Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Alvares Vidigal (UFMG)
Minicurrículo
- Leonardo Vidigal é professor associado e orientador no Programa de Pós-Graduação em Artes e no curso de graduação de Cinema de Animação e Artes Digitais da Escola de Belas Artes, na Universidade Federal de Minas Gerais. É mestre e doutor em Comunicação Social também pela UFMG e fez pós-doutorado na Goldmiths, University of London, para o qual realizou o filme “Minha Boca, Minha Arma” (2016), com Delmar Mavignier.
Ficha do Trabalho
Título
- Pontos de escuta e produção de documentários coletivos de sound system
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- A apresentação atual irá problematizar documentários de sound systems, que re-processam o reggae e outros gêneros para o audiovisual, se valendo de equipamentos customizados. Esse reprocessamento precisa atingir uma certa expectativa de veracidade, por se apresentar como uma apresentação menos mediada do real. Vamos investigar como a teoria do som e a noção de ponto de escuta podem ser analisadas nos filmes produzidos pelos próprios coletivos, propondo e apoiando a produção de novos filmes.
Resumo expandido
- Desde quando as equipes de filmagem de documentário ganharam mobilidade e se tornou possível gravar o som direto com as imagens, a inserção de sons não captados in loco ou música pós-sincronizada na montagem foi problematizada, pois sugeria uma artificialidade para muitos inaceitável. Nos filmes documentais, o som teria idealmente uma única camada, captada no local, para preservar a sua autenticidade. No entanto, algumas vezes é necessário acrescentar camadas ao som de um documentário, como aconteceu no filme-pesquisa Minha Boca, Minha Arma, ou em outros filmes que inserem canções sobre imagens com som gravado de forma distorcida. Essa reconstrução da paisagem sonora gravada, por meio da mixagem e da edição sonora, seja na cinema documental ou ficcional, foi chamada na minha tese de arranjo audiovisual (Vidigal, 2020).
A equipe técnica, o mixador e o editor de som teriam a função de apoiar, atualizar, polarizar e principalmente ativar esse arranjo, que pode ser abafado por uma produção e pós-produção mal realizadas, também por um processo de escuta coletiva do material gravado. Assim, a produção e recepção de um filme documental aciona diversas escutas, de todas as pessoas envolvidas na produção sonora do filme e, para um realizador que permite a pós-sincronização, de alguém com a atribuição de escolher as canções a serem inseridas no documentário e nesse sentido podemos comparar o papel do montador com o papel do DJ (ou como é chamado na Jamaica, o selector) em uma sessão de sound system. Configura-se assim uma re-escuta, que pode transformar as relações sonoras do filme pela adição de camadas e também a escuta do espectador e como ele apreende aquele arranjo audiovisual.
Assim, o que acontece quando a re-performance do canto e da música em um sound-system (Henriques, 2011), se encontra com as re-escutas da equipe do filme e a modulação realizada por meio da montagem é algo que precisa ser investigado quando tratamos de filmes de sound-systems. Podemos nos perguntar se, em um filme, não haveria uma terceira ou até uma quarta camada de manipulação sonora, pois se trata de novos processamentos, dessa vez mediados também pela câmera, além do microfone usado para a captação sonora e o programa de edição.
Uma nova etapa da pesquisa irá investigar tais problemas, além da questão do ponto de escuta, por meio da análise da produção de filmes realizados pelos coletivos. A partir dessa investigação preliminar, será proposta e apoiada a realização de novos vídeos pelos sound systems que aceitarem fazer parte da pesquisa, por meio de formas alternativas de captação audiovisual. Câmeras portáteis e celulares estão permitindo que os pontos de vista e de escuta que servem como base para a produção de vídeos na rede variem de acordo com a intenção e posicionamento dos realizadores e da câmera no local de gravação, em uma situação onde, na maioria das vezes, som e imagem são gravados ao mesmo tempo.O uso de câmeras pessoais é importante pois o objetivo é realizar um filme coletivo onde a cultura dos sound systems seja a protagonista, não indivíduos, por isso deve ser captado pelo maior número possível de pessoas. Para tanto, serão levadas em conta experiências anteriores de filmes coletivos por pessoas que não tinham experiência em realizar documentários (Viértov, 2022; Migliorin, 2015).
Um desafio é conseguir captar com dispositivos acessíveis, de forma não distorcida, os eventos de sound system. Isso porque eles apresentam um som de volume massivo, onde frequências graves são amplificadas com mais peso, dominando o ambiente sonoro de um lugar de forma “dura, extrema e excessiva”, criando uma experiência intensa, imersiva e envolvente”, em “uma super saturação do som” (Henriques, 2020).Essa nova etapa procura encaminhar novamente para a prática a análise de documentários e dos filmes de sound system por meio da teoria de som, do filme-pesquisa (Vidigal, 2009; 2019;2020) e da prática-como-pesquisa (D’Aquino, Henriques e Vidigal, 2017).
Bibliografia
- D’Aquino, Brian, Henriques, Julian e Vidigal, Leonardo. “A Popular Culture Research Methodology: Sound System Outernational.” .Volume! 13, 2: 163-175, 2017
Henriques, Julian. Sonic Bodies. London: Continuum, 2011
Henriques, Julian. A Dominância Sônica e a Festa de Sound System de Reggae. Revista Eco-Pós, v. 23, n. 1, 2020
Migliorin, Cézar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015
Vidigal, Leonardo. “Algumas considerações sobre a música nos filmes de Jean Rouch”. Devires 6 (2), 46-61, 2009
Vidigal, Leonardo. “Analisando filmes sobre sound-systems: Sound Business e Babylon”. In Anais JISMA, RIO DE JANEIRO, 4ª EDIÇÃO, 2019.
Vidigal, Leonardo.”Cinema de som, faixas de frequência e arranjos audiovisuais nos filmes de sound system”. In Anais de Textos Completos do XXIII Encontro SOCINE, São Paulo: SOCINE, 2020.
Viértov, Dziga. Cine-olho: manifestos, projetos e outros escritos. Trad. Luis Felipe Labaki,. São Paulo: Editora 34, 2022