Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Giancarlo Casellato Gozzi (ECA-USP)

Minicurrículo

    Graduado em Ciências Sociais pela FFLCH-USP, Mestre em História, Teoria e Crítica Audiovisual pela ECA-USP e atualmente doutorando na mesma instituição. Pesquisa a relação entre narrativas seriadas contemporâneas e o modo melodramático que as estrutura, tendo como objeto de pesquisa a série americana “Mad Men”.

Ficha do Trabalho

Título

    Masculinidades Hegemônicas em negociação: “Mad Men” e o homem de 1960

Formato

    Remoto

Resumo

    Esta apresentação consiste em analisar formas de masculinidade hegemônica em negociação na série televisiva “Mad Men” a partir de dois de seus personagens principais. Partindo do conceito de “masculinidade hegemônica” elaborado por Connell e Messerschmidt, pretendo comparar as performances de masculinidade em ação, identificando nelas algumas negociações de gênero presentes nos Estados Unidos dos anos 1960, e comparando-as com as de outros personagens de séries lançadas no mesmo período.

Resumo expandido

    Em seu livro “Cable Guys: Television and Masculinities in the 21st Century” (2014), Amanda Lotz produz uma detalhada e aprofundada análise das “masculinidades hegemônicas” (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013) em cena na televisão a cabo americana do início do século XXI. Seu argumento principal é de que os personagens masculinos de séries como “Breaking Bad”, “The Shield” e “Dexter” retratavam as negociações de gênero presentes após a segunda onda do feminismo, e suas tramas ao longo destas séries representavam seus fracassos em tentarem reter certos aspectos do patriarcalismo ao mesmo tempo em que se abriam a serem mais presentes em suas vidas familiares. Sem querer entrar no mérito do argumento da autora, é perceptível nos títulos que ela analisa uma problematização das masculinidades hegemônicas em jogo, com personagens masculinos tentando, sem sucesso, emular um ideal de masculinidade ao mesmo tempo provedor à sua família por meio do trabalho (em um contexto de desindustrialização e pauperização da classe média nos países de capitalismo avançado) e participativo no contexto familiar, tentando se desgarrar dos modelos providos por seus pais no passado. Conforme os próprios Robert Connell e James Messerschmidt, principais formuladores deste conceito, a cristalização de uma masculinidade hegemônica em um dado momento histórico é sempre uma solução a tensões nas relações de gênero, “tendendo a estabilizar o poder patriarcal e reconstituí-lo em novas condições” (2013, p. 272).

    Mas, se tais séries estariam respondendo a anseios sociais e tensões de gênero presentes no fim do século XX e início do XXI, como lidar com uma série que, contemporânea a elas, localiza historicamente sua trama nos anos 1960? É a partir de uma resposta a essa pergunta que se estrutura a presente apresentação, que analisará as formas de masculinidade hegemônica presentes na série “Mad Men” (Matthew Weiner, AMC, 2007-14). A aclamada série televisiva é conhecida por seu retrato cínico e crítico da década de 1960, centrada em uma agência publicitária e seu misterioso e ambíguo diretor de Criação, Don Draper (Jon Hamm). Apesar de “Mad Men” não se encaixar na definição feita por Lotz para “séries masculinas”, tendo como núcleo dramático central homens e mulheres na mesma proporção e com personagens femininas ganhando tramas crescentemente importantes, a série se aproxima do corpus analisado pela autora na medida em que também retrata negociações de gênero historicamente localizadas, colocando ênfase na crise em que entra certo modelo de masculinidade hegemônica por conta da contracultura e dos movimentos sociais dos anos 1960.

    Dessa forma, nesta apresentação pretendo analisar como “Mad Men” retrata por meio de dois de seus personagens principais, o protagonista Draper e seu colega e depois sócio Peter Campbell (Vincent Kartheiser), negociações de gênero ocorrendo ao longo desta década conturbada. Importante aqui é como estes homens respondem a e sofrem com um modelo de masculinidade hegemônica produzido nos Estados Unidos do pós-guerra, com um renovado enclausuramento das mulheres por meio da suburbanização e um processo de repressão psicológica dos traumas da guerra para adequar os veteranos de volta à vida doméstica (PRECIADO, 2010). A palavra de ordem, de acordo com K. A. Cuordileone (2000), é ter uma atitude “viril” e “hard” (melhor representada por Draper, filho de um Meio-Oeste americano devastado pela Depressão) contra uma postura dita “afeminada” e “soft” do homem aculturado do Nordeste americano (representada na série por Campbell, filho de uma importante família nova-iorquina). Ao mesmo tempo, pretendo analisar como esse olhar ao passado está atento também aos anseios do presente, e como que “Mad Men”, ao olhar para trás, quer também falar de seu contemporâneo.

Bibliografia

    CONNELL, Robert W; MESSERSCHMIDT, James W. “Masculinidade hegemônica: repensando o conceito”. In: Revista de Estudos Feministas, n. 21, v. 1, 2013, p. 241-282.

    CUORDILEONE, K. A. “‘Politics in an Age of Anxiety’: Cold War Political Culture and the Crisis in American Masculinity, 1949-1960”. In: The Journal of American History, Set. 2000, p. 515-545.

    LOTZ, Amanda. Cable Guys: Television and Masculinities in the 21st Century. Nova York: New York University Press, 2014.

    PRECIADO, Beatriz [Paul]. Pornotopía – Arquitectura y sexualidad en “Playboy” durante la guerra fría. Barcelona: Editorial Anagrama, 2010.