Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Vitor Luz Corrêa (UAM)

Minicurrículo

    Paulo Luz Corrêa é mestre em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (SP) e bacharel em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário São Judas (SP). Realiza desde 2016 mapeamento da realização de festivais audiovisuais brasileiros que permite identificar as principais características dos festivais ao longo dos anos. Membro do grupo de pesquisa “Festivais de cinema e audiovisual – histórias, políticas e práticas”.

Ficha do Trabalho

Título

    Os festivais de Santos e Guarujá na relação INC-festivais brasileiros

Formato

    Presencial

Resumo

    O Instituto Nacional de Cinema (INC) foi uma autarquia com objetivo de formular/executar a política pública cinematográfica sob diversas frentes, entre elas, os festivais de cinema brasileiros. Esta proposta apresentará como se dava a atuação do INC nestes eventos a partir dos quatro festivais realizados em Santos e Guarujá (1970 duas vezes, 1973 e 1974), que atividades foram levadas pelo Instituto na programação de cada evento e como se inserem nas linhas de atuação do órgão com os festivais.

Resumo expandido

    O Instituto Nacional de Cinema (INC) foi uma autarquia (1966-1975) com o objetivo de “formular e executar a política governamental relativa à produção de filmes, ao desenvolvimento da indústria cinematográfica brasileira, ao seu fomento cultural e a sua promoção no exterior” (MELLO, 1978, p. 38). O INC agiu nas mais diversas etapas do setor, como produção, distribuição, exibição, exibição compulsória, padronização de ingressos, financiamento de obras, acordos de coprodução, aplicar e fiscalizar a legislação, produção de filmes, constituindo-se como relevante órgão da relação cinema-Estado no Brasil.

    O Decreto-Lei n° 43 de 18/11/1966, que cria o Instituto, prevê ainda a seleção de “filmes para participar em certames internacionais e orientar a representação brasileira nessas reuniões” (MELLO, 1978, p. 39). Considerando “festival” como um evento marcado para acontecer em determinado espaço e tempo (ALENCAR, 1978, p. 47), o INC se envolve também com os festivais nacionais, atundo de diferentes maneiras e objetivos a fim de lançar sua influência política e econômica nas estruturas desses eventos, visualizando boa parte dos festivais como estratégia de mercado e vitrine dos longas brasileiros para melhor performance no circuito comercial.

    Dividimos a atuação do Instituto com os festivais sob três linhas de atuação: 1) De Dentro Para Fora: levando o filme brasileiro a festivais internacionais; 2) De Fora Para Dentro: realizando festivais internacionais dentro do Brasil e fazendo os olhos do mundo-cinema irem até o Brasil; 3) De Dentro Para Dentro: criando festivais brasileiros para promover o filme brasileiro ao público interno. Nesta última, há dois momentos: entre 1966-1972, a autarquia cria um calendário de eventos oficiais em que insere apenas os eventos que considera relevantes, sem organização jurídica para tal; e de 1973-1975, quando baixa a Resolução n° 88, estabelecendo normas e padronizando a realização destes festivais no país bem como o seu nível de envolvimento.

    Assim, esta proposta apresentará o envolvimento do INC com os festivais usando como estudo de caso os quatro eventos sediados na Baixada Santista nos anos 70: I Festival do Cinema Brasileiro de Santos (23/10/1970 a 31/10/1970), I Festival do Cinema Brasileiro de Guarujá (25/11/1970 a 29/11/1970), I Festival do Cinema Brasileiro da Baixada Santista (13/10/1973 a 20/10/1973) e II Festival do Cinema Brasileiro de Guarujá (07/11/1974 a 10/11/1974). Tentaremos identificar como o INC se fez presente nos quatro festivais, que atividades levou para as programações de cada evento, as diferenças entre um festival e outro e como estão inseridos nas linhas de atuação da autarquia.

    Os eventos dos dois municípios da Baixada Santista nos auxiliarão a visualizar as dinâmicas do Instituto com os festivais, essencialmente os nacionais. Como cidades turísticas, no litoral paulista, Santos e Guarujá foram visualizadas como ambientes propícios para um tipo de festival com foco na programação fílmica e também social, em que atores, atrizes, diretores e produtores, se deslocavam ao município para aproveitar a praia, os hotéis, as festas, os coquetéis, mimetizando a estrutura dos festivais internacionais, como Cannes, Veneza e Berlim.

    Santos e Guarujá, municípios vizinhos, possuíam juntos quase 500 mil habitantes à época, com um parque de exibição consideravelmente grande – Santos tinha mais de 30 cinemas espalhados pela cidade, sendo um espaço atrativo para a realização de festivais que objetivavam auferir maior presença de mercado do filme nacional no circuito comercial de exibição.

    Por fim, os quatro festivais sintetizam as duas etapas De Dentro Para Dentro: Santos-70 e Guarujá-70 são concorrentes, acontecem quase ao mesmo tempo e na mesma localidade, um inserido no calendário de eventos oficiais do INC e o outro não; nos eventos de 73-74, os municípios se unem para criar um festival anual em revezamento, estratégia tutelada pelo INC e enquadrada pela Resolução n° 88.

Bibliografia

    ALENCAR, Miriam. O cinema em festivais e os caminhos do curta-metragem no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Artenova, 1978.142p.

    GONÇALVES, Alcindo. Desenvolvimento Econômico da Baixada Santista. Santos: Editora Leopoldianum, 2006. 189p.

    LICHTI, Fernando Martins. Polianteia Santista. Santos: Editora não informada. 1996. 250p. Volume 3.

    MELLO, Alcino Teixeira De. Legislação do Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Edição da EMBRAFILME, 1978. Volumes I e II, 617p.

    PEREIRA, Geraldo Santos. Plano geral do cinema brasileiro. Guanabara: Editor Bolsoi, 1973. 357p.

    RAMOS, José Mário Ortiz. Cinema, Estado e lutas culturais. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1983. 175p.

    SIMIS, Anita. Estado e Cinema no Brasil. São Paulo: Editora UNESP, 2015. 302p

    TAKAHASHI, Jo (Coord.). Cinema brasileiro: evolução e desempenho. São Paulo: Fundação Japão, 1985. 171p.

    VALCK, Marijke de. Film Festivals: From European Geopolitics to Global Cinephilia. 2ed. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2007. 280p.