Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriel Costa Correia (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Assistente na Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) .

Ficha do Trabalho

Título

    Dario Argento: a mise-en-scène do absurdo na “trilogia dos animais”

Formato

    Remoto

Resumo

    Esta apresentação irá discutir alguns aspectos da obra do cineasta italiano Dario Argento, explorando em primeiro plano sua relação com o filone giallo em seus três primeiros longas-metragens (a “trilogia dos animais”), procurando estabelecer relações entre mise-en-scène, gênero cinematográfico e o Absurdo camusiano.

Resumo expandido

    Pode-se defender a hipótese de que o desenvolvimento do giallo enquanto gênero cinematográfico corre em paralelo com a própria carreira de Argento enquanto realizador. Por isso, entendemos que para melhor compreender a obra de Argento é preciso investigar sua relação com o gênero cinematográfico – e com o giallo, em especial – e no modo como o realizador conduz a negociação entre obra, público e gênero. Não é exagero afirmar que a popularidade desse gênero (ou filone, noção italiana que funciona como problematizador, uma vez que oferece uma forma de olhar o gênero cinematográfico que ao mesmo tempo contempla e complexifica as questões sobre gênero, subgênero e ciclos) se deve muito ao grande sucesso comercial e de crítica que os quatro primeiros filmes de Dario Argento obtiveram na primeira metade da década de 1970, alavancando o nome do diretor como um dos maiores expoentes do cinema italiano de gênero.
    Giallo é uma palavra italiana que designa a cor amarela e faz referência à cor predominante nos livros de crime e mistério que eram populares na Itália na primeira metade do século XX. No cinema, as bases do subgênero foram codificadas em dois filmes do também italiano Mario Bava, La Ragazza che Sapeva Troppo (1963) e Sei Donne per L’Assassino (1964), mas foi com Dario Argento em seus três primeiros longas, popularmente conhecidos como a “trilogia dos animais” (L’Ucello dalle Piume di Cristallo (1970), Il Gatto a Nove Code (1971) e 4 Mosche di Velluto Grigio (1971)) que esse filone se consolidou como sucesso de crítica e público na Itália, além de influenciar outros realizadores de outros países (é notável, por exemplo, a semelhança entre aspectos do giallo e subgêneros surgidos posteriormente como o slasher norte-americano).
    Um elemento narrativo central nos três primeiros filmes de Argento é o que aqui chamo de “investigadores diletantes”, alguém que investiga (seja tomando a iniciativa ou auxiliando algum investigador profissional) sem ser detetive de fato. Tais personagens personificam o despertar para a consciência que antecede a constituição daquele que Camus nomeia de homem absurdo, mais que um ser, um estado ideal no qual determinado ser humano se encontra em constante estado de vigília frente a hostilidade do mundo e negação ao absurdo da existência. Em ‘O mito de sísifo’, Camus irá argumentar que uma vez que a morte se impõe como um fato irremediável e inexplicável, resta a escolha entre o salto (a fuga, o suicídio físico, intelectual ou político) e a ação, a luta caracterizada pela negação reiterada e resiliente ao absurdo, uma vez que, para o autor, o absurdo só faz sentido na medida em que não seja admitido. Dessa maneira, nas palavras de Camus, “um homem consciente do absurdo está ligado a ele para sempre” (pp. 42). É aqui nesse lugar do absurdo onde se encontram e agem os personagens dos filmes de Dario Argento e onde sua mise-èn-scene constrói enquanto explora os seus mundos possíveis.
    Em seus filmes iniciais é perceptível o esboço de um projeto artístico na condução de uma carreira como realizador de gialli e filmes de horror. A hipótese aqui defendida é o conceito de mise-en-scène do absurdo como elemento central na obra de Argento: entendendo o conceito como uma abordagem híbrida entre os cinemas chamados de maneirista e de fluxo com traços de autoria que podem ser percebidos por toda a filmografia de Argento, em especial em seus gialli. Argento expande e explode os limites do gênero enquanto retrabalha sua própria obra e a funde a outros gêneros, obras e estilos enquanto investe na representação gráfica da violação e degradação dos corpos enquanto uma arte bela. O absurdo aqui é o camusiano, a escolha entre a fuga e a negação da falta de sentido que a imposição da morte enquanto fato irremediável coloca ao sentido da vida.

Bibliografia

    CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. Rio de Janeiro: Editora Record, 2020.
    CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2020.
    CARROL, Noel. A Filosofia do Horror ou Paradoxos do Coração. Campinas: Papirus, 1999.
    KOVEN, Mikel J.. La Dolce Morte: Vernacular Cinema and the Italian Giallo Film. Lanham, MD: Scarecrow Press, 2006.
    OLIVEIRA JR., Luiz Carlos. A mise em scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2020.