Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Moran Fernandes (USP)

Minicurrículo

    onze números da coleção CINUSP. Organizou o livro Cinema Apesar da Imagem com Marcus Bastos e Gabriel Menotti, 2016, ed. Intermeios e Cinemas Transversais (2016) pela Iluminuras. Em 2020 lançou Audiovisual ao vivo. Tendências e Conceitos, Intermeios, com com Marcus Bastos. Atualmente coordena o núcleo criativo Formigueiro, premiado pela SP Cine (2022), a mulher no trabalho é o tema dos documentários.

Ficha do Trabalho

Título

    Dramaturgia da luz, cor e som na performance de MIRELLA x MUEP

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Formato

    Presencial

Resumo

    A luz e o som tradicionalmente são elementos expressivos a serviço de uma fábula, nas performances da dupla MIRELLA x MUEP eles se instauram como presença, produzindo intensidades rítmicas rarefeitas e saturadas, de luz e som, de modo a sugerir uma dramaturgia através da cor e do som. Vamos problematizar as estratégias poéticas desta dramaturgia ampliada destacando a ocupação do espaço como suporte do drama e da performance. Fantasmagóricas instauram a dramaturgia como presença.

Resumo expandido

    A abrangente noção de presença é aqui tomada no seu sentido espectral, invisível como uma imagem, se torna presente como produção de intensidades rítmicas rarefeitas ou saturadas, de luz e som, de modo a sugerir uma dramaturgia através da cor e do som. Nas performance da dupla Mirella x Muep sons e luzes instauram existências através da variação de intensidades, recurso sonoro e visual bem como do jogo com o ver e o não ver. A ausência completa de imagens e em algumas ocasiões de som é um dos recursos para a modulação do evento audiovisual da dupla. Nas performances de Mirella e Muep a luz se encarrega de sugerir seres, indicados também pelos ataques sonoros.
    Suas primeiras performances OP1 e Fobia, e A.N.T.E.S contam com a luz, o som, a projeção de vídeos e corpos como recursos expressivos. Em OP1 os corpos físicos se mesclavam de tal forma aos demais elementos, que funcionavam como uma espécie de trompe-l’oeil, tornando difícil se afirmar a presença ou não da bailarina, aos poucos revelada. O figurino também contribui para a incerteza sobre a natureza do corpo presente, logo, sobre a própria presença. A.N.T.E.S por sua vez, não ilumina a cantora o suficiente de modo a assegurar sua presença ou inexistência na cena. A.N.T.E.S foi apresentada em um espaço sem palco, o público sentado no chão fazia um semi-círculo entorno de Mirella, Muep e seu equipamento.
    O andamento da peça audiovisual revela fora do espaço ao qual o público estava voltado, uma figura cujos contornos diáfana. Esta aparição imprecisa e vaga aos poucos ganha contorno.
    Se no cinema exibido em salas adaptadas para tal, a fantasmagoria relaciona-se a temas ou à própria natureza pulsante da imagem originada pela projeção da luz nos frames, nas performances da dupla há uma inversão. A luz está a serviço de uma dramaturgia que abandonou atores, cantores e enredo. Mirella Brandi além de trabalhar a performance com seu parceiro Muep, dedica-se profissionalmente a iluminar espetáculos de ópera e teatro. Ela utilizará sua expertise em iluminar, para jogar com a ausência da luz e seu excesso, de modo a endereçar ao público formas e movimentos de luzes e cores de modo a confundir a retina sobre o ver. O excesso de luz, seguido de sua falta, exige a reacomodação da retina gerando insegurança sobre o que se vê. O alto contraste ou uma configuração menos dramática de um espaço mais uniforme são recursos que uma vez libertos da necessidade de mostração de atores e objetos, exibem a própria luz. A técnica da iluminação é explorada de modo a inverter seu papel nas artes da cena, deixa de atender a pessoas e objetos, voltando-se à teatralidade da luz que irá sugerir encenações suspensas.
    As performances tem uma partitura audiovisual como guia. Cada uma das partes se estrutura tendo em vista o todo, a parte anterior e a posterior estão presentes em relação, como repetição ou diferença. Desta modulação nem sempre calcada na harmonia e complementariedade, emerge a diferença e com ela, sugestões de intensidades dramáticas. Em cada lugar que ocupa o público tem acesso a um espaço visual distinto, modificando sua relação com o todo imaginado.
    Ao trazer a pesquisa audiovisual da dupla MxM, pretende-se demonstrar o papel das pausas, da repetição e da diferença como um recurso para elucidar as propriedades formais dos meios utilizados. Se a luz é utilizada para orientar e desorientar espacialmente o público, o som atinge seu corpo como contraponto ou complemento da luz. Nas performances da dupla tem-se o contato com recursos formais, que uma vez autônomos em relação a fins, se fazem prenhes de sentidos em potencial. Raramente estes se realizam e alcança uma concretude narrativa, pois é no vago e pela sugestão de presenças que se assentam as performances audiovisuais da dupla.
    .

Bibliografia

    BAL, Mieke. “Stetting the stage: the subject mise em scène.” In: Douglas, Stan & Eamon, Christopher (ed.) Art of Projection. Ostfildern: Hatje Cantz, 2009.
    BALSOM, Erika. In: “Irreprodutível: cinema como evento.” Menotti, Gabriel; Bastos, Marcus; Moran, Patrícia (org.). Cinema apesar da imagem. São Paulo: Intermeios. 2016.
    DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1971
    GIANNACHI, Gabriella & KAYE, Nick. Performing Presence. Between the live and the simulated. Manchester University Press, 2017.
    GUMBRECHT, Hanns. Produção de presença. O que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro, Contraponto editora. 2010
    HERRMANN, Eva; SCHULTZ, Kerstin; WIEDEMANN-TOKARZ, Hedwig. Thinking Color in Space. Basel: Birkhauser, 2019
    MICHAUD, Philipe-Alain. Filme: por uma teoria expandida do cinema. RJ: contraponto, 2014.