Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Loureiro Severien (UFPE)
Minicurrículo
- Pedro Severien é realizador audiovisual, professor e pesquisador. Seus filmes circularam em dezenas de festivais nacionais e internacionais. Possui mestrado em Produção de Cinema e Televisão (University of Bristol) e Comunicação (UFPE). É organizador e coautor do livro de ensaios Quando as luzes artificiais se apagam. Atualmente, desenvolve pesquisa de doutorado no PPGCOM/UFPE e finaliza seu segundo longa-metragem, Fim de semana no paraíso selvagem.
Ficha do Trabalho
Título
- Fim de semana no paraíso selvagem: olhar com o tempo
Seminário
- Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Uma investigação sobre os processos criativos e a relação com a urgência do tempo histórico-político na feitura do roteiro de Fim de semana no paraíso selvagem, longa-metragem de ficção escrito por mim em parceria com outros quatro corroteiristas. Ao analisar as transformações operadas nessa narrativa, procuro dar a ver um entrelaçamento entre um perspectivismo autoral e possibilidades de olhar com (potencial ajuntamento discursivo) ao invés de olhar para (paradigma da representação).
Resumo expandido
- Como o cinema responde às demandas emancipatórias de seu tempo? De que forma a temporalidade impacta uma obra que deseja intervir na realidade social? É possível que um filme opere uma transformação no mundo? Onde isso se dá? Seria no imaginário coletivo ou em pequenos enlaces pessoais de espectadores atomizados? Todas essas perguntas são extremamente difíceis de responder de forma material, ou sistematicamente verificáveis através de métodos empíricos. Talvez, esse seja um dos motivos pelos quais o cinema abertamente político ou de intervenção social como o conceituou Nicole Brenez (2017), tenha sido permanentemente contestado enquanto instância legitimada do circuito das artes cinematográficas.
Se por um lado o mercado da arte tem dificuldades profundas em lidar com filmes que evidenciam suas perguntas ao público, realizar esse gesto de questionamento das próprias premissas parece abrir um espiral para qualquer filme engajado no presente. Mas então, quem faz as perguntas? Seriam os realizadores em seus processos criativos? Ou seria a sociedade em seus processos coletivos?
A partir desse novo conjunto de questões, tento apurar as perguntas que motivam esta pesquisa sobre o cinema ficcional engajado no tempo presente e no contexto do real. Independente dos efeitos potenciais ou verificáveis dos filmes engajados na luta emancipatória, que forças do presente operam sobre os processos de realização audiovisual? Parece que aqui há um vetor mais palpável para um debate sobre processos criativos em roteiros audiovisuais expressamente posicionados: a sociedade questionando os filmes. Mas como se recebem esses questionamentos? Além disso, como definir filmes engajados na luta emancipatória? E que espaço é esse de contato entre o cinema e o mundo? Esse outro feixe de questões tem o potencial de nos lançar novamente em um campo etéreo.
Como forma de aterrar essa investigação, utilizo o processo de criação e escrita do roteiro de Fim de semana no paraíso selvagem (2022), longa-metragem dirigido por mim e que contou com mais quatro corroteiristas. Ao analisar as transformações operadas no roteiro, do primeiro tratamento ao roteiro usado nas filmagens, procuro dar a ver um entrelaçamento entre um perspectivismo autoral (que corpos e sujeitos estão no antecampo da imagem e de que maneiras isso é relevante) e como operacionalizar uma metodologia de olhar com (potencial ajuntamento discursivo) ao invés de olhar para (paradigma da representação).
Um dos operadores conceituais desse processo é a noção de tragédia (WILLIAMS, 2002). Tanto em seu sentido narrativo-dramatúrgico, quanto em sua acepção mais popular, tragédia como termo onipresente midiaticamente e como forma de entender o mundo. Para poder observar estruturas narrativas no cinema brasileiro e mundial em transições entre expressões modernas e contemporâneas, o conceito de tragédia tem a capacidade crítica de oferecer um prisma comparativo? Quais as possibilidades associadas ao campo ético, estético e também político em sua área de abrangência?
Seria o que a pesquisadora e artista Anti Ribeiro denomina como ficção como arma de guerra (2021). A que guerra ela se refere? A uma guerra cultural que parece ter se evidenciado, ou pelo menos tomado uma nova expressão desde uma guinada global promovida pelo neoliberalismo que dá origem a uma nova extrema direita – neofascista, eurocêntrica, fundamentalista cristã, negacionista, racista e bélica. O roteiro de Fim de semana no paraíso selvagem teve sua primeira versão escrita em 2015 e as filmagens foram realizadas em 2021 (durante a pandemia de Covid-19, aspecto de impacto direto na produção). Recorrendo à crítica genética (SALLES, 2016), proponho uma genealogia das transformações no roteiro em relação com os acontecimentos desse período histórico. Nesse sentido, o cinema funciona mais como ferramenta para dar a ver contingências (ética da probabilidade)? Ou imagina ativamente horizontes de transformação (ética de possibilidades)?
Bibliografia
- BRENEZ, Nicole. Contra-ataques. In: DIDI-HUBERMAN, Georges (Org.). Levantes. Edições Sesc: São Paulo, 2017.
RIBEIRO, Anti. Ficção como arma de guerra. Curso. Recife, 2021: https://www.youtube.com/watch?v=3IAryVxSgHs
SALLES, Cecília Almeida. A complexidade dos processos de criação em equipe: Uma reflexão sobre a produção audiovisual. Universidade de São Paulo, 2016. [Relatório de Pós-doutorado].
WILLIAMS, Raymond. Tragédia moderna. Cosac & Naify: São Paulo, 2002.