Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Beatriz Andrade Stefano (UFPE)

Minicurrículo

    Formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2019, durante a graduação desenvolveu o PIBIC intitulado “Fotografia, pintura e hibridização na obra de Bárbara Wagner”. Atualmente é mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da UFPE na linha dois, referente aos estudos de Estética e Culturas da Imagem e do Som.

Ficha do Trabalho

Título

    A emergência do corpo: performance e teatralidade em Swinguerra (2019)

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa pretende analisar o curta-metragem Swinguerra (2019) utilizando dois conceitos como guias, teatralidade (FÉRAL, 2015) e performance (BRASIL, 2011) provocando uma discussão sobre os atravessamentos entre o real e o ficcional. A fim de entender as estratégias estéticas utilizadas pelos realizadores, Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, para mediar as corporalidades já apresentadas a eles, o trabalho divide os momentos do fora e dentro da coreografia presentes no filme.

Resumo expandido

    Swinguerra é o trabalho da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca lançado em 2019 no formato instalativo na Bienal de Veneza. Além das galerias e exposições de arte, transitou em festivais de cinema adaptando-se ao modelo tradicional de exibição na sala escura. Apesar do curta-metragem possuir uma pequena narrativa, apresenta características experimentais em relação ao cinema narrativo clássico dando à obra um caráter híbrido entre a ficção e o documental, entre o cinema, a fotografia, a pintura e o teatro. Elas abrem caminho para interpretarmos a imagem pelo viés da performance, da teatralidade e do gesto. Para isso, a análise será guiada pelos momentos fora e dentro da coreografia utilizando os conceitos de teatralidade (Josette Féral) e performance (André Brasil), respectivamente.
    O curta-metragem reporta-se aos ensaios de três grupos de dança da periferia (Extremo, La Mafia e Passinho) para concurso anual de dança em Recife. Com os ritmos de swingueira, bregafunk e passinho,os ensaios das coreografias são na quadra e nos arredores de uma escola pública. No início há indícios de uma rivalidade através dos olhares entre as duas dançarinas, Eduarda e Clara. A primeira delas, é protagonista do filme e em uma cena que performa no centro da quadra, vemos a segunda dançarina observando-a. Diante do olhar de para a outra, ocorre uma transição na imagem que nos leva à imaginação de Clara que performa enquanto dançarina principal do seu grupo de dança.
    Podemos pensar a transição para esse outro espaço como um efeito de enquadramento. Segundo Josette Féral, a condição de emergência da teatralidade seria “a identificação (quando é produzida pelo outro) ou a criação (quando o sujeito a projeta sobre as coisas) de um outro espaço diferente do cotidiano, criado pelo olhar do espectador que se mantém fora dele” (2015, p. 88). Ao clivar o espaço, Clara enquadra, opera e fabula uma realidade possível, provocando modificações qualitativas nos sujeitos. Eduarda, que dança no centro da quadra, transforma o cotidiano de Clara que cria um novo espaço e uma outra forma de ser, agora como protagonista, e a sua rival que também modifica a sua forma de estar quando todos os olhares estão voltados para ela.
    Sob direção de Pedro Sotero, a fotografia das obras audiovisuais da dupla foi pensada, segundo Bárbara, em uma “escala nem tão perto nem tão longe” construindo um espaço que é “sempre espaço para o corpo performar” (trechos retirados da entrevista dada na Masterclass “Swinguerra e outras disputas”). Ou seja, cria-se uma organização no espaço que dê ênfase aos gestos pertencentes aos próprios artistas. A exempo de Swinguerra, esse momento está nas cenas dentro da coreografia executada pelos dançarinos, vinda do real, elaborada para o concurso anual de dança, ao mesmo tempo que fazem parte do ordenamento, a mise-en-scène. Aproximando o conceito de performance para a teoria do cinema, André Brasil (2011) parte das noções de gesto (Giorgio Agamben, 2015) e mise-en-scene (Aumont, 2004) para pensar a intensificação da indistinção entre o real e o ficcional nos documentários brasileiros contemporâneos.
    À medida que os corpos exibem seus gestos na coreografia que trazem da vida real, esses mesmos gestos são mediados pela artificialidade da imagem. A performance marcada pela música e pela dança, faz emergir na imagem questões vividas pelos sujeitos em seu cotidiano como a violência, a sexualização dos corpos e o patriotismo. Os signos presentes nas imagens causam uma contradição política quando vemos corpos negros e transsexuais reverenciarem a bandeira nacional em um contexto marcado pela polarização política e a ascensão do presidente que viola os direitos LGBTQIA+. O intuito desta pesquisa é pensar a partir da zona limítrofe entre a performance e a teatralidade. Esses atravessamentos possibilitam ao corpo maior liberdade dentro do espaço tradicionalmente ordenado que é o cinema, abrindo caminho para pensarmos a relação entre os sujeitos e o espaço

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio; Meios sem fim: Notas sobre política. 1. ed. Belo Horizonte: autêntica, 2015.

    AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

    BDMG Cultural. Masterclass Swinguerra e outras disputas. Youtube, 29 de nov. de 2021. Disponível em:

    BRASIL, André. A performance: entre o vivido e o imaginado. In: ANAIS DO 20° ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 2011, Porto Alegre. Campinas, Galoá, 2011. Disponível em: . Acesso em: 26 Maio. 2022.

    LEONARDELLI, Patrícia. Teatralidade e Performatividade: espaços em devir, espaços do devir. Cena10: Revista de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, n.10, p. 2-19, 2011.

    FÉRAL, Josette. Além dos limites. São Paulo: Perspectiva, 2015.