Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Cunha (UBI)

Minicurrículo

    Paulo Cunha é professor auxiliar na Universidade da Beira Interior, onde coordena o Mestrado em Cinema e é Vice-presidente do Departamento de Artes. doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra e investigador integrado no LabCom – Comunicação e Artes. Tem publicado sobre cinemas pós-coloniais, modos de produção, crítica de cinema, entre outros. É um dos coordenadores do GT Cinema Pós-coloniais e Periféricos da AIM.

Ficha do Trabalho

Título

    Pós-memória e trauma colonial em Um animal amarelo

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo desta proposta é fazer uma leitura multidisciplinar deste filme de coprodução luso-brasileira a partir das abordagens trabalhadas nos estudos acerca da pós-memória (Hirsch) e do trauma (Andermahr, Kilomba), procurando compreender as complexas relações entre indivíduos, comunidades, e as relações de poder e de opressão. Interessa-me ainda refletir esta obra enquanto manifestação de trauma nos contextos local, nacional e transnacional.

Resumo expandido

    Com Um animal amarelo, o realizador brasileiro Felipe Bragança propõe uma “fantasia surreal tropicalista-antropofágica” que reivindica abertamente a herança do escritor Mário de Andrade e do movimento modernista brasileiro. Nas palavras do próprio cineasta, Um animal amarelo é um filme “transatlântico, transgénero, transcultural”, uma “reflexão sobre os imaginários da identidade”, acompanhando, entre o Rio de Janeiro (Brasil), a Beira (Moçambique) e Lisboa (Portugal).
    O papel do trauma nas memórias e discursos coletivos e na formação de identidades tem vindo a ser crescentemente reconhecida e valorizada nos estudos fílmicos, em particular nos contextos pós-colonial, interseccional e ecocrítico. Ainda que reivindique uma influência de Mário de Andrade, Um animal amarelo oferece uma oportunidade de trabalhar questões transnacionais e transculturais que tenho vindo a trabalhar no contexto das relações entre países com experiências coloniais comuns mas temporal e espacialmente particulares, como é o caso de Brasil, Portugal e Moçambique.
    Com o argumento de Bragança (N. Rio de Janeiro, 1980) e João Nicolau (N. Lisboa, 1975), diretor e roteirista português, e coprodução de Duas Mariola Filmes (Brasil) e O som e a fúria (Portugal), pretendo interrogar se Um animal amarelo reforça um discurso de negação ou normalização sobre o passado colonial ou se, de certa forma, pode contribuir para uma consciencialização e responsabilização coletiva, assim como para redefinir configurações de poder e de conhecimento.
    O objetivo desta proposta é fazer uma leitura multidisciplinar deste filme de coprodução luso-brasileira a partir das abordagens trabalhadas nos estudos acerca da pós-memória (Hirsch) e do trauma (Andermahr, Kilomba), procurando compreender as complexas relações entre indivíduos, comunidades, e as relações de poder e de opressão. Interessa-me ainda refletir esta obra enquanto manifestação de trauma nos contextos local, nacional e transnacional.

Bibliografia

    Andermahr, Sonya (2015). “Decolonizing Trauma Studies: Trauma and Postcolonialism”. Humanities, 4(4), 500-505.
    Hirsch, Marianne (2012). The Generation of Postmemory: Writing and Visual Culture After the Holocaust. Nova Iorque: Columbia UP.
    Hodgin, Nick & Thakkar, Amit (ed.) (2017). Scars and Wounds: Film and Legacies of Trauma. Londres: Palgrave Macmillan.
    Jager, Benedikt & Hobuß, Steffi (ed.) (2017). (Post)Colonial Histories – Trauma, Memory and Reconciliation in the Context of Angolan Civil War. Bielefeld: transcript.
    Khanna, Ranjana (2003). Dark Continents: Psychoanalysis and Colonialism. Durham/ Londres: Duke UP.
    Kilomba, Grada (2019). Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Quotidiano. Lisboa: Orfeu Negro.
    Ramos, Guiomar (2008). Um cinema brasileiro antropofágico? (1970-1974). São Paulo: Annablume.
    Xavier, Ismail (1993). Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Editora Brasiliense.