Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Angela Freire Prysthon (UFPE)

Minicurrículo

    Angela Prysthon é professora titular do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFPE. Fez estágio sênior pós-doutoral na Universidade de Southampton. Tem doutorado em Teoria Crítica pela Universidade of Nottingham. É autora de “Cosmopolitismos periféricos” (Bagaço, 2002) e “Utopias da Frivolidade” (Cesárea, 2014), entre outros títulos.

Ficha do Trabalho

Título

    Rastros do tempo, paisagens e espaços de intimidade em três diretoras

Mesa

    SPECULUM 1. Filmar-se e ver-se ao espelho

Formato

    Remoto

Resumo

    Este artigo propõe investigar três filmes da década passada: “A toca do lobo” de Catarina Mourão (2015), “El silencio es un cuerpo que cae” de Agustina Comedi (2017) e “A volta ao mundo quando tinhas 30 anos” de Aya Koretsky (2018). O objetivo é comparar e analisar as três obras a partir da sua composição do espaço e do que chamaremos de “paisagens familiares” (combinação que as três cineastas fazem entre as imagens de arquivos familiares, figurações do banal e espaços do presente).

Resumo expandido

    Esta proposta faz parte do meu projeto de pesquisa atual “Antes do fim do mundo, aquém e além da paisagem. Corpos, espaços e natureza no cinema e nas artes visuais”, no qual busco analisar os múltiplos vínculos existentes entre os espaços (naturais ou construídos), os corpos e a natureza no cinema e nas artes visuais. Para este artigo, a ideia é investigar três filmes da década passada: “A toca do lobo” de Catarina Mourão (2015), “El silencio es un cuerpo que cae” de Agustina Comedi (2017) e “A volta ao mundo quando tinhas 30 anos” de Aya Koretsky (2018) a partir de uma perspectiva comparatista tendo como horizonte teórico noções vinculadas ao espaço e à paisagem e questões do campo do documentário, dos arquivos e do found footage e de figurações do banal e do cotidiano.
    Esse pequeno conjunto fílmico revela várias unidades temáticas e pictóricas, muitas delas ligadas às questões dos espaços e das paisagens. Os três foram dirigidos por mulheres que buscaram dar conta de figuras masculinas (pai – filmes de Koretsky e Comedi – ou avô – caso de Mourão) através das imagens ou dos espaços produzidos por eles. Em cada um dos filmes é possível identificar sequências nas quais cabe à combinação entre paisagem, composição dos espaços (de dentro e de fora) e documentos de intimidade e do cotidiano a definição do tom, do estilo e da mise en scène: em “A toca do lobo” são found footage, fotos antigas de família e filmes caseiros sobrepostos a imagens contemporâneas dos cômodos vazios da casa do avô, de cartas e documentos sendo lido, ou planos paisagísticos dos arredores pitorescos da região; vídeos feitos em viagens de trem pela Europa, imagens do campo argentino e fotografias íntimas concatenadas com depoimentos de amigos e familiares do pai de Comedi em “El silencio es um cuerpo que cae”; e, finalmente, as fotografias de viagem e os fragmentos fílmicos do pai de Koretsky nos anos 70 (quando ele tinha trinta anos, mesma idade da diretora quando realizou o filme) contrapostos às suas imagens contemporâneas cuidando do jardim ou realizando tarefas domésticas. Todas essas estratégias estilísticas realçam o papel das paisagens na criação de mundos cinemáticos e de uma ideia de intimidade e família que está fortemente relacionada com os espaços (construídos e naturais) nos quais as pessoas interagem.
    Uma de nossas hipóteses é que a articulação simultânea do material de arquivo dessas figuras paternas e das imagens de lugares (sejam espaços naturais ou do âmbito doméstico) criam uma espécie de “paisagem familiar” que dá molde e sustenta não somente a ideia de ambiência dos filmes, mas a sua própria textura. Tendo como objetivo caracterizar a noção de “paisagens familiares” no cinema contemporâneo, vamos comparar os três filmes entre si e com outros trabalhos que concatenam o íntimo e o público, o dentro e o fora, a memória e o presente, o banal e o extraordinário tanto do cinema, como de outras artes, tanto da ficção como do documental (Mekas, Varda, Keiller, Akerman, Encina, Kotting, W. G. Sebald, Iain Sinclair, Ana Martins Marques, Luigi Ghirri, Jonathas de Andrade, entre muitos outros).
    Para desenvolver esta e as outras hipóteses ligadas à ideia de “paisagens familiares” e para analisar comparativamente os filmes, baseio-me tanto no lastro teórico dos estudos da paisagem na pintura e no cinema (Berger, 2016; Nancy, 2005; Lefebvre, 2006), como em abordagens mais pontuais sobre a ambiência e a espacialidade no cinema e nas artes(Bruno, 2002; Mamula, 2013; Sinnebrink, 2012), além, evidentemente, da literatura sobre o documentário em primeira pessoa, o uso de arquivos e sobre o cinema contemporâneo de mulheres.

Bibliografia

    Berger. John. Landscapes: John Berger on Art.London: Verso, 2016.
    Bruno, Giuliana. Atlas of Emotion: Journeys in Art, Architecture, and Film. London: Verso, 2002.
    Charney, Leo. Empty Moments. Cinema, modernity and drift. Durham: Duke Univesity Press, 1998.
    Lefebvre, Martin (org.). Landscape and Film. London:Routledge, 2006.
    Mamula, Tijana. Cinema and Language Loss. Displacement, Visuality and the Filmic Image. London: routledge, 2013.
    Nancy, Jean-Luc. “Uncanny Landscape.” In The Ground of the Image. New York: Fordham University Press, 2005.
    Sebald, W. G.. Vertigem. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
    Sinnebrink, Robert. “Stimmung: exploring the aesthetics of mood , Screen 53:2, 2012, pp 148-163.
    Sitney, P. Adams.. “Landscape in the Cinema: The Rhythms of the World and the Camera”. In Salim Kemal e Ivan Gaskell (orgs.), Landscape, Natural Beauty and the Arts. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.