Ficha do Proponente
Proponente
- Leandro Gantois Luna (UFSCar)
Minicurrículo
- Mestrando em Imagem e Som (PPGIS) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pernambuco e em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
Ficha do Trabalho
Título
- Análise do filme “Laurence Anyways” na perspectiva do transcineclipe
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho visa refletir e analisar a obra “Laurence Anyways” do cineasta canadense Xavier Dolan através do conceito de transcineclipe do pesquisador Rodrigo Oliva. O método de análise fílmica proposto por Agnes Petho será utilizado para entender a relação entre as fronteiras do cinema e do videoclipe. As teorias de montagem de Eisenstein e de som de Michel Chion também nortearão o desenvolvimento do pensamento sobre a obra de Xavier Dolan.
Resumo expandido
- O que significa estar na borda? Na fronteira? Em uma situação limítrofe? Não pertencer? Ou um entrelugar, aqui utilizando o conceito utilizado pelo teórico Homi K Bhabha (2003) ou o declínio das identidades centrais apontado por Stuart Hall (2003) ao descrever a fragmentação na pós-modernidade. Esse lugar de não definição reverbera o pensamento de Walter Benjamim (2010). Do pensador alemão, que morreu na fronteira da França com a Espanha fugindo do avanço nazista, temos essa subjetividade de estar no meio e de nunca terminar o trajeto. Esse não pertencer dialoga com as ideias da teoria queer propostas por, entre outras autoras, Judith Butler (2003) quando a pensadora estadunidense e pós-estruturalista questiona modelos de gênero e de sexualidade, a partir de uma ideia de performance. Na cânone obra sobre sobre o queer, “Problemas de gênero – feminino e subversão de gênero”, publicada nos Estados Unidos em 1990, mas traduzida apenas em 2003 no Brasil, Butler recorre a figura de Divine, musa do diretor americano John Waters, para caracterizar as drag queens com o potencial político para misturar os limites entre masculino e feminino, ilustrado na capa e no título da obra, uma referência ao filme “Problemas femininos” (John Waters, 1974). Esse estar no meio, apontado pelo indiano nascido no império britânico Babbha, no jamaicano-inglês Hall, no alemão judeu e de esquerda Benjamim e na mulher lésbica e cis-gênera Butler tem como potencial o dialogo com a noção de intermidialidade, método histografico utilizado para análise fílmica. A intermidialidade, através de seu estudo do cinema, expõe o caráter impuro da chamada sétima arte, a exemplo do que fez a pesquisadora Lúcia Nagib (2013) ao retomar a defesa feita por André Bazin (2003). O cinema, uma vez entendido como uma arte essencialmente moderna, teria em sua base, a ideia de mistura de artes, mídias, referências, expressões e tradições culturais. Desse meio do caminho, surgem os apontamentos feitos por Agnes Petho (2011), ao descrever a intermidialidade como uma paixão pelo in-between.
O foco deste trabalho é pensar a relação entre cinema e videoclipe, tendo como objeto de estudo o filme “Laurence Anyways” (Xavier Dolan, 2012). Para tanto, será trabalhado o conceito de transcineclipe, apontado pelo pesquisador Rodrigo Oliva. Nesse sentido, o objeto será pensado a partir da noção de intermidialidade e será pensado de que maneira a obra cinematográfica de Xavier Dolan está no meio do caminho, na borda e na fronteira. Uma borda material entre o cinema e o videoclipe, mas uma fronteira subjetiva também. Embora o foco do artigo será a análise fílmica, também se faz necessário o apontamento que essas relações não acontecem apenas na forma.
1. Na borda entre o cinema e o videoclipe
Ao longo da história do cinema, o som foi utilizado como marcador importante dentro da narrativa fílmica, muito especialmente no cinema de gênero, como o musical com Vincente Minnelli e o melodrama com Douglas Sirk na década de 1950. Mas é com o advento da MTV nos Estados Unidos, a partir da década de 1980, que o videoclipe, em sua fusão da imagem e do som, começa a ser pensado como um gênero. A partir dessas relações entre o cinema e o videoclipe, o pesquisador Rodrigo Oliva (2017) conceitualizou o transcineclipe e o transclipecine. buscando apontar como acontecem essas relações entre o cinema e o videoclipe. No caso do transcineclipe, Oliva apresenta como a fusão entre imagem e som reverbera uma poética que remete à montagem de Eisenstein. Por meio daquilo que o pesquisador chama de paisagens videoclipes, há uma alteração temporal. No presente trabalho, o conceito de transcineclipe será essencial para fazer uma análise fílmica da obra “Laurence Anyways” de Xavier Dolan. O cineasta canadense, conhecido pelo uso da cultura pop em sua filmografia, expande o uso da música atrelado ao ritmo e à montagem, criando novas possibilidades temporais e espaciais.
Bibliografia
- BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
BENJAMIM, Walter. Obras Escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política. Editora Brasiliense, 1985.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
CHION, Michel. A Audiovisão – Som e Imagem no Cinema. Edições Texto & Grafia. Lisboa, 2008
COSTA, Cesarino Flávia. Considerações sobre os números musicais das chanchadas. Significação, São Paulo, v 45, n. 50, p 179-203, 2018
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
OLIVA, Rodrigo. Interconexões de Poéticas Audiovisuais – Transcineclipe, transclipecine e hiperestilização. Editora Appris Ltda, 2017.
PAIVA, Samuel. Cinema, intermidialidade e métodos historiográficos: o Árido Movie em Pernambuco. Significação, v 43, n 45, 2016, p. 64-82.
PETHO, Agnes. Cinema and intermediality: the passion for the in-between, 2011.