Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Liciane Timoteo de Mamede (Unicamp)

Minicurrículo

    Liciane Mamede é produtora cultural. Possui graduação em Comunicação Social pela Unesp (2004) e mestrados em Imagem e Som pela UFSCar (2014) e em Valorização do Patrimônio Audiovisual pela Universidade Paris 8 (2017), com período de mobilidade na Universidade Nova de Lisboa. Atualmente, é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Multimeios da Unicamp.

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema latino-americano no Forum des Jungen Films

Formato

    Remoto

Resumo

    Esta comunicação tem como objetivo abordar e refletir sobre a seleção de filmes latino-americanos apresentada na primeira década de existência do Internationales Forum des Jungen Films, do Festival de Berlim. Por meio desta análise, o objetivo é compreender de que maneira esse conjunto de filmes encaixava-se na proposta curatorial dessa mostra, que estava emergindo, naquela época, enquanto um projeto de renovação anexo ao Festival Internacional de Cinema Berlim, criado em 1951.

Resumo expandido

    A partir de sua criação oficial, em 1971, a mostra Internationales Forum des Jungen Films passa a ocorrer de maneira paralela e independente ao Festival de Berlim. O objetivo, a princípio, era criar um contra-festival, um festival sem hierarquias ou, como afirmou o cineasta sérvio Dušan Makavejev, que teve seu filme “W.R. Mysteries of the Organism” (1971, 84′) exibido na primeira edição do evento: apresentar um conjunto de filmes que “não necessariamente estavam em 35mm e que não necessariamente tinham uma hora e meia de duração” (COWIE, 2010, p. 77).

    A instigante programação que passa a ser proposta pelo Forum incluía documentários e filmes políticos realizados por, entre outros, coletivos militantes e/ou por cineastas apartados da indústria. Segundo Erika Gregor, uma das programadoras da mostra, esses filmes: “não eram apresentados em festivais ‘normais’, por isso queríamos exibi-los. Queríamos combinar filmes antigos com filmes novos, curtas-metragens com longas-metragens (sem limite de duração)” (Ibid., p. 77). Efetivamente, a programação do Forum durante a década de 1970 foi sempre bastante aberta nesse sentido.

    Em seu livro “Film Festivals”, publicado ainda em 2007, Marijke de Valck classifica cronologicamente a história dos festivais de cinema em três grandes períodos. O primeiro deles, segundo ela, teria sido marcado pelos festivais enquanto fenômenos sobretudo europeus que, respondendo a uma agenda geopolítica, tinham como foco os cinemas nacionais. Nesse momento, eles se caracterizavam, sobretudo, por serem vitrines para essas cinematografias, que tinham cota de participação, sendo os filmes ali mostrados escolhidos pelos próprios comitês de seleção nacionais. Essa fase teve início com a criação dos primeiros festivais, de Veneza e Cannes, nos anos 1930 e 1940 respectivamente, e durou até o fim dos anos 1960.

    O ano de 1968 marcou o ponto de virada nesse estado das coisas. Os movimentos ocorridos no mês de maio em Paris chegaram até Cannes e abalaram o festival, obrigando-o a encerrar suas atividades mais cedo naquele ano. Mas havia, segundo a autora, um clima de insatisfação generalizado. O formato que ditava a cartilha desses eventos não tinha mais lugar no novo contexto sociocultural emergente. A quase exclusiva atenção dada por eles ao glamour e à máquina econômica do cinema despertava insatisfações por toda parte.

    Nesse momento, os grandes festivais foram obrigados a repensar conceitualmente seus objetivos e seu papel, a fim de continuar a existir e a ter relevância. Os cinemas novos, principalmente aqueles produzidos em países do chamado terceiro mundo, que emergiram mais ou menos na mesma época, certamente tiveram papel decisivo em tal virada. Em relação à seleção dos filmes, isso necessariamente implicou na superação de critérios puramente nacionais e econômicos; os méritos artísticos das obras ganharam importância.

    Os festivais de cinema, que sempre tiveram uma importância política, como aponta de Valck, mas que ao mesmo tempo procuravam passar ao largo de polêmicas e contestações ao status quo, tiveram que se posicionar. O que marca essa nova fase é a preponderância da proposta curatorial de cada evento, que passou a tecer sua própria identidade.

    É nesse contexto que surgem as mostras paralelas em alguns dos mais importantes festivais da época. A fim de responder a um certo “espírito do tempo”, o Festival de Cannes cria a Quinzaine des réalisateurs, em 1969, e o Festival de Berlim, o Internationale Forum des Jungen Films, dois anos mais tarde. Ainda no espírito dos “contra-festivais”, vale lembrar a experiência da Mostra Internazionale del Cinema Libero de Porreta del Terme, a Mostra internazionale del Nuovo Cinema di Pesaro e o Festival international du cinéma expérimental de Knokke-le-Zoute, criado por Jacques Ledoux em 1949. Dentro desse contexto, queremos investigar que tipo de cinema produzido aqui, neste continente, ganhava proeminência perante esse novo olhar curatorial.

Bibliografia

    BARDÓN, Xavier G.. “Exprmntl. Une histoire du Festival du film expérimental de Knokke/Bruxelles (1949-1974).” Tese (Doutorado). – École doctorale Arts et médias, Université Sorbonne-nouvelle, Paris, 2017.

    BERNSTORFF, Madaleine et al. Living Archive: Archivarbeit als künstlerische und kuratorische Praxis der Gegenwart (Archive Work as a Contemporary Artistic and Curatorial Practice). Berlim: Arsenal – Institut für Film and Videokunst, 2013.

    COWIE, Peter. The Berlinale, The Festival. Berlim: Kulturveranstaltungen des Bundes in Berlin GmbH, Geschäftsbereich Internationale Filmfestspiele Berlin, 2010.

    VALCK, Marijke. Film Festivals: from European Geopolitics to Global Cinephilia. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2007.

    WONG, Cindy H.. Film Festivals: Culture, People, and Power on the Global Screen: New Brunswick, Nova Jersey, Londres: Rutgers University Press, 2011.