da formação, percebendo os modos de manejo e apropriação da máquina-cinema pelos jovens como meio de relação com os espaços.

Resumo expandido

    Esta pesquisa surge da experiência pedagógica vivenciada ao longo do projeto Cinema no Brejo – Laboratório Rural de Formação e Experimentação Audiovisual, um itinerário formativo realizado em 2019 com crianças e jovens de diferentes localidades rurais que compõem o Maciço de Baturité, região serrana situada no interior do Ceará. O projeto consistiu em uma série de oficinas e vivências audiovisuais onde o contato com a prática do cinema foi experimentado como uma maneira de se relacionar inventivamente com os espaços, seus cotidianos, suas histórias e imaginários. Nossa investigação se debruça, portanto, sobre as formas de apropriação e manejo dos dispositivos audiovisuais que foram sendo praticadas ao longo dos encontros formativos pelos jovens em detrimento do interesse no aprendizado de uma certa gramática ou linguagem cinematográfica constituída aprioristicamente, acionando com a companhia do cinema experiências sensíveis com as geografias e imaginários locais.
    Como aposta metodológica para retomar e rememorar os processos pedagógicos e de criação desenvolvidos durante o projeto, possibilitando um foco não só nas imagens e nos filmes produzidos, mas também nas experiências que compuseram os encontros e dinâmicas coletivas de produção, conduzimos a escrita e contato com os materiais por meio do relato e do método da cartografia, entendendo que os procedimentos interpretativos do cinema “têm se mostrado insuficientes para uma compreensão mais completa desses filmes e das experiências que portam as imagens” (MIGLIORIN, PIPANO, 2019, p. 58). Para além de manejar os filmes a partir da noção de formas processuais, interpelando-os não somente como objetos finais de uma operação que os antecederam, mas como imagens fertilizadas pelas experiências que as constituíram, gostaríamos de pensar também nas formas dos processos, entendendo que a potência do encontro do cinema com a educação está na invenção coletiva de formas de fazer que são capazes de germinar outros sentidos e outras imagens.
    No contexto deste seminário, gostaríamos de tratar especificamente da experiência de realização do filme Caridade (2019), um curta-metragem de ficção produzido pelos alunos e alunas do projeto nas ruínas de um antiga casa de retiros construída pela Ordem dos Jesuítas no início do Séc. XX, localizada no distrito Jesuítas, zona rural de Baturité/CE. Nossa questão seria pensar que, disponibilizado ao alcance das mãos (ALVARENGA, 2020) de outros sujeitos e territórios, o maquinário do cinema pode ser reconfigurado a partir de novas formas de uso: a câmera vira brinquedo, o processo de produção vira aventura, a criação vira brincadeira. A partir dessas formas de manejo, o cinema permite um contato com as histórias existentes a partir do gesto da criação, agenciando uma pedagogia relacional capaz de aguçar novos sentidos e percepções, e instaurando experiências sensíveis com os territórios. Nesse sentido, trabalhamos com a ideia de “filmação” – expressão dita por um dos jovens integrantes da equipe durante o processo de gravação do filme – como forma de articular a presença do cinema junto a esses processos pedagógicos por meio de dois movimentos: Por um lado, ele atua como mediador, possibilitando que as histórias cotidianas e comunitárias sejam recontadas e reinventadas através de seus recursos e procedimentos expressivos; Por outro, como se junta ao grupo como participante de uma experiência coletiva, se deixando conduzir por diferentes formas de fazer e gestos imprevistos, de modo que ele próprio se torna um aprendente.
    Através das experiências pedagógicas em que outras formas do processo são descobertas e praticadas coletivamente, procuramos refletir sobre as maneiras como se agenciam esses duplos aprendizados: quando os jovens aprendem algo com os procedimentos inventivos do cinema e, ao mesmo tempo, quando ele se desvia de suas posições conhecidas para aprender algo com a singularidade dos processos, das relações e dos espaços.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse. Práticas do vídeo ao alcance das mãos: Os Arara, TV Viva, e TV Maxambomba. In: Catálogo 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, p. 40-45 – 1. Ed. – Belo Horizonte: Universo Produção, 2020.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

    FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. 1˚ edição, Rio de Janeiro: Autêntica, 2013.

    MIGLIORIN, Cezar, PIPANO, Isaac. Cinema de brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019.

    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.

    RANCIÈRE, Jacques. O Mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte, Autêntica editora, 2011.