Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Bruno F. Duarte (UFRJ)

Minicurrículo

    Bruno F. Duarte é mestre em comunicação e cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ. Graduou-se em comunicação social, com habilitação em cinema, pela PUC-Rio, em 2011. Sua pesquisa atual se debruça sobre a obra do cineasta Marlon Riggs (1957-1994) para pensar estéticas do cinema de não-ficção atravessadas por questões de raça, gênero e sexualidade na diáspora negra.

Ficha do Trabalho

Título

    Afro-fabulação e bixaria negra no documentário de Marlon Riggs

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho aproxima a análise do documentário “Línguas Desatadas” (Tongues Untied, Marlon Riggs, 1989) ao conceito de “afro-fabulação” desenvolvido pelo historiador, crítico cultural e estudioso da performance Tavia Nyong’o em “Afro-fabulations: The Queer Drama of Black Life” (2018). A dimensão coletiva, encantada e extemporânea do trabalho de produção de imagens por e sobre homens negros gays é apresentada enquanto um ato de “bixaria negra”.

Resumo expandido

    Neste trabalho aproximo o conceito de afro-fabulação desenvolvido pelo historiador, crítico cultural e estudioso da performance Tavia Nyong’o em seu livro “Afro-fabulations: The Queer Drama of Black Life”, publicado em 2018, e desdobramentos da análise do documentário “Línguas Desatadas” (Marlon Riggs, 1989) enquanto um possível ato de afro-fabulação. Em “Afro-fabulations”, Nyong’o desenvolve os conceitos de fabulação e função fabuladora elaborados nas obras dos filósofos franceses Henri Bergson e Gilles Deleuze, respectivamente, e os atualiza ao aproximá-los de teorias tais como a de feministas negras, pós-humanistas, decoloniais, dos estudos queer e da queer of color critique. O autor especula sobre possibilidades de mobilização do termo e analisa o que chama de “atos de afro-fabulação” – sejam obras de artes visuais, literárias, performances, episódios cotidianos ou momentos históricos – enquanto ele mesmo fabula o novo conceito através de um método transdisciplinar de investigação.

    Em “Exceeding the Frame: Documentary Filmmaker Marlon T. Riggs as Cultural Agitator”, tese de Ph.D defendida na Universidade Emory, em 2009, por Rhea Combs, diretora de assuntos curatoriais da National Portrait Gallery, a intelectual traça a biografia do cineasta e analisa toda sua filmografia, para além das imagens, mas também com um olhar para a recepção e impacto de seus filmes nos EUA. Especificamente no capítulo em que analisa Línguas Desatadas, posiciona o documentário como o trabalho mais híbrido e ensaístico de Riggs, e também como um processo de “desfazimento do silêncio e da vergonha” condicionados a corpos e subjetividades de homens negros gays.

    Quem é este eu forjado no final da década de 1980, nos EUA, durante os primeiros anos da pandemia de HIV/aids, na emergência de movimentos que identificamos hoje como de pessoas LGBTQIA+ em grupos políticos atuantes na esfera pública através das artes e quais elementos são utilizados para forjar subjetividades que experimentam uma urgência de comunicação a partir da aproximação com a finitude instalada pelo cenário de mortes em decorrência da aids? Como Marlon Riggs se torna uma bixa preta através de Línguas Desatadas? Como esta subjetividade é forjada pelo coletivo que participou do filme? Estas são algumas das questões que saltam na análise da obra e da trajetória do diretor.

    É central também a noção de irreversibilidade do tempo, que Riggs tem contato ao se deparar com seu diagnóstico positivo para HIV durante os anos 1980 e que imprimi com o som de ponteiros de relógio na trilha do filme, que o move em direção a produção de um documento sobre a própria experiência coletiva de corpos negros e dissidentes de gênero e sexualidade do nos EUA. Poderíamos considerar o filme “Línguas Desatadas” um ato de afro-fabulação, um documentário inserido no contexto de uma “corrida contra o tempo”? Ou seria a própria condição de existência de grupos racializados que encontram na “irreversibilidade do fluxo do tempo” sua “paradoxal fonte de liberdade”?. Estas são as questões principais a serem discutidas neste trabalho.

Bibliografia

    BARROS, Laan Mendes de; FREITAS, Kênia. “Experiência estética, alteridade e fabulação no cinema negro”. Revista ECO-Pós, [S.l.], v. 21, n. 3, p. 97-121, dez. 2018.

    COMBS, Rhea L. Exceeding the Frame: Documentary Filmmaker Marlon T. Riggs as Cultural Agitator. Atlanta: Emory University, 2009.

    LORDE, Audre. “A transformação do silêncio em linguagem e ação”. Irmã outsider; tradução: Stephanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

    NYONG’O, Tavia. Afro-fabulations: the queer drama of black life. New York University Press, 2018.

    SILVA, D. F. A Dívida Impagável; tradução: Amílcar Packer e Pedro Daher. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.