Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo dos Santos Pinheiro (UFRJ)
Minicurrículo
- Bacharel em Cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui experiência profissional em direção, produção e roteiro para cinema e tv, tendo participado de projetos de longa e curta-metragem premiados no Brasil e no exterior. É diretor e roteirista do longa-metragem “o orvalho e o rio” e produtor executivo do documentário “Apenas mais um dia”, aprovado no 9º Edital de Apoio ao Audiovisual Armando Carreirão
Ficha do Trabalho
Título
- Jingle Jangle: o arquivo-fantasma em Os famosos e os Duendes da Morte
Seminário
- Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir de duas sequências do filme Os Famosos e os Duendes da Morte de Esmir Filho o trabalho busca analisar como são utilizadas as imagens deixadas por Jingle Jangle em seu blog pessoal e como elas contribuem para a narrativa ao cruzarem-se com os planos subjetivos do protagonista quando disparadas em relação a figura físico-simbólica da ponte da cidade onde o filme se passa, criando assim uma atmosfera melancólica, com base nas apostas metodológicas de Aby Warburg.
Resumo expandido
- O objetivo deste trabalho, parte de uma pesquisa de dissertação de mestrado em andamento, é analisar, a partir de duas sequências do filme Os Famosos e os Duendes da Morte de Esmir Filho, como são utilizadas as imagens deixadas por Jingle Jangle (personagem do filme) em seu blog pessoal e como elas contribuem para a narrativa. O trabalho aposta que essas imagens, em cruzamento com o plano subjetivo do personagem protagonista, quando disparadas em relação a figura físico-simbólica da ponte da cidade onde o filme se passa, criam uma atmosfera melancólica. A partir das sequências escolhidas busca-se identificar uma possível pathosformel – conceito empregado por Aby Warburg para “testemunhos de estados de espírito transformados em imagens”, nas quais “as gerações posteriores … procuravam os traços permanentes das comoções mais profundas da existência humana” (BING apud. GINZBURG, 1990, p. 45) – de uma estética da melancolia, transbordando a própria narrativa do filme. Dessa maneira, o trabalho investiga como o cinema pode produzir imagens que podemos ler em uma chave de inteligibilidade chamada aqui de melancolia ou estética da melancolia, nos permitindo conhecer o mundo / ou afecções de mundo através da obra. Arrisca-se assim, pensar a melancolia como dimensão estética e epistemológica, pensando no que entendemos culturalmente, dentro da experiência e da memória social, como melancolia e de que forma isso se articula no campo das imagens, em especial o cinema e as imagens em movimento.
A hipótese que o trabalho propõe aqui é que o filme Os Famosos e os Duendes da Morte apresenta elementos imagéticos e sonoros na montagem dessas sequências que, dialogando com a cultura, a história da arte, das imagens e da humanidade, dentro de uma chave de inteligibilidade melancólica não convencional e esvaziada, escapa à estereotipia da depressão e, de maneira potente e revigorante, contribui para o desenvolvimento narrativo-estético da filmografia nacional brasileira. Deriva desta suposição a possibilidade de uma nova formação, individual e social, que produz agenciamentos a partir da catástrofe e produz uma leitura antiutópica da modernidade para, dessa maneira, elaborar um diagnóstico que não seja totalizante ou determinista da experiência melancólica do cinema.
A metodologia de trabalho que proponho é o de uma “ciência sem nome”, em uma aproximação ao que Agamben (2017) chama o método warburguiano, descrevendo seus três planos principais: “o primeiro é o da iconografia e da história da arte, o segundo é o da história da cultura, o terceiro e mais amplo é, precisamente, o da “ciência sem nome”, orientada para um diagnóstico do homem ocidental através de seus fantasmas”. (AGAMBEN, p.125). A partir desta ciência sem nome, pensar leituras e significações das imagens com uma base interdisciplinar a partir da história da cultura e a experiência e memória social. Para isso, pretende-se partir da análise técnica dos elementos estético-narrativos constituintes das sequências escolhidas com foco na montagem e na composição da imagem (enquadramento, profundidade de campo, movimento de câmera, mise-en-scene, direção de arte, design de produção, design de locação), passando pelos três níveis de análise propostos por Warburg, o da iconografia e história da arte, o da história da cultura e chegando ao diagnóstico humano, partindo da experiência estética do cinema.
Dessa maneira, a desconstrução e segmentação dos elementos citados e a análise iconográfica e multissemiótica da construção dos planos, em toda sua complexidade de imagem e som permite a intersecção e o diálogo com outras obras, permitindo uma leitura ampla da pathosformel da estética da melancolia a partir do filme em questão. Ensaia-se, portanto, um “anti”diagnóstico (ou seja, entendendo-se aqui que o diagnóstico corrente seja o da patologização e da impossibilidade da tristeza, tirando das pessoas o direito à melancolia) sobre as formas do desamparo e/ou do trágico na contemporaneidade.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. “Aby Warburg e a ciência sem nome”. In: AGAMBEN, Giorgio. “A potência do pensamento: ensaios e conferências”. Tradução de António Guerreiro. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017. pp. 111-132.
DIDI-HUBERMAN, Georges. “A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg”. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto; Museu de Arte do Rio, 2013.
GINZBURG, Carlo. “De A. Warburg a E. H. Gombrich. Notas sobre um problema de método”. In: Mitos, emblemas, sinais. Morfologia e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1990, pp. 41-93.
OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE. Direção: Esmir Filho. Produção: Maria Ionescu. Brasil: Dezenove Som e Imagens, 2009. DVD.
WARBURG, Aby. “Histórias De Fantasma Para Gente Grande. Escritos, esboços e conferências”. Tradução de Lenin Bicudo Bárbara. São Paulo: Cia das Letras, 2010.