Ficha do Proponente
Proponente
- Lilian Sola Santiago (ECA-USP)
Minicurrículo
- Documentarista, Roteirista, Pesquisadora e Professora de Audiovisual. Dirigiu mais de uma dezena de documentários premiados no Brasil e no exterior e colaborou na produção de importantes filmes e séries documentais e de ficção. É Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na ECA-USP e integrante do Grupo de Pesquisa CNPQ LabArteMídia. É professora e coordenadora do Curso de Cinema do CEUNSP – Cruzeiro do Sul (Salto/SP).
Coautor
- Andrea Rosendo da Silva (USP)
Ficha do Trabalho
Título
- A tela por elas: conhecimento e noção de cinema negro por afro-latinas
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- A proposta aponta contribuições das afro-latinas sobre a noção de cinemas negros. Parte-se da hipótese de que essa noção foi construída por homens, mas que é preciso uma revisão histórica e incluir mulheres, tais como Beatriz Nascimento – historiadora e crítica do cinema brasileiro nos anos de 1970 e 1980. Na atualidade, Edileusa Penha de Souza e Renata Martins organizam livros com contribuições de intelectuais para a noção de cinemas negros com o ponto de vista feminino.
Resumo expandido
- Uma das primeiras obras a tratar a relação sobre cinema e população negra é o livro O negro brasileiro no cinema (RODRIGUES,1988). O autor reflete sobre os arquétipos/estereótipos da raça negra, criticando a ausência de personagens negras reais e individualizadas. Também analisa filmes brasileiros e elabora um quadro com doze caricaturas atribuídas à representação da pessoa negra no cinema, incluindo caricaturas atribuídas às mulheres: a mãe preta, a mulata boa e a musa. Entretanto, o autor não nega a possibilidade de variações de gêneros para representações como os pretos velhos, o martir, o negro de alma branca.
Uma referência sobre como opera a construção de imagem no sistema capitalista é A Máquina de Narciso (SODRÉ,1984). O autor recupera os mitos gregos de Narciso para explicar as funções do narcisismo na sociedade industrial, principalmente na TV e outros veículos tecnológicos de produção de imagens. Diz que o narcisismo freudiano está a serviço da organização do espaço social através de imagens e de uma mobilização exacerbada do olhar. Para ele, as trocas simbólicas são realizadas por meio da visão e, nesse sentido, a TV é compreendida como um veículo de poder e controle social que, dentro de uma lógica de reprodução mecânica e eletrônica, mobiliza a visão para constituir e fixar as estruturas do sujeito ocidental.
Em A Negação do Brasil – o negro na telenovela brasileira – (ARAUJO, 2010), o autor apresenta um estudo sobre a presença do negro na telenovela, mostrando que atores e atrizes afro-brasileiros foram incorporados de forma regular na história da telenovela como representação de uma natural subalternidade racial e social, portanto, como estereótipos de si mesmos. Para o autor, no período 1963-1997, a TV brasileira manteve esse discurso sustentado pelo paradigma do branqueamento, excluindo a diversidade sociocultural e etnicorracial do Brasil
Saindo da esfera da TV, a conceituação do que se entende por Cinema Negro está no livro homônimo de Celso Prudente(2015). Em A dimensão pedagógica do cinema negro (PRUDENTE, 2019), o autor reflete sobre as tendências cinematográficas na representação de pessoas negras tanto nas produções conhecidas como Chanchadas como no movimento denominado Cinema Novo. O autor expõe as tentativas de imposição da população negra a uma inferioridade racial, mas também aponta que o cinema, enquanto forma de conhecimento, seria uma ferramenta para a reconstrução da imagem de minorias vulneráveis – negros, mulheres, população LGBTQIA+, indígenas, minorias religiosas, entre outros.
Observando a elaboração teórica dos intelectuais, é inegável a contribuição deles sobre a imagem e representação da população negra na mídia, sobretudo na TV e no cinema. Entretanto, é preciso refletir se o conhecimento também produzido por mulheres negras estão inseridos nesta noção do cinema negro. Para tanto, parte-se da seguinte questão: o cinema negro postulado por homens segue a mesma compreensão das mulheres?O que iguala e difere? A percepção delas pode amplificar uma análise fílmica que envolva filmes produzidos e/ou com personagens negros?
Essas questões orientadoras da reflexão podem vir a acrescentar elementos para a noção de cinemas negros na perspectiva feminina. Para tanto, busca-se recuperar as reflexões de Beatriz Nascimento e fazer uma coleta de dados sobre intelectuais mulheres da atualidade que escrevem sobre cinema negro. A proposta é utilizar as metodologias de pesquisa bibliográfica, documental e análise de conteúdo para analisar o discurso de Beatriz Nascimento sobre cinema negro e fazer uma reflexão e sistematização do pensamento das autoras que escrevem sobre cinema negro no livro Narrativas Incontidas do audiovisual brasileiro, de Renata Martins, chamando a atenção para a contribuição do olhar negro e feminino para a noção do que vem a ser cinema negro desde Brasil e com o ponto de vista das mulheres negras.
Bibliografia
- ARAÚJO, J. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2000.
MARTINS, Renata. Empoderadas Narrativas Incontidas do Audiovisual Brasileiro.São Paulo: Oralituras, Spcine, Mahin Produções, 2021.
RODRIGUES, J. C. O negro brasileiro e o cinema. Rio de Janeiro: Globo, 1988.
SOBRINHO, G.A.; CARVALHO, N. S. Imagens do negro em redes audiovisuais no Brasil: documentários e construções identitárias. In: SOBRINHO, G. A. Cinemas em redes: tecnologia, estética e política na era digital. Campinas: Papirus, 2016.
SODRÉ, M. A máquina de Narciso. Rio de Janeiro: Cortez, 1984.
SOUZA, Edileuza P. de. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade. Tese (doutorado). Universidade de Brasília, Programa de Pós-graduação em Educação, 2013.
UNIÃO DOS COLETIVOS PAN-AFRICANISTAS. Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: Possibilidade nos dias da destruição. São Paulo: Editora Filhos da África, 2018.