Ficha do Proponente
Proponente
- Juliana Muylaert Mager (LABHOI/UFF)
Minicurrículo
- Juliana Muylaert é Pós-Doutoranda no LABHOI/UFF, com pesquisa sobre festivais de cinema etnográfico financiada pela FAPERJ. Entre outras publicações, é co-autora do livro “A capitalidade em disputa: o festival cinematográfico do Distrito Federal e outros festivais no Brasil dos anos 1950” em pré-lançamento. É membro do grupo de pesquisa Festivais Audiovisuais: histórias, práticas e políticas e co-organizadora do dossiê Festivais e Mostras Audiovisuais: olhares e perspectivas pela Rebeca.
Ficha do Trabalho
Título
- Mapeando festivais de filme documentário e etnográfico no Brasil
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Essa proposta de trabalho reflete sobre exercício de mapeamento histórico dos festivais de cinema etnográfico e documentário brasileiros, desenvolvido como parte de pesquisa de pós-doutorado em andamento no LABHOI/UFF desde 2021. Mais do que propor uma história dos eventos, nosso objetivo é propor um debate historiográfico a partir do processo da pesquisa cartográfica, discutindo questões como as transformações históricas dos festivais de cinema e os circuitos sociais do audiovisual no país
Resumo expandido
- Essa proposta de trabalho é parte de pesquisa de pós-doutorado dedicada ao estudo de festivais de cinema etnográfico no Brasil, em desenvolvimento no Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense, financiada com bolsa da FAPERJ. O presente trabalho tem como base um exercício de mapeamento histórico dos festivais de cinema etnográfico e documentário brasileiros. Buscando discutir esses eventos como fenômeno sócio-histórico, com um recorte dos anos 1950 até o presente, o levantamento realizado até o momento teve como base pesquisas publicadas na forma de dissertações, teses e artigos; diagnósticos setoriais realizados desde meados dos anos 2000; além de fontes da imprensa, pesquisas na web e arquivos da Cinemateca do MAM/RJ.
Os anos 1950 marcam a realização dos primeiros eventos cinematográficos denominados festivais e/ou mostras de cinema no país, conforme podemos acompanhar pelas notícias de jornais e outras fontes. Já nesse período inicial, os festivais brasileiros se marcam pela diversidade de perfis, cobrindo variadas práticas cinematográficas e formatos. A presença de mostras e festivais dedicadas a temas ou regimes cinematográficos específicos ganha espaço nas décadas seguintes, especialmente a partir dos anos 1990 quando um boom no número de festivais se faz acompanhar da especialização do setor.
Identificamos três principais momentos na história desses eventos temáticos. Nos anos 1950 e 1960, período de emergência e formação dos circuitos festivaleiros no país, ainda não encontramos certames especializados no filme etnográfico ou documentário, o que não significa que esses formatos cinematográficos estivessem ausentes dos programas dos eventos audiovisuais. Já nos anos 1970, identificamos os primeiros festivais nomeados etnográficos, em Mostras do Filme Etnográfico realizadas pelo Grupo de Estudos Cinematográficos na Bahia e na Cinemateca do MAM/RJ. Também é o momento de eventos voltados para o documentário, como os Simpósios do Filme Documental organizados pela Fundação Joaquim Nabuco em Pernambuco (Lira, 2021), ou as Jornadas de Cinema da Bahia, se considerarmos a relevância do documentário na programação do evento (Melo, 2016). A partir dos anos 1990, surgem eventos específicos voltados para os festivais de filme documentário e etnográfico, como a Mostra Internacional do Filme Etnográfico, o É Tudo Verdade e o Fórumdoc. Essa tendência ganha força nas décadas seguintes, com o surgimento de novos eventos em diferentes regiões do país, conformando um campo temático no interior dos circuitos festivaleiros.
Mesmo considerando seu caráter preliminar e inacabado, esse estudo cartográfico permite dar início a uma reflexão que conecta os festivais temáticos com as histórias do cinema. Além de questões como a distribuição geográfica dos eventos e sua permanência no tempo, as instituições envolvidas em sua realização, as variações em termos de perfil, é possível discutir ainda as transformações históricas nos sentidos dos termos documentário e cinema etnográfico, considerando entre outros elementos, a relação com o curta-metragem, o cinema amador e o filme de pesquisa.
Esse exercício de mapeamento e discussão dos festivais temáticos brasileiros encontra uma série de desafios teórico-metodológicos, entre eles, a descontinuidade que marca a trajetória de diversos eventos no país, as lacunas na documentação existente e a dificuldade de acesso aos acervos preservados, fatores que se somam ao caráter ainda incipiente dos estudos sobre o tema no Brasil. Apesar de importantes trabalhos realizados na última década, ainda há uma multiplicidade de eventos cinematográficos passados e presentes a ser explorados pela historiografia do cinema brasileiro. Acreditamos que o debate historiográfico proposto permita inserir a transformação dos circuitos festivaleiros no escopo mais amplo dos circuitos sociais do cinema, contribuindo, assim, para os estudos de história e historiografia do cinema brasileiro.
Bibliografia
- CORRÊA, Paulo Vitor Luz. Panorama dos Festivais/Mostras Audiovisuais Brasileiros – edição 2021. São Paulo, 2022. .
Leal, Antonio; Mattos, Tetê. Painel setorial dos festivais audiovisuais – indicadores 2007 -2008 -2009. Rio de Janeiro: Fórum dos Festivais / MinC/SAv, 2011.
Leal, Antonio; Mattos, Tetê. Festivais audiovisuais: diagnóstico setorial 2007–indicadores 2006. Rio de Janeiro: Fórum dos Festivais / MinC/SAv, 2007.
Lira, Arthur. Imagens do nordeste: o filme documental e o Instituto Joaquim Nabuco de pesquisas sociais. 2021. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Pernambuco.
Melo, Izabel de F. C. “Cinema é mais que filme”: uma história das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978). Salvador: EDUNEB, 2016.
Muylaert, Juliana; Mattos, Tetê. Festivais audiovisuais no Brasil: um debate a partir de duas trajetórias de pesquisa. In: Amâncio, Cardes et al. (Orgs). Cinema: afetos e territórios. Belo Horizonte: LED, 2021. p. 96-118.