Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Gilmar Adolfo Hermes (UFPel)

Minicurrículo

    Gilmar Hermes é professor do Curso de Bacharelado em Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. Graduado em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos (1987), mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996) e doutor pelo Programa de Pós Graduação em Ciências da Comunicação, na Unisinos (2005). Suas pesquisas acadêmicas tratam de temas como jornalismo cultural, cinema, artes visuais e semiótica.

Ficha do Trabalho

Título

    Rosa Azul de Novalis: Das telas para a página do jornal

Formato

    Presencial

Resumo

    Um filme audacioso com a temática LGBTQIA+ do ano de 2019 foi Rosa Azul de Novalis. No texto “Gustavo Vinagre e a misteriosa rosa azul”, o crítico Luiz Carlos Merten trata desta produção no jornal O Estado de São Paulo, desafiando o ambiente de repressão vivido hoje no País. Este artigo destaca os signos usados neste texto e observa-se como este trabalho jornalístico faz parte do dispositivo cinematográfico, tratando dos aspectos que constituem esta narrativa fílmica e sua produção.

Resumo expandido

    Um dos filmes mais audaciosos com temática LGBTQIA+ do ano de 2019 foi Rosa Azul de Novalis com codireção de Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro. Pelo fato de haver cenas de sexo explícitas e uma linguagem documental ambígua, entre a técnica de entrevista e a ficção, é um filme que pode ser difícil de abordar jornalisticamente e há necessidade de uma retórica cuidadosa para fazer justiça à sua importância. No texto “Gustavo Vinagre e a misteriosa rosa azul”, o crítico Luiz Carlos Merten dedica um espaço significativo à produção no jornal O Estado de São Paulo, desafiando o novo ambiente de repressão vivido no País. Leva-se em conta o momento de maior conservadorismo vivido na sociedade brasileira, representado pelos episódios de censura de filmes, ao longo da história nacional e, simbolicamente, pelo fechamento recente da exposição de artes visuais Queermuseu em Porto Alegre, em setembro de 2017. Sabe-se que o fantasma da censura historicamente cerca a produção cinematográfica brasileira, através da ação de grupos conservadores, e que está presente no plano internacional através de legislações em outros países, como aconteceu nos Estados Unidos com o Código Hays, de 1930 a 1968.
    Com o propósito de divulgar a produção, como é próprio das reportagens na área de cinema, a redação do crítico Merten constitui-se através de vários signos que remetem a diversos repertórios cinematográficos. E, através de uma análise semiótica, destacando os signos usados para a elaboração deste texto, pode-se observar como este trabalho jornalístico faz parte do dispositivo cinematográfico. A instituição cinematográfica estabelece formas de falar sobre os filmes.
    Uma constante nos textos jornalísticos de Merten são as referências aos festivais de cinema nacionais e internacionais. São de fato instâncias de reconhecimento que aparecem com frequência nos textos jornalísticos e que, em boa parte, contribuíram para que esta produção tivesse visibilidade. Neste texto, isto aparece pela menção aos festivais na primeira frase do texto e à referência aos “prêmios” recebidos nos destaques gráficos do texto. O texto termina com o posicionamento positivo expresso pela emblemática revista francesa Cahiers du Cinéma.
    A técnica da entrevista é uma característica dos textos jornalísticos e as falas dos cineastas contribuem para a elucidação do filme e sua recepção pelo público e crítica. “Violência” e “Sexo” são duas palavras que aparecem no depoimento do diretor Gustavo Vinagre e que remetem a dois aspectos presentes na história do cinema, levando a imaginar outros signos ausentes no texto, mas que levam a refletir sobre qual é a significação deste filme em relação à história do cinema.
    Marcelo Diorio que protagoniza o filme falando de si, do seu corpo e das suas relações afetivas é, ao mesmo tempo, ator e personagem. O texto de Merten destaca de maneira significativa que se trata de um “documentário, mas possui cenas encenadas, portanto nas bordas (da ficção)”. Este é o ponto que possivelmente causa maior incômodo em relação ao filme, que não se ajusta a delimitações simples.
    O texto jornalístico traz informações sobre o ator e, ao mesmo tempo, sobre o personagem do filme. Quando trata dos diretores, consegue um maior afastamento da obra, apresentando a produção como parte de um processo criativo. A complexidade das referências literárias que a personagem do filme traz em seu discurso, relacionadas ao período do Romantismo, é contemplada ao mencionar as questões “estéticas, metafísicas, até teológicas” que o filme põe em foco. O poeta Novalis, que Marcelo Diorio acredita ter sido em outra encarnação, o romantismo, o naturalismo são signos que ajudam a compreender o universo do filme. Também a dicotomia de ser ator, tendo como personagem a si mesmo, é um ponto que o texto consegue contemplar, mesmo com o espaço reduzido da edição.

Bibliografia

    BAMBA, Mahomed. A recepção cinematográfica. Salvador: Edufba, 2013.
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    MERTEN, Luiz Carlos. Gustavo Vinagre e a misteriosa rosa azul. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C4, 24 dez. 2019.
    MORENO, Antonio; EITERER, Aleques (org.). O Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2014 (catálogo de exposição).
    RAMOS, Fernão. (Org.). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
    SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos. São Paulo: Pioneira, 2000.
    STEFFEN, Lufe. O cinema que ousa dizer seu nome. São Paulo: Giostri, 2016.