Ficha do Proponente
Proponente
- Mariana Lambert Passos Rocha (FGV)
Minicurrículo
- Bacharel e licenciada em História pela Universidade Federal Fluminense (2006). Atua desde 2006 como Técnica em Assuntos Culturais do Arquivo Nacional. Tem experiência nas áreas de arquivos audiovisuais, pesquisa e difusão de acervos arquivísticos e serviço de referência. Entre os anos de 2008 e 2016, como pesquisadora da instituição, participou da produção de exposições, organização de festivais de cinema de arquivo, redação de sites e publicações impressas do órgão.
Ficha do Trabalho
Título
- ANTECEDENTES DE 1964: A TRAJETÓRIA DE UM FILME ÓRFÃO
Seminário
- Outros Filmes
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir da noção de “filmes órfãos” pretendo compreender a trajetória de patrimonialização no Arquivo Nacional do filme intitulado “1964 Antecedentes”, cuja proveniência e realizador permanecem desconhecidos. Apresenta em seus cerca de 30min imagens de situações-chave que fazem parte do contexto do golpe empresarial-militar de 1964. Discuto ainda a retomada dessas imagens em produções audiovisuais nas últimas décadas, a partir da perspectiva da historiadora Sylvie Lindeperg.
Resumo expandido
- O presente trabalho reflete uma pesquisa de mestrado em andamento no âmbito do programa de pós-graduação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas. Trata-se da investigação das origens e trajetória de patrimonialização no Arquivo Nacional de um filme: 1964, Antecedentes. A cópia em 16mm possui imagens do Comício da Central do Brasil, em março de 1964, a vinda das tropas de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, o incêndio na União Nacional dos Estudantes, o Motim dos Marinheiros, e outras situações que se destacam no contexto do golpe de 1964.
Mantido em sigilo, antes e após o seu ingresso informal no órgão até uma decisão administrativa e política o conferir existência pública, no ano de 2011, ao dar-lhe uma notação. Após décadas sem ter formalmente reconhecida a sua entrada, o filme foi enquadrado no fundo “Proveniência Desconhecida”, não pertencendo a um conjunto que revele a sua origem, nem compondo uma série arquivística com documentos afins.
Mobilizaremos, portanto, a categoria de filme “órfão” que surge no âmbito das discussões sobre preservação de filmes nos Estados Unidos, na década de 1990. Refere-se a filmes que, por razões diversas, sofreram negligência, aqueles abandonados por seus detentores de direitos e os que, como o nosso caso, não se conhece a procedência. Também abarca os excluídos dos circuitos oficiais, além dos filmes de arquivo, ameaçados por dificuldades de guarda e preservação.
O percurso dos documentos audiovisuais desde a sua patrimonialização pelas instituições de guarda até a retomada em novas produções vem sendo objeto de trabalhos recentes. Entre os teóricos, a historiadora francesa Sylvie Lindeperg cuja abordagem inspirada na microhistória italiana preocupa-se em restituir o contexto de produção das imagens. No Brasil, assistimos à construção de novas propostas metodológicas adaptadas as especificidades dos arquivos brasileiros como a dificuldade de se obter informações sobre os filmes.
Inspirados nessas leituras interrogamos o objeto buscando compreender a história em torno de sua produção. Entretanto, nos deparamos com um desafio fundador: a ausência de sua origem. Portanto, um de nossos objetivos é identificar, ou aproximar-nos da identificação dos produtores. A decupagem do filme e análise técnica da película nos fornecerá elementos para compará-la com outras semelhantes daquele período. Trata-se de uma filmagem profissional ou amadora? A linguagem aproxima-se da jornalística, da propaganda estatal ou de realizadores independentes? Como os eventos são retratados?
Além das questões que envolvem a sua produção e guarda nos interessa refletir sobre a sua retomada. Considerando que a memória é construída a partir das visões e disputas do grupos sociais no presente, o que os seus diferentes usos dizem sobre as suas respectivas temporalidades? Uma vez que a temática da ditadura militar brasileira predomina entre essas obras, buscaremos analisar como reconfiguram a memória do período.
No caso brasileiro, observamos a partir da década de 1980 uma produção significativa de filmes tematizando o período de exceção que viveu o país, num esforço coletivo de setores da sociedade brasileira para construção de uma memória pública da ditadura militar.
A apresentação tem por objetivo compartilhar os resultados da pesquisa ainda em andamento.
Bibliografia
- BLANK,Thais Continentino. Cinema Doméstico Brasileiro (1920-1965). Curitiba: Appris Editora, 2020.
BLANK,Thais C. & MACHADO, Patrícia F. M. Em busca de um método: entre a estética e a história das imagens domésticas do período da ditadura militar brasileira. Intercom – RBCC São Paulo, v. 43, n. 2, p.169-183, maio/ago. 2020.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campina: Editora Unicamp, 2010
LINDEPERG, Sylvie. La voie des images : Quatre histoires de tournage au printemps-été 1944. Lagrasse, Verdier, coleção. « Histoire », 2013
MACHADO, Patrícia Furtado Mendes. IMAGENS QUE RESTAM: a tomada, a busca dos arquivos, o documentário e a elaboração de memórias da ditadura militar brasileira. Tese Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.
STREIBLE, Dan. 2009. “The State of Orphan Films: Editor’s Introduction”, The Moving Image, 9 (1), vi-xix.