Ficha do Proponente
Proponente
- Manuela Bezerra Gouveia de Andrade (UFF)
Minicurrículo
- Manuela trabalha com produção, direção, roteiro, pesquisa e educação na área de cinema há mais de 10 anos. Ela é mestre em Culturas Midiáticas Audiovisuais e no momento cursa o doutorado no PPGCine da UFF. No ano de 2017 finalizou o ebook Distribuição do Cinema Pernambucano: um estudo contemporâneo – 2013 à 2017 e atualmente trabalha no ebook de crítica fílmicas “Mulheres em foco: : disputa de espaços e demarcação de protagonismos das realizadoras em PE e no NE na década de 2010”
Ficha do Trabalho
Título
- O colonialismo no cinema contemporâneo latino-americano de mulheres
Formato
- Remoto
Resumo
- O estudo tem como objetivo a partir de um escopo de análise focado em filmes que tematizam o colonialismo, dedicar-se a uma análise de obras de mulheres que falam de pontos de partida distintos: tanto mulheres brancas como mulheres indígenas de diferentes países de Abya Ayla. Este trabalho se dedicará especificamente ao estudo das narrativas fílmicas no intuito de esmiuçar como as diretoras tecem questões como o tempo e o território.
Resumo expandido
- O estudo tem como objetivo a partir de um escopo de análise focado em filmes que tematizam o colonialismo, seja através de narrativas que se debruçam em momentos históricos seculares ou que pautem a remanescência de herdeiros contemporâneos desses territórios usurpados, dedicar-se a uma análise de obras de mulheres que falam de pontos de partida distintos: tanto mulheres brancas como mulheres indígenas de diferentes países de Abya Ayla.
Este trabalho se dedicará especificamente ao estudo das narrativas fílmicas no intuito de esmiuçar como as diretoras tecem questões como o tempo e o território. O corpus dessa investigação é composto pelas obras: Tio Yim (2019) da zapoteca Luna Máran, e Luz nos trópicos (2020) da colombiano-brasileira Paula Gaitán.
Numa proposta de aproximação entre os povos de Abya Ayla a presente pesquisa traz realizadoras de diferentes regiões para flexionar o passado e o presente em busca de interseções discursivas, sensoriais e históricas comuns às narrativas fílmicas selecionadas. Toda a trajetória de colonização da América Latina se por um lado deixou nesses povos cicatrizes de apagamento e resistências, por outro sedimentou uma herança colonial perversa que a partir das ficções raciais e de gênero cindem e segregam.
Entendendo o cinema enquanto propulsor de novos imaginários de mundo, como esses filmes podem vir resignificando as experiências terceiro-mundistas? O que trazem em ebulição as narrativas? Ao perceber como um fenômeno recente na história a presença de mulheres ameríndias ocupando o cargo de direção de filmes (o que pode-se chamar de uma tomada de rédeas), também é muito caro à pesquisa a reflexão acerca das gramáticas imagéticas que essas realizadoras tecem nas telas. O que carregam consigo da linguagem própria de seus respetivos povos e agregam ao cinema?
E porque colocar realizadoras que falam de um lugar de branquitude ao lado dessas narrativas produzidas por povos originários na pesquisa? Pensando na noção de periferia e de sistema-mundo de Quijano, trazer voz para essas mulheres latinas brancas também consiste sob uma ótica macro em oferecer visibilidade a um tipo subalternidade. Não se tratam dos pintores europeus produzindo retratos de indígenas seminus em atmosferas apaziguantes de outrora. Tampouco não prevê-se aqui qualquer tipo de complacência a questões espinhosas que possam surgir nas análises do trabalho de Gaitán. Mas refletir sobre a autoimagem das branquitude latino-americana ao lado do olhar de povos originários parece que pode criar um díptico mais fiel às vivências que perpassam o ainda atual pesadelo colonial contemporâneo.
A pesquisa terá como base conceitual, prioritariamente, autores pós-estruturalistas e decoloniais e se dedicará a flexionar conceitos como o regresso de futuro de Aníbal Quijano, a decolonialidade do tempo de Julieta Paredes, o perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro, a epistemologia nativa de Célia Xakriabá e a descolonização do inconsciente de Suely Rolnik. Tal aporte teórico e metodologia funcionarão como instrumento para tentar identificar possíveis epistemologias inauguradas pelos filmes ao tratar desse pesadelo colonial.
Bibliografia
- BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 11, 2013, p. 89-117.
PAREDES, Julieta C. GUZMÁN, Adriana A. El Tejido de la Rebeldía. Que es el feminismo comunitário? La Paz: Comunidad Mujeres Creando Comunidad, 2014.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015
ROLNIK, S. Esferas da Insurreição: Notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: n-1 edições, 2019. 208p
SEGATO, R. L. O tempo na obra de Aníbal Quijano. Revista Cult, Edição 248, 2019. Disponível em: Acesso em: 15 ago. 2021.
XAKRIABÁ, C. N. C. O barro, o jenipapo e o giz no fazer epistemológico de autoria xakriabá: reativação de memória por uma educação territorializada. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais). UnB-MESPT, 2018.