Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Isabel Soares (UAlg)

Minicurrículo

    Professora Auxiliar da UAlgarve, Portugal. Doutora em Teoria da Literatura pela Faculdade de Letras de Lisboa, tem pós-doc sobre cinema português e poesia. Pesquisa nas áreas do audiovisual, sobretudo cinema português. Integrou a equipa de fundadores da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento, de que foi a 1ª Presidente (2010-2014). Membro do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (Universidade do Algarve). Diretora do Deptº de Artes e Humanidades da FCHS, UAlgarve.

Coautor

    Claudia Maria Azevedo Nascimento Clemente (CIAC)

Ficha do Trabalho

Título

    Filhas de Lilith – Autoidentificação como forma de transgressão

Mesa

    SPECULUM 2: Filmar-se e ver-se ao espelho

Formato

    Remoto

Resumo

    Propomos uma abordagem a algumas obras fotográficas que têm por objeto (e, em casos relevantes, autoras) mulheres que se veem a si mesmas em imagens especulares. Traremos para análise a figura da Condessa de Castiglione, assim como fotografias da série “Playing with Myself”, de Cláudia Clemente.

Resumo expandido

    Ao longo da História, inúmeras foram as mulheres que exploraram – por meios igualmente numerosos – a sua própria identidade através da autorreflexão. Em alguns casos, o processo é literal e passa por um auto-reflexo, por verem-se ao espelho e mostrarem-se nesse ato de íntima introspeção. Trata-se, aliás, de uma introspeção que passa por uma exteriorização, através da criação da imagem dupla e invertida. As artes da fotografia e do cinema prestam-se particularmente a este exercício e um dos seus exemplos mais fascinantes encontra-se nas fotografias de Virginia Oldoini, Condessa de Castiglione (1837-1899), que se fez representar por várias vezes em frente a espelhos. Olhar de frente para a câmara é uma ousadia – quando uma mulher o faz (no caso, durante a segunda metade do século XIX), desafia as expectativas sociais, opera como que uma transgressão. Revela-se, a si mesma se revelando, quantas vezes de olhos fixados na câmara e instigando a curiosidade de quem observa, para lá da imagem.
    Na série fotográfica “Playing with Myself” (2010-), a artista Cláudia Clemente apresenta aquilo que descreve como um “conjunto de encenações aparentemente simples recorrendo a uma multiplicidade de personagens: desde clássicos do Cinema […] até ilustres figuras históricas”, revisita “ícones da cultura tradicional portuguesa (a varina, o galo de Barcelos)” e passa por outros tópicos universais em que revê a sua identificação simultaneamente como observadora e observada. A naturalidade de si como objeto fotografado contrasta com o fingimento, a fabricação assumida em cada imagem da série que acompanha Cláudia Clemente ao longo da vida – ela é sempre a menina que, em frente ao espelho, experimenta modelos diferentes e encena personagens que não deixam de ser ela mesma. O que resulta, enquanto autoimagem, desta sucessiva auto-carnavalização?
    Em suma, olhando-se ao espelho, literal ou metaforicamente, as obras que retratam a Condessa de Castiglione e Cláudia Clemente ajudam-nos a buscar pistas teóricas para compreender o processo de autoimagem e da realização de documentários autobiográficos por mulheres.

Bibliografia

    Bolton, Lucy. Film and Female Consciousness: Irigaray, Cinema and Thinking Women. New York: Palgrave Mcmillan, 2011.
    Figueiredo, Maria Rosa (curadora). Do outro lado do espelho. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017.
    Medeiros, Margarida (Ed.), Fotogramas, Ensaios sobre Fotografia. Lisboa: Sistema Solar-Documenta, 2016.
    Mulvey, Laura. Death 24x a Second. London: Reaktion Books, 2006.
    Pepperel, Robert e Punt, Michael (eds). Screen Consciousness: Cinema, Mind and World. New York: Rodopi, 2006.
    Rancière, Jacques. O Espectador Emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
    Smelik, Anneke. And the Mirror Cracked: Feminist cinema and film theory. New York: Macmillan, 1998.