Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Fumeo Almeida (UFRGS)
Minicurrículo
- Doutor em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Jornalismo e
Mestre em Comunicação e Informação pela mesma universidade. Integra o ARTIS –
Grupo de Pesquisa em Estética e Processos Audiovisuais.
Coautor
- Esther Hamburger (USP)
Ficha do Trabalho
Título
- KondZilla cineasta: a noção de periferia em Sintonia
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho problematiza o conceito de periferia construído por KondZilla no seriado Sintonia a partir do diálogo entre a análise da sua primeira temporada e de entrevistas concedidas pelo diretor. O marco teórico parte da Teoria de Cineastas, por Baggio, Graça e Penafria (2015), e pelas reflexões de Pinheiro-Machado (2019) e Schwarcz (2019) e Rocha (2006), a fim de construir aproximações entre os estudos de cinema e audiovisual e as pesquisas no âmbito das humanidades e das ciências sociais.
Resumo expandido
- Na infância, a brincadeira favorita de Konrad Dantas teria sido fingir ser dono da própria empresa . Na adolescência, ele teria sonhado fazer um filme sobre as histórias de seus vizinhos na favela de Santo Antônio, no Guarujá . Atualmente, Dantas é conhecido como KondZilla, mesmo nome de sua produtora de vídeo funk, cujo canal no YouTube é um dos maiores do mundo, com mais de 65 milhões de inscritos. Até então outsider no mercado audiovisual ficcional brasileiro, KondZilla criou, em parceria com a produtora Los Bragas e a Netflix, e dirigiu, com Johnny Araújo, o seriado Sintonia (Duas temporadas, 2019-presente). Exibido para usuários da Netflix de mais de 190 países, Sintonia apresenta a trajetória de três amigos de infância criados em um bairro fictício da periferia de São Paulo, a Vila Áurea, nomeada em homenagem à mãe de Dantas.
A realização do seriado dialoga com um contexto mais amplo de transformações em diversos setores da sociedade brasileira, como o cultural, com a efervescência que marca a emergência, nas últimas décadas, de um grande número de realizadoras e realizadores oriundos de segmentos populares. O seriado dialoga também com a série de filmes e séries que, nos anos 2000, vêm abordando contextos de periferias urbanas no Brasil. Tal efervescência, que possibilitou o florescimento de filmografias indígenas, negras e LGBTQIA+ e se relaciona à popularização da internet e das plataformas transnacionais, como o YouTube, os serviços de streaming e as redes sociais, se dá também em torno de indagações sobre como filmar esses espaços da cidade e seus habitantes. Dessa forma, o trabalho procura situar a série dentro de um debate fílmico atual e com grande significado político, que posiciona o cinema e o audiovisual no processo de transformações sociais, políticas e culturais em curso.
Considerando tanto as entrevistas de KondZilla sobre Sintonia quanto a análise das primeira temporada do seriado, este trabalho tem por objetivo realizar um diálogo entre o estudo das entrevistas e da primeira temporada e um marco teórico estruturado em dois eixos a fim de problematizar o conceito de periferia construído por KondZilla no seriado. O marco teórico parte da Teoria de Cineastas, especialmente com base em Baggio, Graça e Penafria (2015), e das reflexões de Pinheiro Machado (2019), Schwarcz (2019) e Rocha (2006), a fim de construir aproximações entre os estudos de cinema e audiovisual e as pesquisas no âmbito das humanidades e das ciências sociais, compreendendo as relações entre cultura e política, especialmente no que se refere à atual multifacetada crise da democracia.
Com uma terceira temporada confirmada, Sintonia apresenta os diferentes caminhos escolhidos por Nando (Christian Malheiros), Rita (Bruna Mascarenhas) e Doni (Jottapê), relacionados ao narcotráfico, à religião e à música, respectivamente. O seriado destaca os diferentes modos e escolhas de vida presentes nos bairros pobres e distantes do centro da maior metrópole brasileira, dando protagonismo a personagens de origem periférica. Incialmente, é possível apontar que, ao centrar-se nos motivos e nas consequências das escolhas dos três jovens, Sintonia dialoga tanto com uma crítica original à ausência do Estado (e consequentemente, à política institucional), especialmente em comunidades de baixa renda, quanto com o processo de efervescência sociopolítica e cultural apontado no início do resumo, sendo fruto direto dele.
Bibliografia
- GRAÇA, André Rui; BAGGIO, Eduardo Tulio; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP – v.12, jan./jun. 2015.
MATIAS, Karina. Sintonia, série de KondZilla na Netflix, quer mostrar vida real da periferia de São Paulo. Folha de São Paulo, 8 ago. 2019. Disponível em: . Acesso em: 25 mai. 2022.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019.
ROCHA, João César de Castro. A guerra de relatos no Brasil contemporâneo, ou a “Dialética da Marginalidade”. Letras, Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras/UFSM – n.32, jun. 2006.
SCWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.