Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Leite Chiaretti (ECA-USP)
Minicurrículo
- Pesquisadora, programadora e produtora de conteúdo de cinema e literatura. É mestre em Teoria e História do Cinema pela Université Paris 8 Vincennes / Saint-Denis e doutora em Meios e Processos Audiovisuais na ECA-USP onde desenvolveu, sob orientação de Ismail Xavier, pesquisa sobre cineastas improvisadores dos anos 1960-1970. Produziu e organizou uma série de mostras para instituições culturais.
Ficha do Trabalho
Título
- A expansão do teatro em Jacques Rivette e Andrea Tonacci
Seminário
- Cinema Comparado
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação pretende comparar dois filmes: “Out 1: noli me tangere”, de Jacques Rivette (1970) e “Jouez encore, payez encore” (Interprete mais, pague mais), deAndrea Tonacci (1975 / 1995). Os dois filmes são registros singulares de um fazer teatral que estava em crise nos anos 1970, partindo de filmagens que acontecem no coração dos ensaios teatrais, ambos combinam uma concepção formal exigente e uma aposta no momento da filmagem como motor narrativo.
Resumo expandido
- Out 1 e Jouez encore são atravessados por questões semelhantes entre as quais gostaria de destacar: a dimensão do cinema direto, o protagonismo do trabalho dos atores e o surgimento do happening como forma artística e a presença teatral. Os dois filmes compartilham o fato de terem sido prejudicados pela ausência de distribuição; complexificam o jogo dos atores ao diluírem as fronteiros entre documentário/ficção e são pontos de inflexão nas carreiras dos cineastas; e são retratos exemplares de momentos políticos pelos quais França e Brasil atravessavam naquele momento.
Os dois filmes foram realizados sob encomenda e tiveram uma circulação restrita até muito recentemente. Originalmente “Out 1” foi encomendado por um canal de televisão francês (O.R.T.F.) que quando da entrega recusou o material devido à longa duração. “Jouez encore” é fruto de uma encomenda da produtora teatral Ruth Escobar que convidou Tonacci para registrar ensaios, bastidores e apresentações da peça Autos Sacramentais, texto clássico de Calderón de La Barca, feita sob a direção de Victor Garcia, que contou com atores como Sérgio Britto, Antonio Pitanga, Dionísio Azevedo, Jura Otero e Vera Manhães no elenco.
Em “Out 1”, Rivette dá um passo à frente em relação ao que havia feito antes e transforma os mecanismos da ficção e da narrativa em um jogo que ele é responsável por coordenar – por meio de um esquema que estabelece previamente apenas os encontros entre os personagens (basicamente atores de teatro) – e reunir blocos de improvisação teatrais em uma montagem engenhosa. Em “Jouez encore”, Tonacci documenta a explosão de uma crise nos bastidores da montagem da peça “Autos Sacramentais”.
Em seus experimentos estéticos, cada filme inventa, a seu modo, novas regras em que o jogo entre ficção e documentário é construído a partir de uma engenhosa combinação de artifício e honestidade. A presença dos corpos e gestos dos atores, que ocupam o ponto nodal em ambos os filmes, deve-se a uma fisicalidade do aqui e agora inerente ao universo do teatro.
A comunicação pretende comparar os filmes ressaltando a originalidade da relação de cinema e teatro de um lado, os modos de comentar o período histórico pós-68, no Brasil e na França, de outro.
Bibliografia
- . ARMAS, M.; CHESSEL, L. (ed.). Jaques Rivette – Textes critiques, Paris: Post éditions, 2018.
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. DEL RIOS, J. O teatro de Victor García: a vida sempre em jogo, São Paulo: Edições SESC, 2010.
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