Ficha do Proponente
Proponente
- Fábio Ricardo Gioppo (UTP)
Minicurrículo
- Formado em Letras – Português/Inglês na Universidade Estadual de Ponta Grossa em 2004. Especialista em Língua Portuguesa, Linguística, Literatura: Texto e Ensino em 2007 pela UEPG. Mestre em Linguagem, Identidade e Subjetividade em 2014. Leciona Língua Portuguesa desde 2004, na rede privada até 2010, e desde então é efetivo com dedicação exclusiva no Instituto Federal do Paraná – Curitiba. Doutorando no Programa de Mestrado e Doutorado Comunicações e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná.
Ficha do Trabalho
Título
- Adaptação de “Grande sertão: veredas” para o cinema em 2022?
Formato
- Remoto
Resumo
- Este trabalho se propõe a discutir, a partir dos teóricos Dominique Maingueneau, Julia Sanders e Linda Hutcheon questões relativas a adaptações fílmicas, utilizando-se, também, a noção de ethos discursivo e pré-discursivo. Para isso, foi analisada uma entrevista de Guel Arraes e Jorge Furtado ao programa “Roda Viva” da TV Cultura em novembro de 2021. Nessa conversa, eles respondem a respeito da adaptação para o cinema que estão realizando do livro “Grande sertão: veredas” de João Guimarães Rosa.
Resumo expandido
- Na concepção de Dominique Maingueneau, o ethos está crucialmente ligado ao ato dialógico do discurso que possibilita, de antemão, haver uma contingência na fala (na escrita, no texto literário adaptado para o cinema) do outro. Ou seja, há uma bagagem discursiva que os locutores carregam em seu corpo e isso faz com que se crie, na mente dos atores locucionais, antes mesmo do ato comunicacional, uma gama de expectativas nesse encontro. A isso podemos chamar o papel do “fiador” presente na noção teórica de Maingueneau (2008). O autor afirma que:
O ethos está crucialmente ligado ao ato de enunciação, mas não se pode ignorar que o público constrói também representações de ethos do enunciador antes mesmo que ele fale. Parece necessário, então, estabelecer uma distinção entre ethos discursivo e ethos pré-discursivo. (p.15)
Como se houvesse uma potência comunicacional que (pre) ocupa as mentes dos interlocutores. Relacionando-se diretamente a esse pensamento, o qual espera antecipadamente que um possível futuro se concretize, lançamos mão, também, dos seguintes estudos teóricos de adaptação: Adaptation and Appropriation de Julia Sanders e Uma teoria da adaptação de Linda Hutcheon visando analisar as adaptações fílmicas que provêm de textos literários. “All matter is transformed into other matter”- Kate Atkinson, Not the end of the world (SANDERS, 17). Toda matéria é transformada em outra matéria. Podemos, perfeitamente, aplicar essa afirmação a adaptações fílmicas que são baseadas em textos de literatura. Não por acaso, o presente trabalho analisará justamente isso: uma adaptação fílmica do texto literário de João Guimarães Rosa “Grande sertão: veredas” para a tela do cinema. Essa adaptação está sendo realizada pelos cineastas Guel Arraes e Jorge Furtado, a qual teve suas gravações iniciadas em novembro de 2021, com previsão de lançamento do filme para o mês de novembro de 2022. Sabemos que se nosso juízo de valor estiver repousado apenas no fato de querermos que a mídia adaptada seja “fiel” ao original, nossa avaliação será pobre. Devemos nos concentrar no processo de adaptação, na metodologia, na ideologia. Sanders afirma que “as adaptações mais criativas são aquelas que colocam em questão o critério de fidelidade” (SANDERS, p. 20). Porém, O leitor de Guimarães Rosa, logicamente, estará contando com uma adaptação que dialogue (o mais intensamente possível) com a obra original, visto que já possui um repertório em mente, e a partir dele fruirá ainda mais da adaptação. Linda Hutcheon afirma que:
Lidar com adaptações como adaptações é tratá-las como trabalho inerentemente palimpsésticos, constantemente assombrados pelos textos adaptados. Quando nós denominamos uma obra de adaptação, nós estamos nos referindo explicitamente ao seu relacionamento (evidente) com outras obras. (HUTCHEON, p. 27)
Está claro que uma obra, ao ser adaptada, contará com alterações. Pois só pelo fato de mudar de mídia, isso já constitui uma transformação. E é justamente com base nesse raciocínio (ethos discursivo e adaptação), que o presente trabalho – o qual faz parte de um dos capítulos de minha tese de doutorado, que está em andamento no presente momento, a qual pesquisará adaptação fílmica na obra de Rosa – objetiva unir três pensamentos: o tema da SOCINE 2022: INVENTAR FUTUROS, a noção de ethos discursivo e adaptação. Para isso, aliado à bagagem que temos da leitura do livro de Guimarães Rosa, analisaram-se as perguntas realizadas aos cineastas Guel Arraes e Jorge Furtado durante uma entrevista na TV Cultura, em novembro de 2021, e as respostas que eles deram a questões relacionadas à adaptação do livro “Grande sertão: veredas” de João Guimarães Rosa para as telas do cinema e da televisão. O que se pode esperar dessa criação artística proposta pelos cineastas ao se basearem na obra desse escritor brasileiro que sabia inventar o futuro? Não é à toa que sua obra, de 1956, ainda é atual em 2022.
Bibliografia
- HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. (trad.) André Cechinel. Florianópolis: UFSC, 2011
MAINGUENEAU, Dominique. A propósito do ethos In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (Org.). Ethos discursivo São Paulo: Contexto, 2008c. p. 11-29.
ROSA, JOÃO GUIMARÃES. Grande sertão: veredas. 1 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
SANDERS, Julie. Adaptation and Appropriation. London, New York: Routledge: 2007.