Ficha do Proponente
Proponente
- Henrique Nogueira Neme (PUC-SP)
Minicurrículo
- Henrique Nogueira Neme graduou-se em Comunicação Social com habilitação em cinema pela FAAP. É doutorando na pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Integra o grupo de pesquisa “eXtremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea” desde 2020. Atua como montador, roteirista e assistente de direção. Também montou, escreveu e dirigiu os curtas-metragens “Entre os Dois” (2015), “Como numa Quarta-feira de Cinzas” (2016) e “Hermético” (2017)
Ficha do Trabalho
Título
- CINEMA E SUAS MANIFESTAÇÕES DE PRESENÇA: AS “NARRATIVAS SENSORIAIS”
Formato
- Presencial
Resumo
- Propõe-se a análise e problematização de obras cinematográficas, no século XXI, que desenvolvem “narrativas sensoriais” (GONÇALVEZ, 2014). Estas são obras construídas por “blocos de afetos e sensações” e “efeitos de presença” (GUMBRECHT, 2010), explorados durante a relação entre articulação em imagens e os corpos inseridos no campo da imagem. Que presença tem a narrativa cinematográfica e de que modos as “narrativas sensoriais”, no cinema do século XXI, instituem outros caminhos narrativos?
Resumo expandido
- As obras cinematográficas (voltadas as salas de exibição) constroem-se por uma série de planos e seus respectivos enquadramentos combinados sequencialmente (e por infinitesimais caminhos possíveis de explorar combinações). O filme, então, não deixa trabalhar uma articulação através de imagens, colocando-as em relação. Articulação que carrega afecções e sensações dos corpos de seus diretores e diretoras. Desse modo, a obra cinematográfica também se assume uma extensão do corpo do diretor ou diretora cinematográficos, presentificado pela articulação em imagens ao decurso do filme (SILVA, 2011).
Há também os corpos no cinema, isto é, os corpos localizados no filme – inseridos dentro do campo da imagem (SILVA, 2005). Logo, os corpos subjetivados pelos planos e seus respectivos enquadramentos. Nas ficções cinematográficas, por exemplo, os corpos no filme seriam os corpos dos personagens em relações com diversos elementos presentes no campo ou no fora de campo da imagem. Dá-se, assim, conjuntamente ao gesto articulador de imagens, o relacionar constante com os corpos no cinema.
Do relacionar entre a articulação através de imagens e corpos no cinema, ergue-se uma rede complexa de procedimentos de construção estética. Dessa rede, enfatizaremos aquelas que exploram intensivamente os “efeitos de presença” (GUMBRECHT, 2010). Nas ficções cinematográficas, os “efeitos de presença” são produzidos pelos personagens em seus gestos, expressões faciais, movimentações em torno de um espaço, entre outras manifestações corporais visível e materialmente em apresentação ao observador.
Contudo, para isso, somam-se também, os “efeitos de presença” decorrentes das durações e dos ritmos explorados em planos articulados sequencialmente no filme. Segundo: os “efeitos de presença” decorrentes dos modos específicos de enfatizar, durante o relacionar entre um plano antecessor e um plano sucessor: cor, iluminação, figurino, entre outros detalhes visuais e sonoros. Terceiro: os “efeitos de presença” resultantes da encenação ou, inclusive, de procedimentos que provocam o “descontorno” da cena (OLIVEIRA JR, 2014) e do plano cinematográfico – tensionando o próprio conceito deste.
O plano cinematográfico e sua problematização, no seu aspecto de unidade de duração dentro da articulação em imagens e no seu aspecto agenciador de intensidades (OLIVEIRA JR, 2014), permite-nos olhar as “narrativas sensoriais” (GONÇALVEZ, 2014) existentes no cinema contemporâneo do século XXI.
As “narrativas sensoriais” são obras norteadas pela produção de sensações e afecções no observador, que experiencia o filme. Tais obras são construídas por meio da articulação de planos que conduz a suspensão da narratividade contadora de histórias, de ordem aristotélica; induzindo-nos, observadores, a fruir “qualidades plásticas” e “forças contemplativas” na materialidade da imagem. Elementos estes, por sua vez, também produtores de presenças.
Nas “narrativas sensoriais”, podemos incluir tanto as obras pertencentes ao “cinema de fluxo” (OLIVEIRA JR, 2014) como outras obras que não compartilham exatamente mesmos aspectos do “cinema de fluxo” possuindo, entretanto, a semelhança de explorarem uma “extremidade” (MELLO, 2008) do cinema voltado as salas de exibição. Em razão de situar esse cinema numa zona limítrofe, de indeterminação, com o cinema além das salas de exibição (a videoarte, a videoinstalação, por exemplo). Consequentemente, vemos o tensionamento do próprio plano cinematográfico e de outros elementos que constituem as construções estéticas no cinema.
Fundamentando-se nos modos de Mati Diop e Dea Kulumbegashvili explorarem diferentemente suas articulações em imagens nos seus respectivos filmes, “Atlânticos” (Atlantique, 2019) e “Beginning” (Geórgia, 2020); propomos as seguintes problematizações: que presença tem a narrativa cinematográfica? De que modos as articulações em imagens, através dos regimes de presença, instituem outros caminhos narrativos no cinema do século XXI?
Bibliografia
- GONÇALVES, Osmar. Introdução. In: GOLÇALVES, Osmar. (org.). Narrativas sensoriais: ensaios sobre cinema e arte contemporânea. Rio de Janeiro: Circuito, 2014.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.
MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Senac, 2008.
NOGUEIRA NEME, Henrique. Mise en scène e corpo no cinema no século XXI: reflexões críticas a partir de Apichatpong Weerasethakul e Henrique Nogueira Neme. São Paulo: COS-PUC, tese de mestrado, 2021.
OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. Mise en scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2014. E-book.
PARENTE, André. Narrativa e modernidade: os cinemas não-narrativos do pós-guerra. Campinas: Papirus, 2000.
SILVA, Mônica Toledo. O corpo no cinema: pensamento em movimento. São Paulo: COS-PUC, tese de mestrado, 2005.
SILVA, Mônica Toledo. Imagem em ação: para um cinema do corpo. São Paulo: COS-PUC, tese de doutorado, 2011.